Salários subiram 6,6% em 2023, mas com a inflação o ganho real foi de 2,3%

Aumento nas administrações públicas foi menor do que no sector privado. Remuneração média passou para 1505 euros em termos ilíquidos.

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As estatísticas do INE têm por base as remunerações de 4,6 milhões de trabalhadores Matilde Fieschi
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Os salários aumentaram 6,6% no ano passado — com a remuneração bruta total mensal média por trabalhador a passar de 1412 euros em 2022 para 1505 euros em 2023 —, mas em termos reais o crescimento da retribuição bruta ficou-se pelos 2,3%, indica uma estimativa divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

O último indicador tem em conta o impacto da inflação, isto é, desconta a variação do Índice de Preços do Consumidor (IPC) de 2023 (4,3%), para se perceber qual foi, afinal, a remuneração bruta em termos reais, tendo em conta a evolução dos preços na economia. E, nessa perspectiva, a média salarial fica-se pelos 1261 euros (era de 1233 euros em 2022).

O resultado contrasta com o que se passou em 2022, ano da eclosão da invasão da Ucrânia pela Rússia e do disparar da inflação na Europa, já que, nessa altura, a remuneração média em Portugal tinha crescido 3,7%, mas recuou 4,1% em termos reais, porque a inflação tocou nos 7,8%.

Ao fazer estas estimativas, o INE usa como base os valores das remunerações ilíquidas que são pagas aos trabalhadores “pelas horas de trabalho efectuadas ou pelo trabalho realizado no período normal e no extraordinário”, o que inclui as férias, os feriados e outras ausências pagas por lei. Para a contagem também entram os subsídios de alimentação, de função, de alojamento ou transportes, as diuturnidades, os prémios de antiguidade, de produtividade, as isenções de horários e outros subsídios. Na prática, a remuneração bruta mensal média por trabalhador “corresponde ao rácio entre o somatório do volume de remunerações pago pelas empresas e o total de trabalhadores nessas empresas”.

Estes resultados foram calculados com base nos salários de 4,6 milhões de trabalhadores, uns beneficiários da Segurança Social, outros subscritores da Caixa Geral de Aposentações (CGA).

Nas Administrações Públicas, a remuneração total aumentou 5,9%, “passando de 1957 euros em 2022 para os 2072 euros um ano depois”. Embora o acréscimo tenha sido “superior ao registado no ano anterior (2,2%)”, foi menor do que o observado no sector privado da economia (7,2%). Em termos reais, o aumento anual na esfera do Estado (que inclui todas as instituições do perímetro das administrações públicas, da administração central à regional e local, passando pelas empresas públicas) foi de 1,7%, enquanto no sector privado a melhoria foi de 2,9% (“tinha diminuído 3,1% em 2022”).

Se no conjunto de 2023 esse valor foi, em média, de 1505 euros por posto de trabalho, no final desse ano o valor médio já estava nos 1670 euros (no quarto trimestre), o que representa um aumento de 5,7% em relação ao último trimestre de 2022, quando estava nos 1580 euros. Em termos reais, tendo em conta a inflação, o aumento foi de apenas 4%.

Segundo o INE, os salários aumentaram “em todas as dimensões de análise”, nos diferentes sectores de actividade económica, em empresas pequenas, médias, grandes, o mesmo tendo acontecido na administração pública.

Os maiores aumentos registados entre o quarto trimestre de 2022 e o de 2023 ocorreram nas indústrias extractivas (10%), nas empresas de um a quatro trabalhadores (6,5%), no sector privado (6,3%) e nas empresas de serviços de mercado com forte intensidade de conhecimento (9,5%), refere o instituto estatístico.

De um lado, com os valores médios mais baixos, estavam em Dezembro as actividades da agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca (nas quais os salários brutos estavam nos 975 euros) e, no lado oposto, com os valores mais altos, estão as actividades de electricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio (3674 euros).

Relativamente à dimensão dos empregadores, os dados do INE indicam que, no final do ano passado, “a remuneração total variou entre 1094 euros nas empresas com um a quatro trabalhadores, e 2025 euros nas empresas com 250 e 499 trabalhadores”. Na média de 2023, os valores ficaram em 1011 euros no grupo das pequenas empresas e nos 1804 euros no segundo caso.

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