Primeiro-ministro do Haiti não consegue regressar ao país

A onda de violência que se abateu sobre o país está a aprofundar a crise humanitária. Gangs querem afastar Ariel Henry do poder.

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Forças de segurança do Haiti fazem patrulha nas imediações do aeroporto da capital Reuters/Ralph Tedy Erol
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O primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, viajou para Porto Rico depois de não conseguir regressar ao país, que atravessa uma onda de violência que está a aprofundar uma crise humanitária de longa duração.

Henry aterrou no território administrado pelos EUA na terça-feira, confirmou o gabinete do governador à Reuters. A escolha recaiu em Porto Rico depois de o avião que transportava o chefe do Governo haitiano não ter sido autorizado a aterrar na República Dominicana. Um dirigente do Executivo do Haiti criticou a recusa do país vizinho que considerou um "erro diplomático".

A aparente dificuldade de Henry conseguir regressar ao Haiti é mais um sinal da grave crise que o país caribenho atravessa, adensando as dúvidas quanto à sua governabilidade.

Henry viajou na semana passada para a Guiana para participar numa cimeira regional e depois deslocou-se ao Quénia onde pretendia negociar o envio de uma força policial para o Haiti. Com o primeiro-ministro, que acumula o cargo de Presidente interino, fora do país, os principais gangs uniram-se para tentar derrubar o Governo.

Durante o fim-de-semana foram atacadas duas das maiores prisões e libertados milhares de detidos. Seguiram-se cenas de enorme violência, com confrontos entre os grupos criminosos e as forças de segurança, que mostram uma enorme incapacidade em conter o poder dos gangs.

A declaração do estado de emergência e a imposição de um recolher obrigatório no domingo pouco fizeram para conter o caos que se abateu sobre o Haiti. Nos últimos dias, os gangs têm tentado tomar o aeroporto internacional de Port-au-Prince para impedir o regresso de Henry ao país. Foram suspensos todos os voos comerciais domésticos e internacionais.

Os gangs haitianos começaram a coordenar esforços, sob a égide do “G-9” liderada por Jimmy Chérizier, conhecido como “Barbecue”, para afastar Henry do poder, visto como ilegítimo pela generalidade da população.

Henry assumiu a presidência em 2021, logo depois do assassínio do então Presidente Jovenel Moïse, morto por um grupo de mercenários colombianos que invadiram a sua residência. Ocupando o vácuo de poder, Henry prometeu realizar eleições e ceder o cargo, mas nada disso aconteceu até agora.

O Haiti, que já vivia em clima de instabilidade há vários anos, está totalmente paralisado e dominado pela violência espalhada pelos grupos criminosos. A ONU estima que 15 mil pessoas tenham sido desalojadas por causa dos confrontos, engordando um número que ascende a 300 mil haitianos forçados a abandonar as suas casas nos últimos anos.

Para as famílias haitianas as escolhas são cada vez mais difíceis. Com a escassez de bens alimentar – que atinge quase metade dos 11 milhões de haitianos –, para os rapazes a entrada num gang é quase sempre o destino mais provável. Entre 30 a 50% dos membros dos grupos criminosos são menores, segundo o Plan International, uma organização de defesa dos direitos humanos.

Ao mesmo tempo, têm aumentado os casamentos forçados de meninas. “A violência generalizada está a roubar a infância a demasiadas crianças, com as raparigas a serem forçadas a substituir os manuais escolares e o pão por armas e vestidos de casamento”, disse o director para o Haiti da Plan International, Allassane Drabo.

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