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Na Noruega, uma linha eléctrica pode acabar com pastagens das renas

O Governo norueguês quer construir uma linha eléctrica de 54 quilómetros para abastecer a maior fábrica de gás natural liquefeito da Europa ocidental numa zona de pastagem de Verão de renas.

Pastores afirmam que não podem "perder mais terrenos" e que a construção da linha eléctrica interfere com bem-estar dos animais Reuters/Lisi Niesner
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Pastores afirmam que não podem "perder mais terrenos" e que a construção da linha eléctrica interfere com bem-estar dos animais Reuters/Lisi Niesner

A neve continua a cair e o frio ainda se sente na Noruega. Por lá, alguns pastores indígenas Sami levam as renas para pastar, no planalto de Finmark, em Jergul. São cerca de 30 pastores, com um total de 1500 renas. Actualmente têm sentido cada vez mais dificuldades em alimentar os animais, devido às alterações climáticas. Agora, surge um novo problema: a construção de uma linha eléctrica no território de pastagem de Verão.

O Governo norueguês quer construir uma linha eléctrica de 54 quilómetros para abastecer a maior fábrica de gás natural liquefeito da Europa ocidental, a Hammerfest LNG. O projecto tem como objectivo cumprir a missão de reduzir as emissões de dióxido de carbono. A Noruega tem o compromisso de reduzir em 55% as emissões do país até 2030.

Através desta linha, a Hammerfest LNG passaria a usar electricidade gerada através de energia hidroeléctrica e reduziria a utilização de gás, que faz funcionar cinco turbinas. Além disso, esta iniciativa ajudaria a exportar mais gás para os mercados. Actualmente, a fábrica é responsável por 2% das emissões anuais de CO2 da Noruega.

Ao mesmo tempo que a decisão quer ajudar o país a tornar-se mais verde, também interfere directamente com os pastores de renas da região. Além da linha eléctrica, existem projectos para se construírem parques eólicos em territórios de pasto de Verão. Vários grupos de pastores juntam-se para lançar uma acção legal para impedir a construção da linha, uma vez que esta afectará o comportamento e o pasto natural dos animais.

John Isak Eira é dono de algumas das renas. À Reuters, conta que as “estruturas lhes metem medo e elas não gostam dos sons que fazem”, evitando essas zonas. Assim que as temperaturas sobem, levam os animais para os campos de Verão, perto da cidade de Hammerfest, de Maio a Outubro. A construção da linha está prevista para este Verão e os pastores estão receosos. Defendem que as terras que utilizam já foram invadidas por diferentes infra-estruturas e que é “uma idiotice destruir a natureza por causa do clima”.

A vice-ministra da Energia, Elisabeth Sæ​ther, defende que o projecto é necessário para “criar novos postos de trabalhos e permitir uma maior actividade económica”. Acredita que o futuro depende das energias renováveis e que a construção da linha eléctrica é um ponto fulcral desse mesmo objectivo. Para além disso, afirma que o projecto pode funcionar em conformidade com o artigo 27.º de um tratado das Nações Unidas que tem como objectivo proteger os direitos e as práticas culturais de populações indígenas. “Não se trata de um obstáculo tão grande que impeça os pastores de praticarem a sua cultura”, adiciona.

Responsáveis pela construção e operação da linha eléctrica afirmam que o projecto será conseguido da forma mais sustentável possível, tendo em conta “tanto as pessoas como a natureza”. As dúvidas e os protestos dos pastores são respeitados, mas asseguram que a linha eléctrica só afecta as renas “de forma limitada”.

A Equinor, responsável pela fábrica e pelo projecto de electrificação, assegura que estenderá o cabo eléctrico num túnel subterrâneo nos terrenos que lhes pertencem, para não afectar as pastagens de Verão. Ainda assim, o assunto terá de ser discutido: “Estamos confiantes de que é possível desenvolver a rede da região em bom diálogo com as partes afectadas.”

Texto editado por Ana Maria Henriques

Com os seus cascos, as renas tentam encontrar líquenes na neve. As alterações climáticas têm interferido com a alimentação natural das renas, obrigando os pastores a usarem alternativas
Com os seus cascos, as renas tentam encontrar líquenes na neve. As alterações climáticas têm interferido com a alimentação natural das renas, obrigando os pastores a usarem alternativas Reuters/Lisi Niesner
O rebanho pasta no planalto de Finnmark, na Noruega. No Verão, mudam-se para outro território
O rebanho pasta no planalto de Finnmark, na Noruega. No Verão, mudam-se para outro território Reuters/Lisi Niesner
A paisagem continua fria e com neve. As renas costumam mudar-se para os territórios de Verão entre Maio e Outubro
A paisagem continua fria e com neve. As renas costumam mudar-se para os territórios de Verão entre Maio e Outubro Reuters/Lisi Niesner
Mickel Iver Sara alimenta uma das renas à mão. Faz parte de um grupo de pastores Sami, uma população indígena
Mickel Iver Sara alimenta uma das renas à mão. Faz parte de um grupo de pastores Sami, uma população indígena Reuters/Lisi Niesner
Os pastores têm comprado alimento para a alimentação das renas
Os pastores têm comprado alimento para a alimentação das renas Reuters/Lisi Niesner
Os custos com sacos de ração e suplementos para as renas têm crescido devido às alterações climáticas
Os custos com sacos de ração e suplementos para as renas têm crescido devido às alterações climáticas Reuters/Lisi Niesner
Nils Mathis Sara, de 65 anos, vigia a pastagem
Nils Mathis Sara, de 65 anos, vigia a pastagem Reuters/Lisi Niesner
Os pastores espalham a comida com o auxílio de uma mota de neve
Os pastores espalham a comida com o auxílio de uma mota de neve Reuters/Lisi Niesner
Um dos pastores observa os dentes de uma das renas do seu rebanho, para determinar a idade
Um dos pastores observa os dentes de uma das renas do seu rebanho, para determinar a idade Reuters/Lisi Niesner
A comida é espalhada pelos diferentes pastores indígenas
A comida é espalhada pelos diferentes pastores indígenas Reuters/Lisi Niesner
Um dos pastores usa uma rede para separar os diferentes grupos de renas que se alimentam no planalto de Finnmark
Um dos pastores usa uma rede para separar os diferentes grupos de renas que se alimentam no planalto de Finnmark Reuters/Lisi Niesner
Depois dos rebanhos se misturarem durante a pastagem, os pastores tentam identificar os animais
Depois dos rebanhos se misturarem durante a pastagem, os pastores tentam identificar os animais Reuters/Lisi Niesner
As mudanças climáticas tornaram o tempo mais ameno na região. Com a queda de aguaceiros que depois congelam rapidamente, as renas não conseguem escavar e consumir os líquenes
As mudanças climáticas tornaram o tempo mais ameno na região. Com a queda de aguaceiros que depois congelam rapidamente, as renas não conseguem escavar e consumir os líquenes Reuters/Lisi Niesner
A neve continua a cair e acumula-se na pelagem das renas
A neve continua a cair e acumula-se na pelagem das renas Reuters/Lisi Niesner
Durante a noite, o céu enche-se de estrelas. Nils Mathis Sarae pernoita na sua cabana
Durante a noite, o céu enche-se de estrelas. Nils Mathis Sarae pernoita na sua cabana Reuters/Lisi Niesner
Cerca de 1500 renas são distribuídas entre os pastores Sami
Cerca de 1500 renas são distribuídas entre os pastores Sami Reuters/Lisi Niesner
Nils Mathis Sara conduz a sua moto de neve no planalto de Finnmark. É esperada a construção de uma linha elétrica de 54 quilómetros no território
Nils Mathis Sara conduz a sua moto de neve no planalto de Finnmark. É esperada a construção de uma linha elétrica de 54 quilómetros no território Reuters/Lisi Niesner
Os pastores dizem que a estructura afeta o comportamento normal dos animais
Os pastores dizem que a estructura afeta o comportamento normal dos animais Reuters/Lisi Niesner
Os responsáveis pela construção da linha esperam chegar a um consenso com os pastores da região
Os responsáveis pela construção da linha esperam chegar a um consenso com os pastores da região Reuters/Lisi Niesner
Uma das renas é transportada pelos pastores
Uma das renas é transportada pelos pastores Reuters/Lisi Niesner
Já foram criadas algumas estruturas que farão o transporte da eletricidade para a maior fábrica de gás natural liquefeito da Europa ocidental
Já foram criadas algumas estruturas que farão o transporte da eletricidade para a maior fábrica de gás natural liquefeito da Europa ocidental Reuters/Lisi Niesner
Os pastores admitem que os animais se sentem desconfortáveis com os sons emitidos pelas estruturas e reagem com medo
Os pastores admitem que os animais se sentem desconfortáveis com os sons emitidos pelas estruturas e reagem com medo Reuters/Lisi Niesner
A Equinor estenderá o cabo elétrico num túnel subterrâneo para não perturbar as pastagens
A Equinor estenderá o cabo elétrico num túnel subterrâneo para não perturbar as pastagens Reuters/Lisi Niesner
Os pastores afirmam que estão receosos com os territórios para pastagem no Verão. Também existem projectos para a construção de parques eólicos
Os pastores afirmam que estão receosos com os territórios para pastagem no Verão. Também existem projectos para a construção de parques eólicos Reuters/Lisi Niesner
A Hammerfest LNG é responsável por 2% das emissões anuais de CO2 na Noruega
A Hammerfest LNG é responsável por 2% das emissões anuais de CO2 na Noruega Reuters/Lisi Niesner
Os pastores pretendem lançar uma ação legal para impedir a construção da linha
Os pastores pretendem lançar uma ação legal para impedir a construção da linha Reuters/Lisi Niesner
Navio tanque de gás natural liquefeito. A Hammerfest LNG é a maior fábrica de gás natural liquefeito da Europa ocidental
Navio tanque de gás natural liquefeito. A Hammerfest LNG é a maior fábrica de gás natural liquefeito da Europa ocidental Reuters/Lisi Niesner
A vice-ministra da Energia defende que a obra não é um obstáculo que impeça os pastores de praticarem a sua cultura
A vice-ministra da Energia defende que a obra não é um obstáculo que impeça os pastores de praticarem a sua cultura Reuters/Lisi Niesner
A sustentabilidade é uma das prioridades do projecto e quer cuidar "tanto das pessoas como da natureza"
A sustentabilidade é uma das prioridades do projecto e quer cuidar "tanto das pessoas como da natureza" Reuters/Lisi Niesner