Ministério da Juventude e Modernização: maior atenção aos jovens ou fogo de vista?

Acima de tudo é crucial modernizar mentalidades para que a juventude se possa assumir como um pilar para o desenvolvimento económico e social do país.

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Megafone P3: Ministério da Juventude e Modernização: maior atenção aos jovens ou fogo de vista? Nuno Ferreira Santos
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Na passada quinta-feira, ficámos a conhecer os nomes dos ministros do próximo Governo. Com sinais contraditórios, como o facto de ser o terceiro executivo mais feminino de todos no nosso país, mas em que a paridade não se alcança (sete mulheres para dez homens), Luís Montenegro arriscou e criou um novo ministério, centrado nas questões da juventude e da modernização e chefiado por Margarida Balseiro Lopes, (felizmente) uma jovem.

Esta é uma mensagem com peso político. Se observarmos com detalhe as últimas eleições legislativas, constatamos que houve uma diminuição relevante da taxa de abstenção motivada pela ida às urnas dos mais jovens, que acabaram a votar no Chega. Neste cenário, a importância a atribuir aos problemas dos jovens é sobejamente grande, justificando, assim, uma autonomia ministerial. Deste ponto de vista, saúdo Montenegro por esta tomada de posição.

Acontece, contudo, que, como já mencionado, este executivo revela ambivalências, encontradas de forma mais profusa em áreas temáticas que dizem precisamente respeito às preocupações das gerações mais novas. Uma destas contrariedades é o regresso da junção das pastas do Ensino Superior e da Ciência à Educação. Parece ter sido assumida uma postura de interpretar a educação como um fenómeno uno, indivisível e com as mesmas dificuldades ao longo de todos os ciclos de estudos.

Ora, o ensino superior é um momento com especificidades distintas, quer ao nível institucional, quer na sua ligação com outros setores de atividade. Sendo um contexto muito mais direcionado para a inovação e a aplicação de competências na criação de emprego, a produção de conhecimento deste ciclo de estudos leva a que os seus profissionais – neste caso, os docentes e os investigadores – se questionem a si mesmos e as suas práticas continuamente. O conhecimento do ensino superior é, por isso, ao contrário do que acontece nos ensinos básico e secundário, permanentemente novo, sujeito a novas reflexões e transformações.

Para além disso, é neste ensino que se começa a preparar o ingresso em múltiplas áreas e setores, o que transforma esta pasta ministerial numa que atravessa praticamente todas as outras dentro de um governo. Trata-se de apostar na qualificação dos jovens, missão que não pode estar arredada dos dados explicativos sobre a forma como esta franja da população vive, pensa, estuda, o que faz nos seus tempos livres ou como se revestem as suas práticas de cidadania. Daí que possa ser problemático misturar áreas de governação nas quais se encontram estudantes com idades díspares, professores com condições de trabalho e reivindicações diferentes e modos de funcionamento das instituições (escolar e universitária/politécnica) muito distanciados.

Outra ambiguidade para um executivo que parece apostar na melhor qualidade de vida dos mais novos é um outro regresso ou retrocesso, neste caso o que diz respeito à reunião das Infraestruturas e da Habitação num único ministério. Temos visto como a habitação se tem tornado num problema crónico e gritante, impossibilitando a autonomia das pessoas, sobretudo dos mais jovens, e, muitas vezes, sequer as condições básicas de subsistência, imputando às famílias uma escolha duríssima entre pagar as rendas ou os empréstimos de uma casa ou comprar bens de primeira necessidade. Destarte, é de questionar se faz sentido agregar a uma pasta já de si pesada (a das obras públicas, transportes e afins) outra que necessitará de um foco profundo, tendo em conta a ambição de que a chamada “geração mais qualificada de sempre” possa recuperar a esperança por uma vida digna, onde ter ou não um teto não seja um desespero a cada mês.

Perante este quadro, é difícil saber se o Ministério da Juventude e Modernização será (tristemente) mais um Ministério da Cultura, com pouca importância política e suborçamentado, ou se terá condições para se afirmar e ter uma voz ativa na defesa das causas juvenis. Sendo que a modernização pode ser um processo muito abrangente, revela-se, de facto, premente tornar o estado menos burocrático, mais tecnológico e mais próximo da vida dos cidadãos comuns.

Mas acima de tudo é crucial modernizar mentalidades, para que a juventude se possa assumir como um pilar para o desenvolvimento económico e social do país.

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