Artistas moçambicanos juntam-se em homenagem ao “rapper do povo” Azagaia

Lançado precisamente um ano após a sua morte, aos 38 anos, Homenagem é o nome do tema que junta antigos companheiros de palco do importante rapper africano.

Foto
Imagem do funeral de Azagaia LUÍSA NHANTUMBO/LUSA
Ouça este artigo
00:00
02:58

Artistas moçambicanos lançaram este sábado uma música de homenagem a Azagaia, considerado o “rapper do povo”, que morreu há precisamente um ano, em Maputo.

O tema, intitulado justamente Homenagem, foi lançado nas redes sociais e plataformas musicais e juntou, entre outros antigos companheiros de palco do músico, Iveth, Izlo H, Joe e Guto D’​ Harculete.

“Fomos todos chamados a testemunhar a significação da vida e morte de Azagaia, como alguém que abordou o colectivo, lutando por um Moçambique e uma África melhores”, explicou Iveth, advogada e rapper que partilhou vários trabalhos em conjunto com o artista, e que se queixa ainda de “impedimentos de vária ordem” para o homenagear, à passagem do primeiro aniversário da morte.

“Sendo certo que a música era seu ofício, porque não o homenagear cantando hip-hop? Este tema aborda a sua vida, os seus feitos e a sua visão num contexto social politicamente desafiante, em que a liberdade de expressão é prevista normativamente, porém é cerceada com perseguição, cancelamento artístico e censura nos meios de comunicação oficiais”, criticou Iveth numa mensagem sobre o lançamento da música.

No dia 9 de Março de 2023, Azagaia, 38 anos, foi encontrado morto na sua casa após uma crise de epilepsia, segundo a família. A notícia consternou milhares de fãs em toda a lusofonia, onde o seu nome era conhecido.

Azagaia ficou célebre pela sua crítica aberta à governação, de tal forma que, em 2008, na sequência de três dias de violentas manifestações que paralisaram a capital moçambicana, foi chamado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), após lançar o tema Povo no poder, uma música gravada pouco depois dos episódios, alertando para a possibilidade de uma paralisação geral face à subida de preços de produtos básicos no país.

Mas o trabalho que deu corpo à sua carreira foi mesmo o tema As mentiras da verdade, de 2007, por muitos classificado como “manifesto crítico” à narrativa oficial da história de Moçambique, em que o músico chegou a questionar as causas da morte do primeiro Presidente do país, Samora Machel.

A faixa, banida na altura na rádio e televisão públicas, surgiria no seu primeiro álbum, Babalaze (que significa “ressaca” na língua changana), uma adaptação da obra poética Babalaze das Hienas, do escritor moçambicano José Craveirinha.

O rapper moçambicano lançaria mais um álbum em 2013: Cubaliwa, último de uma carreira de quase 20 anos iniciada no grupo Dinastia Bantu.

Os últimos anos da sua vida foram marcados por aparições mais tímidas, embora continuasse a lançar músicas, destacando-se temas como Ai de nós (2021), uma crítica à “inércia” da sociedade moçambicana face à crise humanitária provocada por uma insurgência armada que desde 2017 assola a província de Cabo Delgado.

Após a sua morte, activistas moçambicanos tentaram organizar marchas em sua homenagem. No dia 18 de Março do ano passado, essas iniciativas foram reprimidas com violência pela polícia, com vários feridos, atitude que mereceu condenação por várias entidades que classificaram a repressão policial como um dos sinais mais visíveis das limitações à liberdade de expressão no país.

Sugerir correcção
Comentar