Olá.

Há cinco grandes serviços internacionais de streaming a operar em Portugal (não levem a mal os menos representados nos números não oficiais e nas conversas interpessoais, mas é o que dá não haver número oficiais). Um deles vai inaugurar a modalidade "mensalidade mais barata com publicidade pelo meio" daqui a menos de 20 dias. Os outros, para quem adere a este tipo de consumo televisivo, ainda não o farão. É uma questão de tempo. Mas todos, como uma espécie de grande canal difuso, obrigam a fazer contas à vida perante o manancial de opções. Foi o que aconteceu esta semana.

Inspeccionando a possibilidade de cancelar uma assinatura de um destes serviços, há todo um menu de opções que tentam (claro) manter o cliente por perto. Mude para a modalidade mais barata. Faça uma pausa de só um mês. E melhor ainda, "volte no espaço de dez meses e as suas preferências e definições estarão à sua espera". O que nos leva ao fenómeno da "ressubscrição", que combate no ringue das palavras chatas do mundo do streaming com o termo "churn".

A saber: a "churn rate" é o que qualquer negócio baseado em assinaturas mais teme/monitoriza, representando a taxa de cancelamento por parte dos clientes. No caso do streaming, são os espectadores desistentes. Mas agora, segundo um relatório da consultora Antenna, especializada em coligir e analisar dados na "economia das subscrições", há também a tendência emergente de "ressubscrição" à qual as plataformas devem estar atentas. Os espectadores já estão, e muito à frente.

Se por um lado há quem se esqueça de cancelar uma assinatura de qualquer coisa e por isso continue a gastar dinheiro desnecessariamente (aqueles períodos de teste gratuito, tão apelativos e tão inúteis sem um alerta no telemóvel dias antes de findar o prazo para dar o golpe de misericórdia), por outro há cada vez mais ninjas das subscrições. Cancelar um mês, voltar dois meses depois, saltar para a concorrente, aproveitar aquela série, experimentar outra, cancelar, cancelar.

O ritmo de crescimento das assinaturas no streaming abrandou, é um facto. Demasiadas opções, crise inflacionista, limites naturais do mercado. Agora "a ressubscrição é uma dinâmica cada vez mais importante", diz a Antenna, num relatório para o qual a minha colega Natalia Marcos, do diário espanhol El País, chamou a atenção há dias, na sua newsletter de televisão. No ano passado, 30% dos "novos" clientes do streaming pago foram ressubscrições, pessoas que já tinham tido o serviço e o tinham cancelado no último ano. Quase um quarto dos assinantes perdidos são ganhos de volta em cerca de três meses e mais de 40% voltam no espaço de 12 meses.

Quando se estreia a última temporada de Stranger Things, ou já está completa aquela série Star Wars, ou quando Nicole Kidman aparece numa série num serviço que, de resto, pouco importa, eles voltam. E depois saem. Quem mais beneficiou com estas ressubscrições foi a Apple TV+ (30,1% de clientes voltaram depois de terem desistido), e não pode ser coincidência que este é um serviço que valoriza a qualidade e não a quantidade. Há meses em que não há grandes novidades na Apple TV+ e de repente aparece Bad Sisters ou Black Bird e o espectador sente-se tentado. Pode suceder com Girls State, o documentário que esta sexta-feira se estreia na plataforma.

Quem menos ganhou com as ressubscrições foi a Netflix (26%). No ano do grande combate à partilha de contas, o gigante teve sim muitos assinantes que se estreavam "oficialmente" na plataforma.

Portanto, se está a gerir o seu portefólio de assinaturas, é apostar na atenção aos prazos, ter a elasticidade de saltitar de ícone em ícone e, sobretudo, estar atento à programação. Para isso, cá estamos nós.

O que é que anda a ver

Jonathan Nolan, co-autor de Interstellar e Westworld e da nova série Fallout

"Não tenho muito tempo para ver coisas, mas estou a ver a nova série nova dos meus grandes amigos Dan [Weiss] e David [Benioff], O Problema dos 3 Corpos. Gostei muito, adoro aqueles livros e é óptimo ver o que eles fizeram com eles."

Netflix

Sexta-feira, 5 de Abril

A Grande Entrevista — Filme que recupera os bastidores da entrevista do príncipe André de Inglaterra no jornal Newsnight da BBC sobre o seu alegado envolvimento no escândalo Jeffrey Epstein. É um filme de mulheres e obstinação, realizado por Philip Martin e com Rufus Sewell, Keeley Hawes, Billie Piper e Gillian Anderson, entre outros.

A Rede Antissocial: Os Memes da Desordem — Documentário típico da Netflix sobre a desinformação na Internet e que toca desde o QAnon ao ataque ao Capitólio dos EUA. O foco está num grupo de adolescentes que criou uma comunidade online e que tentou minar a percepção da realidade política do país e do mundo.

Terça-feira, 9 de Abril

Neal Brennan: Crazy Good — Especial de stand-up do homem dos quadrados, desta feita sob o tema da sua boa disposição (não é costume) e tocando outros como a criptomoeda, milionários, saúde mental e relações.

Quarta-feira, 10 de Abril

Antracite - Minissérie francesa que parte do suicídio em massa de um culto numa pequena aldeia alpina em 1994. Trinta anos depois, uma mulher é morta com os rituais do culto e encontra-se um suspeito, um jovem delinquente recém-chegado. Uma especialista em tecnologia decide ajudá-lo mas há forças por trás da sua associação aparentemente espontânea. Seis episódios.

O Sequestro do voo 601 — Em 1973, dois sequestradores encapuzados desviaram um avião e exigiram ao governo colombiano a libertação de 50 presos políticos e um avultado resgate. Série.

O Que Fez a Jennifer —Um crime violento abalou uma pacata localidade canadiana: uma invasão doméstica e uma jovem traumatizada fica como a única testemunha. Porque foram atacados? Documentário de Jenny Popplewell com imagens de interrogatórios policiais e depoimentos dos envolvidos.

Quinta-feira, 11 de Abril

Amores e Rebeldia —  Talvez reconheça mais facilmente este título se formos pelo original em inglês: Heart Break High. É a segunda temporada da série que começava com uma lista escondida das ligações amorosas ou sexuais entre alunos de uma escola. Oito episódios.

A Noite do Solstício de Verão — Filme com Pernilla August em que uma família se reúne para uma tradicional festa do solstício de Verão na Suécia, mas não sendo Midsommar, há segredos que começam a brotar e a estragar a reunião a todos.

Baby Reindeer — Richard Gadd estreou uma peça, na verdade um monólogo no Festival Fringe de Edimburgo em 2019 e o seu sucesso deu azo a esta série sobre um comediante que tem um gesto espontâneo de bondade para com uma mulher muito vulnerável e tudo dá para o torto. Oito episódios.

HBO Max

Sábado, 6 de Abril

Viver Mal / Mal Viver — O díptico de João Canijo passado num hotel junto à costa portuguesa, dois filmes sobre o que se passa dentro dessas paredes. A decadência de um, a decadência das relações, um leque de actores de primeira água.

Metalocalypse: Army of the Doomstar — Esta banda de death metal influencia de tal forma os seus fãs que eles fazem tudo o que está nas suas letras. Este filme foca-se no desafio de compor a música que vai salvar o mundo e parar o… Metalocalypse.

Domingo, 7 de Abril

Alex Edelman: Just For Us – O comediante recebeu ameaças antissemitas online e vai ter com quem as lançou: participa numa reunião de Nacionalistas Brancos (disfarçado). O que acontece a seguir constitui a espinha dorsal das histórias que vai contar neste especial.

Alice – O filme de Marco Martins protagonizado por Nuno Lopes e Beatriz Batarda chega à HBO Max para recordar o ordálio do desaparecimento da sua filha, Alice, e a obsessão em torno de a encontrar nos últimos sítios que ela percorreu.

Quarta-feira, 10 de Abril

Brandy Hellville & the Cult of Fast Fashion — Documentário sobre a marca-fenómeno Brandy Melville que vende um único tamanho (spoiler, não é para todos os corpos) e que mostra o lado nada soalheiro das suas práticas laborais e ambientais.

Apple TV+

Sexta-feira, 5 de Abril

Sugar — Nova série protagonizada por Colin Farrell que adopta os tons do noir para falar de um detective que investiga o desaparecimento da neta de um famoso produtor de cinema. Descobre segredos da família, claro. São oito episódios, os primeiros três dos quais com estreia esta sexta-feira; os seguintes gotejam semanalmente.

Girls State — É um outro lado do mundo, este o das raparigas adolescentes. Quando se cruzam com os rapazes que, como elas, durante uma semana participam num programa de formação para o acesso à política nos EUA, eles fazem olhares marotos e flectem os músculos. Elas riem-se, porque… rapazes. Depois do premiado documentário Boys State (2020), Girls State é o regresso de Amanda McBaine e Jesse Moss a este universo, desta feita da perspectiva das mulheres de amanhã e quatro anos depois de muito vitríolo na América. Altamente recomendado.

Globoplay

Segunda-feira, 8 de Abril

Os Evangélicos — Série documental sobre o Brasil de hoje e a influência do cristianismo evangélico, cujos membros estão a caminho de se tornarem o maior grupo religioso do país. Criada e dirigida por Alberto Renault, mergulha nas vidas dos crentes.

Kailani Jabour na Indonésia — O surfista Kailani Jabour vai a picos remotos da Indonésia para surfar e ao mesmo tempo fazer uma espécie de mergulho a cultura local.

O Espigão - Mais uma novela, desta feita sobre um golpista que consegue cativar uma pobre menina rica rebelde e que acabou a controlar a empresa do pai dela.

Quinta-feira, 11 de Abril

Justiça 2 — Série que junta quatro histórias passadas numa mesma região. Com Juan Paiva, Murilo Benício, Geíza e Milena, todos presos no mesmo dia e libertados sete anos mais tarde.

Amazon Prime Video

Sexta-feira, 5 de Abril

Fallout — O mundo é devastado por explosões nucleares. Duzentos anos depois, o que resta? Humanos esperançosos e humanos belicosos, claro está. Um dos mais bem sucedidos videojogos de sempre ganha versão série pelas mãos de Jonathan Nolan e Lisa Joy (Westworld), que curiosamente voltam a ter como personagem central uma jovem inocente mas cheia de recursos e um ambiente meio western.
 
How To Date Billy Walsh — Amelia e Archie são amigos de infância e Archie sempre esteve apaixonado por Amélia, mas em segredo. Porém, quando está prestes a confessar o seu amor, Amelia apaixona-se por um novo aluno da escola, o titular Billy Walsh.

Sábado, 6 de Abril

Freelance - Filme sobre um ex-agente das forças especiais que se torna segurança de uma jornalista enquanto ela entrevista um ditador. Um golpe militar interrompe a entrevista, o que é uma maçada, e têm de fugir — para a selva, outra pepineira.

Terça-feira, 9 de Abril

Missão de Resgate — Um piloto fica preso numa zona de guerra depois de aterragem forçada de um avião comercial durante uma tempestade.

SkyShowtime

Sexta-feira, 5 de Abril

Star Trek: Discovery — Quinta e última temporada da série deste famoso universo, com novos episódios todas as semanas. A U.S.S. Discovery terá uma derradeira aventura épica para encontrar um poder antigo, escondido deliberadamente durante séculos.

Boat Story — Série de seis episódios em que dois desconhecidos sem dinheiro, Janet (Daisy Haggard) e Samuel (Paterson Joseph), encontram cocaína num barco naufragado, concordam vendê-la e dividir o dinheiro. Mas vêem-se envolvidos com a polícia, assassinos e um gangster conhecido como "O Alfaiate" (Tcheky Karyo). Dois episódios esta sexta-feira, depois doses semanais.

Filmin

Sexta-feira, 5 de Abril

Máquina Fantástica — Produzido por Ruben Östlund e premiado nos festivais de Sundance e Berlim, é uma reflexão sobre a cultura selfie, da imagem na internet e nas redes sociais. Uma viagem pela história da fotografia até às redes sociais e aos telefones com câmara. Pelos realizadores Axel Danielson e Maximilien Van Aertryck recuperam-se imagens de arquivo e imagens encontradas.

Sonhar em Negro — Série de comédia dramática sobre a vida de um realizador de cinema, que usa muita criatividade para retratar a demanda da estrela da nova comédia para a BBC e da produtora A24.

Mal Viver / Viver Mal — Também em estreia na Filmin, além de na HBO Max, os filmes de João Canijo, premiados, femininos, diferentes.

Quinta-feira, 11 de Abril

Ana e Maurizio — Documentário de Catarina Mourão sobre a artista Ana Marchand e um livro escrito pelo seu tio-avô, Maurizio Piscielli, que relata uma viagem ao Congo.

Aqui, em Lisboa – Episódios da vida de uma cidade — Série de fantasia nascida em 2015 a propósito do 10.º aniversário do festival IndieLisboa. Quatro realizadores fazem uma curta-metragem sobre a cidade que mete cientistas loucos, festivais de cinema e peixes cantores. Os autores são a francesa Marie Losier, a chilena Dominga Sotomayor, o canadiano Denis Côté e o português Gabriel Abrantes.  

Gipsofilia — Documentário de Margarida Leitão, que começa a filmar as suas visitas à avó. Premiado em Turim, a realizadora percebe que tem de habitar a casa da avó e o filme.

Folhas Caídas — Obra-prima de Aki Kaurismaki, disponívelpara aluguer por 3,95 euros. Ansa é solteira e vive em Helsínquia, onde trabalha num supermercado. Uma noite, conhece Holappa, um trabalhador alcoólico. Tentam construir uma relação

Perdido no streaming

É uma daquelas séries que há anos fazia barulho nos EUA, Reino Unido e outros países mas que sofreu com o facto de se ter estreado em Portugal dois anos depois da estreia nos EUA e na Fox+, serviço entretanto extinto. Agora, Pamela Adlon e o seu multi-hifenizado trabalho (protagonista e co-criadora juntamente com Louis C. K. — o que causou alguns dissabores pelo #MeToo do comediante —, argumentista, realizadora e produtora) estão todos na Disney+ com Better Things. E é um gosto. Comédia dramática de voz áspera.

Ler para ver

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PÚBLICO: RTP assinala 25 de Abril com documentários, séries e filmes

The Guardian: ‘There was unfinished business with Boys State’: inside the female follow-up to the hit film

The Atlantic: The Real Issue With Netflix’s 3 Body Problem

The Wall Street Journal: The Real Reason You’re Paying for So Many Subscriptions
 

Até ao Próximo Episódio.