Equipa de Navalny exige entrega do corpo. Autoridades russas só o fazem após investigação

“Exigimos que o corpo de Alexei Navalny seja imediatamente devolvido à sua família”, disse Kira Yarmysh, num vídeo publicado nas redes sociais.

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Lyudmila Navalnaya à saída da prisão em Kharp REUTERS
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A porta-voz de Alexei Navalny, Kira Yarmysh, confirmou este sábado a morte do opositor russo na prisão, citando um aviso oficial dado à mãe de Navalny, Lydumila Navalnaya. Até ao momento, nem a equipa nem a família sabem da localização do corpo de Navalny. As autoridades russas rejeitaram já o pedido da entrega do corpo feito pelos familiares, indicando que só o farão depois de concluídas as investigações relacionadas com a causa da morte.

"Exigimos que o corpo de Alexei Navalny seja imediatamente devolvido à sua família", disse Kira Yarmysh num vídeo publicado nas redes sociais neste sábado de manhã. "Alexei Navalny foi assassinado. A sua morte ocorreu a 16 de Fevereiro, às 14h17, hora local, de acordo com a mensagem oficial enviada à mãe de Alexei", acrescentou a sua porta-voz, que nas redes sociais adiantou que as autoridades russas dizem que só entregarão o corpo à família quando "as investigações relacionadas com a causa da morte estiverem concluídas".

Kira Yarmysh faz parte da equipa que trabalhava com o opositor russo a partir do exterior da Rússia, depois de seu envenenamento em 2020 e da consequente prisão, publicando as suas declarações e organizando eventos políticos. Mesmo depois de Navalny ter sido preso, sem acesso a qualquer tipo de comunicação com o exterior, o seu grupo de aliados continuou a publicar mensagens nas redes sociais do opositor de Vladimir Putin.

Ainda de acordo com Yarmysh, um funcionário do estabelecimento prisional confirmou que o corpo de Navalny está em Salekhard e foi recolhido por investigadores, sendo que está a ser "analisado" neste momento. A mãe de Navalny chegou na manhã deste sábado à prisão onde o filho morreu e teve de esperar duas horas até que o funcionário do estabelecimento prisional viesse avisar que o corpo tinha sido transferido para Salekhard.

Segundo escreveu na plataforma X (antigo Twitter) Ivan Zhdanov, um advogado e político russo aliado de Navalny, também ele a braços com a justiça russa, tanto a mãe como o advogado de Navalny foram informados neste sábado, por fontes do estabelecimento prisional, que a causa da morte tinha sido "síndrome de morte súbita".

Corpo de Navalny ainda por localizar

Na rede social X, Yarmysh explica que o advogado e Lydumila Navalnaya deslocaram-se à morgue, tendo a encontrado fechada. "O advogado ligou para o número de telefone que estava na porta. Disseram-lhe que era a sétima pessoa a telefonar hoje. O corpo de Alexei não está na morgue", detalha.

"A comissão de investigação tem um milhão de opções", disse um funcionário da morgue contactado pela Reuters, que não revelou o nome, enumerando outras cidades da região — como Labytnangi, Nadym e Urengoy — para onde o corpo de Navalny poderia ter sido enviado". Questionado sobre a possibilidade de um cadáver ter chegado antes do início do seu turno, às 8 horas, o funcionário respondeu: "Ninguém me entregou nada. Penso que se um corpo nos tivesse sido entregue, ter-me-iam dito imediatamente". "Em Salekhard, temos uma única morgue", disse. "Não recebi ninguém, nem corpos... nem documentos", referiu.

As autoridades locais, citadas pelo jornal The New York Times, afirmaram ter iniciado um "controlo processual" sobre a morte de Navalny. "Está a ser levado a cabo um conjunto de medidas de investigações com o objectivo de estabelecer todas as circunstâncias do incidente", adianta o jornal. De acordo com o Public Verdict, um grupo russo de defesa dos direitos humanos, estes exames médicos apenas indicam causas de morte de forma muito gerais."Estas investigações não são absolutamente fiáveis", declarou o grupo num comunicado citado pelo diário norte-americano.

G7 exigem explicações da Rússia

Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos G7 apelaram, neste sábado, a que a Rússia esclarecesse as circunstâncias da morte de Alexei Navalny. "Expressaram a sua indignação com a morte na prisão de Alexei Navalny, injustamente condenado por actividades políticas legítimas e pela sua luta contra a corrupção", pode ler-se num comunicado divulgado pela Itália, que preside actualmente o G7, a que a Reuters teve acesso.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos da América estão reunidos na 60.ª edição da Conferência Internacional de Segurança de Munique.

Por seu lado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês recusou-se a comentar a morte de Navalny, que descreveu como "um assunto interno da Rússia"."Trata-se de um assunto interno da Rússia. Não vou comentar", disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em resposta a uma pergunta de um jornalista da AFP, durante a conferência em Munique.

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