Portuguesa salva de prédio em chamas em Valência: “Não queríamos morrer queimados”

Sara e Omar estiveram mais de duas horas na varanda do prédio que estava a ser consumido pelas chamas a aguardar resgate por parte dos bombeiros. Incêndio vitimou nove pessoas.

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Autoridades ainda estão a investigar as causas do incêndio que consumiu dois prédio em Valência Reuters/EVA MANEZ
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Sara, portuguesa, e Omar, de nacionalidade belga, foram duas das dezenas de pessoas resgatadas do edifício de 14 andares que foi completamente destruído pelas chamas esta quinta-feira, em Valência, Espanha. O casal esteve mais de duas horas na varanda do prédio, a ver o fogo a aproximar-se e a aguardar resgate por parte dos bombeiros, que os iam protegendo "o melhor que podiam" com a água das mangueiras.

As imagens do casal na varanda, rodeado pelas chamas, a abanar os braços para chamarem a atenção dos bombeiros, estão a correr as televisões espanholas. Segundo conta o El País, o processo de resgate foi acompanhado de perto pelo olhar atento de dezenas vizinhos que tinham, entretanto, sido retirados do prédio e que receberam o casal com muitas palmas e abraços.

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Imagens do canal de televisão valenciano À Punt À PUNT

Nem vinte e quatro horas depois, Sara, em declarações a várias televisões espanholas, recorda os momentos que passou na varanda do prédio no bairro Campanar, onde vivia há cerca de um ano.

“Foi uma situação carregada de emoção. Passámos duas horas e meia na varanda, mas agora estamos vivos e é isso que importa. Por causa dos nossos trabalhos, poderíamos ter escolhido viver em qualquer parte do mundo, mas escolhemos Valência pela sua qualidade de vida. Não esperávamos que algo assim pudesse acontecer connosco”, referiu a portuguesa. “Foram momentos muito stressantes. Não queríamos morrer queimados, estávamos à mercê dos bombeiros".

Ao longo da tarde, dezenas de bombeiros tentaram arrefecer a temperatura da varanda com jactos de água e evitar que o fogo se aproximasse do casal. Depois de duas horas e meia, e com recurso a duas gruas, Sara e Omar foram finalmente retirados.

As autoridades ainda estão a investigar as causas do incêndio que vitimou, segundo o balanço mais actual, nove pessoas, incluindo quatro da mesma família. As chamas terão começado numa das varandas do nono andar da torre mais alta, por volta das 17h37 e espalharam-se para a varanda do oitavo andar em menos de dois minutos. Volvidos mais dez minutos, o incêndio já consumia o lado esquerdo do edifício e, pelas 18h22, tinha-se espalhado para o segundo prédio.

No total, 105 pessoas perderam as suas casas e foram transferidas para hotéis próximos — mais de uma dúzia, incluindo bombeiros, ficaram feridas no incêndio, mas nenhuma corre perigo de vida. Há pelo menos 15 pessoas desaparecidas e pelo menos quatro são membros da mesma família: o pai, a mãe e dois menores, um recém-nascido e outro jovem, segundo a agência de notícias Europa Press.

O complexo, com 138 apartamentos, fica localizado numa nova área residencial de Valência que foi desenvolvida nas últimas duas décadas. Era composto por dois edifícios, um de 14 e outro de dez andares, ligados por um elevador panorâmico e com uma piscina aberta no terraço. Os dois andares inferiores eram ocupados por lojas.

Um tribunal de instrução de Valência abriu já um processo preliminar para investigar o incêndio e decretou sigilo para "proteger investigações policiais" e a privacidade dos envolvidos. Uma equipa que integra uma juíza, o advogado da Administração de Justiça e quatro equipas forenses deslocou-se ao local do incêndio para proceder à retirada dos restos mortais das vítimas. Foi ordenada a realização de autópsias e realização dos procedimentos necessários para a identificação das vítimas.

O processo de investigação das causas e consequências foi considerado secreto durante um mês a pedido do Corpo Nacional de Polícia para "garantir a boa conclusão das investigações destinadas no esclarecimento dos factos, bem como na preservação da privacidade das vítimas e dos seus familiares", segundo um comunicado do Tribunal Superior da Comunidade Valenciana.

O Corpo de Polícia Nacional, em colaboração com outras instituições, criou vários pontos na cidade espanhola para recolher informações e amostras de ADN de familiares de pessoas desaparecidas visando permitir a sua localização e identificação.

O presidente da Generalitat, Carlos Mazón, decretou três dias de luto em toda a Comunidade Valenciana. Marcelo Rebelo de Sousa também manifestou, esta sexta-feira, as suas condolências e solidariedade pelas consequências do incêndio de quinta-feira.

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