Acossado, Bolsonaro espera medir a sua força na manifestação deste domingo

O ex-Presidente diz que se quer defender das suspeitas de ter organizado uma tentativa de golpe de Estado e pede aos seus apoiantes para não atacarem as instituições democráticas.

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Jair Bolsonaro foi ouvido pela polícia esta semana Reuters/ADRIANO MACHADO
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Ao fim de vários meses de um quase total desaparecimento do espaço público, o ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro convocou os seus apoiantes para uma manifestação este domingo em São Paulo, durante a qual pretende apresentar a sua defesa das investigações que o implicam no planeamento de uma tentativa de golpe de Estado para reverter os resultados das eleições de 2022.

A manifestação deverá decorrer num ambiente tenso. Durante a semana, os organizadores reforçaram os apelos para que os participantes não levem consigo cartazes com frases que possam ser entendidas como ataques às instituições democráticas.

Será um contexto amplamente diferente daquele em que decorreram outras grandes manifestações de apoiantes de Bolsonaro, em que eram frequentes as palavras de ordem contra juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, ou pedidos para uma intervenção das Forças Armadas.

O próprio Bolsonaro – que, enquanto Presidente, chegou a dizer que pretendia desrespeitar ordens do STF durante uma manifestação – deverá fazer um discurso em que irá evitar atacar os tribunais ou o Governo. Durante a semana, a imprensa brasileira especulava que o ex-Presidente poderia mesmo vir a ser detido em flagrante caso fizesse a apologia a condutas antidemocráticas.

A manifestação deste domingo servirá sobretudo como barómetro para aferir a capacidade mobilizadora de Bolsonaro, mais de um ano depois de ter saído do poder e estando impedido de se candidatar a cargos públicos até 2030 por ordem judicial.

"Ele quer manter o seu eleitorado mobilizado para mostrar que tem apoio popular, que as pessoas acreditam nele e que colocá-lo na cadeia pode incendiar o país", diz à Folha de S. Paulo o professor de Ciência Política da Universidade de São Paulo Caio Marcondes Barbosa.

Ao seu lado, Bolsonaro deverá ter alguns dos rostos mais destacados da extrema-direita brasileira, muitos dos quais ganharam lugares como governadores e deputados nas últimas eleições. São esperadas as presenças do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do presidente da câmara da cidade, Ricardo Nunes, que procura ser reeleito nas eleições locais deste ano, bem como de outros governadores estaduais aliados. Além disso, segundo o portal UOL, esperam-se mais de cem deputados federais, a maioria dos quais pertencente ao Partido Liberal, no qual Bolsonaro está filiado.

A manifestação é uma aposta de alto risco para Bolsonaro, que está confiante de que mantém o poder de atracção e mobilização que lhe permitiu vencer as eleições de 2018 e ficar muito perto de repetir o feito quatro anos depois. "Do ponto de vista do Bolsonaro, se o protesto for um sucesso em termos de presença, pode mostrar a capacidade dele de continuar agregando em torno de si a maioria das forças conservadoras”, diz à BBC Brasil o investigador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Geraldo Tadeu Monteiro.

O acto de apoio a Bolsonaro está a ser encarado como um acontecimento altamente sensível por parte das forças de segurança, que querem evitar ao máximo a possibilidade de episódios de violência. Nas mentes de muitos brasileiros estão ainda as imagens de vandalismo e destruição decorrentes da invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, no início do ano passado, por uma multidão de apoiantes do ex-Presidente.

Vão ser mobilizados cerca de dois mil agentes da Polícia Militar, de acordo com o governo estadual de São Paulo.

A manifestação, marcada para a tarde deste domingo na Avenida Paulista, surge poucos dias depois de Bolsonaro ter sido chamado a depor pela Polícia Federal no âmbito da investigação sobre a alegada tentativa de golpe de Estado. O ex-Presidente manteve-se em silêncio, segundo os seus advogados, que alegam que a defesa não teve acesso a todos os documentos da investigação. Neste momento, Bolsonaro tem o seu passaporte apreendido pela polícia e não pode abandonar o país.

Segundo a Polícia Federal, Bolsonaro e o seu círculo mais próximo, em conjunto com algumas chefias militares, são suspeitos de terem organizado um plano para tentar reverter uma possível derrota contra Lula da Silva. Os investigadores também responsabilizam os ex-governantes de terem criado as condições para a insurreição de Brasília.

No entanto, 42,2% dos brasileiros concordam com Bolsonaro e acreditam que as investigações não passam de uma “perseguição política”, segundo uma sondagem recente do instituto Atlas Intel, mostrando que a polarização política se mantém.

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