Gaza: fornecimento de água está a 7% do pré-7 de Outubro

Diminuição é consequência do corte do fornecimento de electricidade ditado por Israel e das restrições à entrada combustível.

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Distribuição de comida em Rafah, onde estão a maioria das pessoas deslocadas na Faixa de Gaza MOHAMMED SABER/EPA
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As consequências do corte, por Israel, da electricidade a toda a Faixa de Gaza e das grandes restrições à entrada de combustível dias depois do ataque de 7 de Outubro do Hamas deixaram o território com uma quantidade de água disponível equivalente a apenas 7% do período anterior a 7 de Outubro, segundo uma avaliação da FAO (Organização para a Agricultura e Alimentação da ONU).

O vice director-geral da FAO, Maurizio Martina, partilhou a avaliação da agência com o Conselho de Segurança da ONU, segundo um comunicado da organização. A falta de energia, seja electricidade ou combustível, faz com que a infra-estrutura de água e as centrais de dessalinização não funcionem, declarou.

A grande maioria da água disponível no subsolo de Gaza – 97% – não serve para consumo humano (e há relatos de pessoas a cavar para chegar a canos de transporte de água no Norte do território). Apenas há uma central de dessalinização funcionar em todo o território, e apenas um dos três principais canos de fornecimento está ainda a funcionar, indicou Martina, acrescentando que há camiões cisterna a fornecer água, recursos insuficientes para aumentar um nível que, durante o mês de Dezembro, era de apenas 7% da quantidade fornecida antes de 7 de Outubro.

Esta semana, a agência da ONU que apoia refugiados palestinianos, a UNRWA, disse que a ajuda humanitária a entrar na Faixa de Gaza em Fevereiro tinha registado uma queda de 50% face ao mês anterior. Isto mesmo tendo sido decretado pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, que Israel tinha de aumentar a entrada da ajuda humanitária.

A falta de combustível para os geradores (que nos últimos anos foram usados no território para suprir as falhas do fornecimento eléctrico limitado, então, a algumas horas por dia) tem ainda efeitos na produção e entrega de alimentos essenciais, continuou o responsável da FAO.

Israel argumenta que o fornecimento de energia beneficiaria o Hamas e os seus líderes e combatentes que estarão nos túneis sob o território, e tem recusado que haja problemas com o fornecimento de ajuda humanitária à Faixa de Gaza. As organizações no terreno têm, no entanto, feito um retrato alarmante da falta de alimentos que deixaram a população numa situação de fome catastrófica, com pessoas a moer cereais que são normalmente alimento de animais para fazer farinha, a recolher algas do mar para comer ou procurar ervas comestíveis, sobretudo no Norte.

O ministério da Saúde de Gaza (controlado pelo Hamas) informou que morreram seis crianças de desidratação e subnutrição em dois locais do Norte da Faixa de Gaza.

Toda a população (estima-se que 2,2 milhões de pessoas) da Faixa de Gaza estará numa situação de crise ou pior em relação a fome, a maior percentagem já classificada deste modo pela iniciativa IPC, de Classificação Integrada de Segurança Alimentar, em alguma zona ou país.

Antes da guerra actual, a produção de alimentos na Faixa de Gaza permitia auto-suficiência em muitas frutas e vegetais; mas os danos nos terrenos agrícolas, a falta de água e energia, e a deslocação da população (mais de 80% estará deslocada) mudaram por completo a situação.

O mesmo aconteceu com as padarias, que entre serem alvo de ataques, não terem electricidade, combustível, água e trigo, foram deixando de conseguir produzir pão.

A pecuária também foi afectada, com muitos animais mortos, quer fosse por ataques quer por falta de alimento. E nem a pesca tem servido de alívio à fome, com Israel a impor mais restrições ao acesso ao mar.

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