Palcos da semana: Fado Alexandrino, guitarradas e corpos de resistência

Uma peça sobre o fado de ser português, os acordes de Soam as Guitarras, a Utopia de Diana Niepce, a Intervenção do Festival Política e a resistência do Y.

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Fado Alexandrino, um mural sobre o fado de ser português TUNA_TNSJ
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Soam as Guitarras com Tim DR
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A Utopia de Diana Niepce explora a contaminação destrutiva das normas e dos corpos que não servem ALIPIO PADILHA
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Festival Política na linha da Intervenção DR
Ana Lua Caiano
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Ana Lua Caiano abre a cortina do 20.º Festival Y anELogico
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Um mural sobre o fado de ser português

Considerado “o grande romance” sobre o 25 de Abril de 1974, Fado Alexandrino aponta à história do Portugal recente, mais precisamente ao antes, durante e depois da Revolução dos Cravos.

Centra-se em cinco ex-combatentes do Ultramar, que se juntam num jantar e partilham reflexões sobre o país que encontraram quando voltaram da guerra e as vivências que os marcaram até ao presente – “do regime fascista à instauração da democracia, passando pelo horror de África e pelos infernos privados de cada um”, detalha a sinopse.

Escrito em 1983 por António Lobo Antunes, e no ano em que se assinala o cinquentenário do Dia da Liberdade, o texto é levado às tábuas pelo encenador Nuno Cardoso, director artístico do Teatro Nacional São João, numa produção apresentada como um “grande mural para interrogar a nossa história”.

Depois da estreia no Porto, segue-se a digressão nacional: Lisboa (3 e 4 de Maio), Aveiro (9 de Maio), Braga (24 e 25 de Maio) e Faro (21 de Junho) são as próximas coordenadas no mapa.

Silêncio… que aqui Soam as Guitarras

Começou em Oeiras, em 2017, e foi estendendo os acordes a Évora, Póvoa de Varzim e Setúbal. Com mais uma edição (a oitava) dedicada a dar espaço e corda a todo o tipo de guitarras, das clássicas às portuguesas ou às eléctricas, e sempre em tom intimista, a celebração arranca com a dupla inédita de Tim e Pedro Jóia.

Mãe Pau (a soma de Paus e Filho da Mãe), Rodrigo Leão e José Peixoto, Quarteto de Cordas Naked Lunch com Sara Alhinho e José Anjos, José Manuel Neto, Bruno Pernadas, Virgem Suta, João Só e Aníbal Zola são outros dos nomes convocados.

A espiral dos corpos contaminados

Diana Niepce apresenta-nos a sua nova criação, Utopia.

Nasce de um lugar de opressão, onde reina uma “espiral corrosiva de destruição” e um “nunca nada é suficiente”, conceitos caros ao trabalho da coreógrafa, focado na reflexão sobre os limites de um corpo fora da norma (como é o seu) e o seu enquadramento (ou a falta dele) nas artes performativas – foi este, aliás, o mote do ciclo Corpos Políticos, que Niepce comissariou na Culturgest, no início deste mês de Março.

Situada no “campo da objectificação e também da problematização”, esta performance de quatro horas para cinco intérpretes sustenta-se entre “a transgressão e a opressão dos limites físicos”, explorando a contaminação destrutiva das normas e dos corpos que não servem.

Política de intervenção

Hugo van der Ding a mostrar que O Que Importa É Participar. Luta Livre a dar música em formato especial. A tela a dar espaço a histórias reais com Sapadores da Humanidade, A Cor da Liberdade e Maghreb’s Hope. E um mapa expositivo que tanto traça o panorama histórico da comunidade LGBT+ em Portugal, como faz uma análise da abstenção, das mulheres na política portuguesa ou da polarização afectiva e das suas implicações no sistema democrático.

É nestes eixos que sai à rua o Festival Política, apresentado como “o maior evento dedicado aos direitos humanos e cidadania” e, nesta edição, inspirado pelo tema Intervenção.

Entre performances, cinema, música, humor, exposições e conversas, num total de 18 actividades, a ideia é dar espaço ao diálogo e convidar ao debate, à reflexão e à participação nas comunidades porque, lembra a organização em jeito de repto, “a hora de intervir é agora ou já”.

Depois de Lisboa, a marcha segue para Braga (dias 2 a 4 de Maio, no Centro da Juventude), passando ainda por Loulé (Outubro) e Coimbra (Novembro).

A resistência de um Y

Desengane-se quem vê nos 24 anos de Ana Lua Caiano apenas uma promessa do talento que há-de vir. Voz da nova tradição musical portuguesa, é como se “tivesse nascido já pronta, já a dar primeiros passos firmes e seguros sem ter precisado alguma vez de gatinhar”, assim escreveu Gonçalo Frota no PÚBLICO quando a entrevistou.

É com essas certezas, e as notas do novo (e primeiro álbum) Vou Ficar Neste Quadrado, que abre a cortina do 20.º Festival Y, que torna a renovar o seu compromisso com a Beira Interior por meio de espectáculos e artes performativas e sempre com o sonho da resistência.

Os outros dez momentos que compõem o cartaz desta edição redonda, em sala e ao ar livre, estão nas mãos da harpista Angélica Salvi, do Simulacro de Margarida Montenÿ & Carminda Soares, do Musseque de Fábio Jorge Januário, do Ciclone de Leonor Cabral, d’A Casa da Praia de Anabela Almeida, d’[O Sistema] de Cristina Planas Leitão, de Que Corpo É Este Que Anda por Aí da Pé de Pano, de Nancy En Vietnam da Cia Altraste, da Romaria da Réptil e de Sforzando de Mafalda Saloio & Filarmónica Recreativa Cortense.

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