Santa Casa inaugura campanha contra vício do jogo

Entidade que explora “raspadinhas” e vários outros jogos a dinheiro mostra preocupação com jogo compulsivo.

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Há cerca de 100 mil jogadores de "raspadinhas" com problemas de jogo Nuno Alexandre/Arquivo
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A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) – entidade que explora o negócio das “raspadinhas”, das apostas desportivas Placard, Euromilhões, Totoloto, Totobola e do mais recente sorteio EuroDreams – lança, a partir desta quarta-feira, uma campanha que pretende sensibilizar os apostadores para os riscos do jogo compulsivo. A iniciativa contará com o recrutamento de influenciadores das redes sociais, sendo ainda avançadas alterações para aumentar a eficácia no controlo da idade dos apostadores. A criação do "cartão do apostador" será outra das medidas adoptadas para combater o crescimento do jogo patológico.

A campanha surge após a provedora da SCML, Ana Jorge, ter admitido que a dependência na “raspadinha” era um problema sério e que iria merecer a preocupação da instituição. Esta posição foi tornada pública em Setembro passado, após a divulgação de um estudo da autoria do Conselho Económico e Social (CES) que sinalizava a existência de cerca de 100 mil casos de apostadores problemáticos – com quase 30 mil pessoas com problemas de jogo patológico.

Os dados avançados pelo CES dizem apenas respeito à "raspadinha", sendo facilmente perceptível que, juntando outras tipologias de apostas e jogos de azar, o verdadeiro número de apostadores com um relacionamento problemático com o jogo seria ainda maior. Mas, apenas neste jogo, os portugueses gastaram 4,1 milhões de euros por dia no ano de 2021, num total de receita que se aproxima dos 1500 milhões de euros.

A SCML vai apostar em alterações tecnológicas, colocando em circulação novos terminais de jogo. Estas máquinas vão permitir ler os documentos de identificação dos apostadores (cartão de cidadão), verificação que auxilia os mediadores na verificação de idade dos clientes.

No V Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoactivas na População Geral, promovido pelo SICAD - Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (agora rebaptizado Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências), 55% dos inquiridos reconheciam apostar em jogos a dinheiro. A amostra reuniu indivíduos entre os 15 e os 74 anos, representando um aumento de 7,6% face ao inquérito anterior, publicado em 2017.

A reguladora do jogo quer também consciencializar os apostadores quanto ao seu historial de jogo, comprometendo-se com um registo dos valores apostados e eventuais perdas. Este "histórico" do apostador estará disponível nos mediadores, adianta a SCML. Já no Portal Santa Casa, plataforma online que permite apostas nos jogos a dinheiro, a entidade compromete-se a permitir aos apostadores definir um montante máximo de apostas, procurando impedir sessões de jogo compulsivo.

Por último, a SCML mostra-se disponível para a implementação do "cartão do apostador", instrumento de regulação do jogo. A campanha arranca com publicidade em cartazes, passando posteriormente para rádios, televisões e anúncios digitais.

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