Aumenta o número de crianças-soldado no Leste do Congo

Nos primeiros seis meses de 2023 já tinham sido recrutadas pelos grupos armados 1100 crianças, depois de 1545 em todo o ano de 2022.

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“Deve haver poucos sítios piores, se é que existem, para se ser criança”, afirmou o representante da UNICEF na RDC, Grant Leiaty Arlette Bashizi/Reuters
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O último relatório sobre crianças em zonas de conflito das Nações Unidas inclui a República Democrática do Congo (RDC) como um dos cinco países onde se registou o recrutamento de crianças soldados no mundo. Os dados referem-se a 2022, com o recrudescimento do conflito no Leste do país o ano passado, o número de crianças levadas por algum dos 120 grupos activos aumentou. Segundo a UNICEF, nos primeiros seis meses de 2023, pelo menos 1100 crianças tinham sido recrutadas e levadas pelos grupos armados, quando em todo o ano de 2022 foram 1545.

“Em 2023, as crianças continuaram a ser recrutadas e utilizadas, como espiões ou cozinheiros, em funções de combate, ou como escudos humanos”, escreve a ONU. Enquanto a UNICEF refere que “a intensificação da violência no Leste da RDC tem um impacto devastador na vida das crianças que enfrentam um número crescente de violações graves dos seus direitos”.

“As crianças na RDC precisam de paz agora”, afirmou o representante da UNICEF no país, Grant Leiaty. “Estamos a pedir que as crianças sejam protegidas desta guerra e que se ponha fim à violência através de esforços renovados para encontrar uma solução diplomática. Estamos extremamente preocupados com a segurança das crianças e das suas famílias nos campos de Goma e à sua volta”, acrescentou.

A RDC está entre os países do mundo com mais registos de casos de abuso contra menores. Leiaty sublinhava em Setembro aos jornalistas, em Genebra, que “deve haver poucos sítios piores, se é que existem, para se ser criança”, depois da violência “ter atingido níveis sem precedentes”.

Na primeira e segunda guerras do Congo, era comum o recrutamento de kadogos, “pequenos” em suaíli, pelos grupos armados. O próprio Laurent Kabila, que se tornaria Presidente do país em 1997, arregimentou muitos para as suas fileiras – calcula-se que tenham sido pelo menos dez mil. Aliás, os primeiros casos de crianças-soldado julgados pelo Tribunal Penal Internacional foram relacionados com a RDC.

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