Roman Polanski vai a julgamento por alegada violação de adolescente em 1973

Advogada da suposta vítima já representou vítimas de Bill Cosby e Jeffrey Epstein. Polanski começou recentemente a ser julgado por difamar actriz que alega ter sofrido abuso sexual às suas mãos.

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Roman Polanski (aqui em 2011) tem hoje 90 anos Christian Hartmann/Reuters
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Começará a 4 de Agosto do próximo ano, num tribunal em Los Angeles, o julgamento do processo que acusa o realizador Roman Polanski de ter violado uma adolescente em 1973, na residência que o cineasta então mantinha na mesma cidade americana. A advogada da mulher, que mantém o anonimato, é Gloria Allred, que já representou as vítimas de abuso sexual de Bill Cosby e Jeffrey Epstein. Polanski, que já enfrentou diversas acusações de abuso sexual, inclusive em 1977, quando foi detido pela violação da adolescente Samantha Geimer, nega estas acusações.

Segundo o processo, Polanski convidou a alegada vítima a jantar com ele num restaurante em Los Angeles alguns meses depois de os dois se terem conhecido numa festa. O realizador ter-lhe-á dado álcool antes e durante a refeição. Depois, os dois terão ido do restaurante para a casa de Polanski, onde a adolescente terá adormecido na sua cama. A queixa alega que, quando acordou, o cineasta estava deitado ao lado dela e desejava ter relações sexuais.

Apesar de embriagada, a rapariga terá pedido a Polanski para parar, mas este terá ignorado. O processo acusa-o de a ter despido e, posteriormente, violado.

Após o alegado crime, Polanski tê-la-á levado a casa. Essa terá sido a última noite em que os dois se viram. Depois disso, o realizador voltou à sua vida normal, mas o mesmo nunca se aplicou à sua vítima, acusou a sua advogada em declarações prestadas esta terça-feira.

Escreve a revista Variety que a mulher falou pela primeira vez em Agosto de 2017, numa conferência de imprensa com a advogada Gloria Allred, que nessa ocasião disse que a alegada vítima tinha 16 anos na altura do suposto incidente. O processo deu entrada no Tribunal Superior de Los Angeles em Junho do ano passado, ao abrigo de uma lei relativamente recente no estado da Califórnia (AB 218, promulgada em 2019) que estende o prazo prescricional de crimes de abuso infantil.

Entre 2017 e 2019, quatro mulheres acusaram Roman Polanski, autor de filmes como Chinatown (1974), O Inquilino (1976), A Noite da Vingança (1994) ou O Pianista (2002), de abuso sexual, sendo que três delas seriam adolescentes na altura dos supostos crimes. Uma das alegadas vítimas, Marianne Barnard, terá sido violada com apenas dez anos.

Em 1977, o realizador foi preso pela violação da adolescente Samantha Geimer (tinha apenas 13 anos). Polanski declarou-se culpado do crime de praticar sexo ilegal com uma pessoa menor, na tentativa de evitar “cinco das acusações [ainda] mais sérias levantadas contra ele, incluindo” violação de uma pessoa drogada pelo próprio, escreve a revista The Hollywood Reporter. “Os seus advogados esperavam que não cumprisse pena de prisão e obtivesse liberdade condicional”, acrescenta a mesma publicação.

Quando soube ou suspeitou que o juiz planeava enviá-lo novamente para a cadeia, após uma detenção inicial de apenas 42 dias, Polanski fugiu dos Estados Unidos, onde então vivia e estava a ser julgado, primeiro para Londres e logo de seguida para Paris, onde hoje reside. Nunca mais voltou, nem mesmo quando, por exemplo, venceu, com O Pianista, o Óscar de Melhor Realizador, apenas um de vários prémios de uma carreira que, apesar dos supostos crimes, avançou, com aclamação.

Samantha Geimer publicou um livro de memórias em 2013. A fotografia da capa era da autoria do próprio Polanski, que a autora dizia perdoar. Posição mantida em 2017, quando pediu ao tribunal para deixar cair as acusações contra Polanski. “Simplesmente, [o crime] não foi tão traumático para mim como todos gostariam de acreditar. Eu era uma jovem adolescente sexualmente activa e foi uma coisa assustadora, mas não incomum”, disse. Na sua tentativa de contestar a descrição de Polanski como um pedófilo, aquilo que comentou foi: “Tinha quase 14 anos, não dez.” O juiz recusou os seus apelos.​

Polanski recebe a notícia de que a alegada violação de 1973 será discutida em tribunal numa altura em que acaba de arrancar, em Paris, um outro julgamento que o visa. A actriz inglesa Charlotte Lewis acusou-o de difamação depois de, numa entrevista concedida em 2019 à revista Paris Match, Polanski ter descrito o seu relato de abuso sexual sofrido às mãos do realizador como uma “mentira hedionda”. Lewis alega, desde 2010, que Polanski a violou em 1983, em Paris, quando tinha apenas 16 anos. Três anos mais tarde, a actriz viria a entrar no seu filme Piratas.

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