Uma lotaria para recém-casados é a nova tentativa de aumentar a natalidade na China

Xian, na China, vai dar bilhetes de lotaria aos recém-casados, numa tentativa de aumentar o número de nascimentos.

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Xian, na China, vai dar bilhetes de lotaria aos recém-casados, numa tentativa de aumentar o número de nascimentos REUTERS/TINGSHU WANG
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As autoridades da cidade chinesa de Xian vão gastar 700 mil yuan (cerca de 97 mil euros) em bilhetes de lotaria para recém-casados que apresentem uma certidão de casamento. Trata-se de uma tentativa de incentivar os casamentos numa altura em que há cada vez menos nascimentos.

A população da China diminuiu pelo segundo ano consecutivo em 2023, com o número de nascimentos a cair para cerca de metade dos registados em 2016, enquanto os casamentos atingiram um recorde mínimo em 2022. Com as taxas de casamento intimamente ligadas às taxas de natalidade, uma vez que às mães solteiras são frequentemente negados os apoios de natalidade, Xian prometeu um bilhete de lotaria a qualquer casal que apresente uma certidão de casamento a partir de 1 de Março, como "uma dupla surpresa".

"Este não é apenas o início de uma vida feliz, depois da certidão de casamento, mas também representa uma maior probabilidade de receberem um pequeno presente", afirmou o gabinete de assuntos civis da cidade, na sua conta oficial do Wechat, uma aplicação chinesa. A campanha decorrerá até 30 de Novembro, acrescentou.

A China é um dos países mais caros do mundo para educar uma criança, em relação ao PIB per capita, concluiu um importante grupo de reflexão chinês em Fevereiro, ao detalhar o tempo e o custo de oportunidade para as mulheres que dão à luz.

Cada vez menos mulheres optam por ter filhos, desmotivadas pelo elevado custo dos cuidados infantis ou por não quererem casar ou suspender as suas carreiras, ao mesmo tempo que persiste a discriminação entre géneros.

No Verão de 2023, um distrito no leste da China anunciou que iria oferecer aos casais uma "recompensa" de 1000 yuan (128 euros) se a noiva tiver 25 anos ou menos, numa tentativa de incentivar os jovens a casarem-se. O aviso, que foi publicado na conta oficial do Wechat do distrito de Changshan, dizia que a recompensa servia para promover "o casamento adequado à idade e maternidade". Incluía também uma série de subsídios para cuidados infantis, fertilidade e educação para os casais que tivessem filhos.

A baixa confiança dos consumidores e as preocupações crescentes com a economia chinesa são também factores-chave citados pelos jovens chineses para não quererem casar e ter filhos. A tendência até já tem um nome: “ficar quieto”. Apesar de não existirem dados sobre o número de jovens chineses que estão a optar por não aceitar empregos em empresas que tradicionalmente teriam escolhido, a taxa de desemprego dos jovens subiu para um nível recorde de 21,3% em Junho de 2023, no contexto de uma economia que ainda luta para regressar aos níveis de crescimento anteriores à pandemia. Em vez de lutarem pelo horário “996” (que consiste em trabalhar das 9h às 21h, seis dias por semana), os jovens pouco esperançosos estão a optar por “lying flat”: não se casam, não têm filhos, não compram casa e não perseguem um trabalho de rendimentos altos.

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