O Marta estreia ao vivo Casta Brava, um manifesto rítmico pela liberdade de expressão

Sucessor de Ó Moça, é Folclore!, o novo álbum de O Marta é lançado esta sexta-feira por entre concertos: Lisboa (Musicbox), Porto (Maus Hábitos) e Viseu (Carmo’81).

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O Marta e ilustração de Beatriz Teixeira para a capa do novo disco PEDRO MARTINS
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Dois anos após o lançamento de um álbum singular, Ó Moça, é Folclore!, o músico viseense Guilherme Marta (Blazerdog, Bang Avenue), estreia na próxima sexta-feira, outra vez como O Marta (nome do seu projecto musical a solo), um novo álbum a que chamou Casta Brava. E vai estreá-lo entre concertos, já que na véspera, esta quinta-feira, se apresenta no Musicbox, em Lisboa (21h30), seguindo depois para o Porto (sexta-feira, no Maus Hábitos, às 21h) e terminando este périplo na sua terra natal, Viseu (sábado, no Carmo’81, às 21h30).

Se em Ó Moça, é Folclore!, lançado em 2022, o músico procurava ainda “criar uma mistura sonora de ritmos típicos de Portugal, com harmonias vocais polifónicas que relembram não só os cantares portugueses, como os do leste europeu, sempre unidos num alicerce que explora em detalhe a linguagem do indie-pop/rock”, o novo álbum troca as polifonias pelas vozes corais, enquanto dá mais força às percussões. “Quando fui criar este segundo disco”, diz O Marta ao PÚBLICO, “tinha pensado explorar um pouco mais a secção rítmica, fazer algo mais dançável, então esse foi um desafio que pus a mim próprio. Até porque existem muitos instrumentos interessantes, como o adufe, a caixa, os bombos tradicionais. E esse desafio fez-me despegar um pouco das vozes polifónicas do primeiro disco. Acabei por trabalhar com um produtor que é baterista, o João Tomé, que me ajudou nessa parte mais rítmica do álbum.”

O álbum começou a ser gravado em Junho de 2023, mas as composições já andavam a ser escritas após a publicação do primeiro. “Gravei em vários locais”, explica. “Comecei por ir, com o Tomé, para a aldeia da minha avó, Arnas, no concelho de Sernancelhe, e as gravações depois passaram por muitos sítios, desde a ESMAE aos Estúdios Camaleão, em Lisboa.”

Com oito temas, metade dos quais foram entretanto lançados em single e videoclipe (Dia, Snoopy, Inferno e Rapaz, sendo os restantes Sinceramente, Vilão, Homem triste e Povo), Casta Brava tem uma temática transversal, diz O Marta: “Falo muito sobre a liberdade, de expressão, de nos vermos como sentimos que nos vemos, de nos expressarmos como nos queremos expressar, e fala um pouco sobre essas inquietações que vou tendo ao longo da minha vida. Às vezes sinto dificuldade em ser realmente o que quero ser, ou em saber realmente aquilo que quero.” E é disso que falam estas suas canções: “Rapaz fala muito de como me vejo, como me sinto no meu corpo, pessoalmente; a Snoopy é um pouco como me sinto com os meus amigos; a Inferno é uma outra instrospecção, onde acabo por tentar perceber se realmente continuo a gostar daquilo que faço, daquilo que sou, se a luta que tenho tido por aquilo que desejo fazer tem sido uma boa luta ou um desafio complicado.”

Nascido em Viseu, em 1998, e actualmente a viver no Porto, Guilherme Marta iniciou ainda em Viseu os estudos musicais e aprendeu piano no conservatório de música local. Aos 14 anos fundou uma banda de covers. Depois, já com temas originais, fundou os Blazerdog, que em 2016 lançaram um single (Gentle cry) antes de se extinguirem. Mais tarde, formou com Leonardo Patrício um duo, Bang Avenue, que desde 2019 tem lançado canções em EP e vários singles, entre os quais A girl called depression, Forever together e Lose to fear, até se estrear em álbum em 2022, com Bang Avenue. O mesmo ano em que Guilherme, após dois anos na ESMAE (Produção e Tecnologias da Música), lançou o projecto O Marta.

Que é agora o que o ocupa. Voltando ao disco, o título acabou por derivar de uma mudança de rumo nas letras, diz: “O título era outro, mas as letras do álbum foram ganhando uma forma diferente e acabou por fazer sentido Casta Brava, que é uma casta difícil de beber, de engolir, de comer. Ou seja, tal como as dificuldades que eu apresento ao longo do disco, o desafio que é procurar por um estado de espírito livre, onde possa fazer o que desejo e expressar-me como quero. E para fazer isso é preciso ser bravo; e é preciso ter impacto, por assim dizer.”

O início do disco, com uma trovoada de tambores em Dia, acaba por desaguar, no final, num último tema, Povo, que em termos musicais e vocais assume os contornos de um hino. “O Dia é quase um despertador, com os bombos a entrar no despertar do dia”, diz o músico “E assim vai numa transição até ao Povo, que vejo quase como a noite, com o final do disco a acabar nuns sintetizadores que na verdade são umas gaitas-de-foles processadas com scratch.” A capa, tal como a do álbum e singles anteriores, conta com uma ilustração Beatriz Teixeira.

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As capas dos dois álbuns, o de 2021 e o de 2024

Em palco, nos três concertos agora anunciados, O Marta (guitarra e voz) terá consigo cinco músicos: Marta Vilaça (flauta e voz), Sara Machado (guitarra eléctrica, timbalão e voz), Pedro Novo (braguesa e voz), Leonardo Patrício (sintetizadores) e Tiago Greenleaf (bateria).

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