Empresário da indústria musical Russell Simmons volta a ser acusado de violação

Alegado incidente terá ocorrido na segunda metade dos anos 1990. Queixa vem de mulher anónima que diz ter trabalhado na Def Jam, editora que Simmons fundou com Rick Rubin em 1984.

Foto
Russell Simmons tem sido alvo de várias acusações de abuso sexual nos últimos anos FRED PROUSER/REUTERS

O empresário da indústria musical Russell Simmons, que em 1984 fundou com o produtor Rick Rubin a importante editora Def Jam Recordings, está novamente a ser acusado de violação. Esta terça-feira, deu entrada num tribunal federal em Nova Iorque um processo em que uma mulher anónima, que diz ter trabalhado durante algum tempo na segunda metade dos anos 1990 como executiva e produtora de videoclipes na Def Jam, acusa Simmons de a ter violado no apartamento do próprio, onde a mulher alegadamente entrara para lhe mostrar uma versão de um videoclipe que se encontrava ainda em fase de edição e que Simmons necessitava de ver para aprovar.

A mulher refere no processo que, na altura, era uma prática comum levarem-se videoclipes ainda em fase de produção até ao apartamento de Simmons, localizado em Manhattan, Nova Iorque, para revisão. No dia do alegado incidente, Simmons, com quem a queixosa afirma ter mantido uma relação profissional relativamente normal no início, terá prendido a mulher à sua cama, posicionando-se sobre ela com força e autoridade, e praticado sexo sem consentimento. A mulher “disse-lhe repetidamente para sair de cima dela, mas ele recusou-se” e “violou-a”, escrevem os advogados no processo.

Após o alegado incidente, a mulher terá sentido dificuldade em executar as suas tarefas profissionais, devido a ataques de pânico regulares e a problemas relacionados com depressão e ansiedade. Ela terá deixado o seu emprego em 1997, pouco depois da suposta violação. Mas antes disso, terá sido assediada por Simmons diversas vezes nos escritórios da Def Jam. “Ele sentava-se na secretária dela, inclinava-se sobre ela e invadia agressivamente o seu espaço pessoal enquanto fazia insinuações e avanços sexuais, esfregando ainda a parte da frente das suas calças”, lê-se no processo, que defende ainda que o assédio terá adquirido uma dimensão tal que, muitas vezes, um executivo sénior da editora precisava de intervir, dizendo a Simmons para sair do escritório da mulher.

Segundo a acusação, “Simmons seguia a mulher até à porta ou bloqueava a sua passagem para a impedir de a abrir novamente”.

A queixa foi apresentada ao abrigo da Lei dos Sobreviventes Adultos (Adult Survivors Act), instrumento legal promulgado em 2022 que deu a vítimas de crimes sexuais um ano para submeterem os seus processos em tribunais de Nova Iorque, independentemente do tempo decorrido desde os alegados crimes, e da Lei da Violência Motivada por Questões de Género (Gender Motivated Violence Act).

O prazo para a apresentação de queixas ao abrigo do Adult Survivors Act, que segundo a agência Associated Press permitiu a formalização de mais de 2500 queixas — incluindo acusações mediáticas contra, por exemplo, Axl Rose, Bill Cosby, Donald Trump, Harvey Weinstein, Jamie Foxx, o português Nuno Lopes ou Russell Brand —, terminou no final de Novembro passado; não é, portanto, certo que o processo possa seguir em frente ao abrigo dessa lei.

A Pitchfork cita um comunicado emitido pelos representantes de Russell Simmons. “Nunca pratiquei sexo não consensual. Não o faria, não o fiz e nunca o farei”, diz o co-fundador da Def Jam, influente editora especializada em hip-hop e R&B contemporâneo.

Esta não é a primeira vez que o empresário da indústria musical é acusado de crimes sexuais. As queixas, aliás, têm-se amontoado nos últimos anos de #MeToo. Simmons, que na sequência das denúncias deixou os cargos que tinha nas suas várias empresas, tem sempre rejeitado as acusações. No início de 2018, Jennifer Jarosik acusou-o de a ter violado dois anos antes. Simmons e os seus representantes legais responderam que “o alegado encontro sexual (...) foi consensual”. Ambas as partes viriam a acordar o arquivamento do processo.​

Também em 2018, poucos meses depois de a queixa de Jarosik ter surgido, deu entrada no Tribunal Superior de Los Angeles um outro processo, de uma mulher anónima que também acusava o co-fundador da Def Jam de violação, neste caso alegadamente ocorrida em 1988. Em Novembro de 2020, o juiz Mark H. Epstein disse que o suposto crime já havia prescrito e Simmons foi ilibado.

Sugerir correcção
Comentar