Centro europeu alerta para expansão de bactéria multirresistente na Europa

Relatório do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças sobre a bactéria Klebsiella pneumoniae multirresistente hipervirulenta.

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Bactéria Klebsiella pneumoniae vista ao microscópio David Dorward/NIAID
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A bactéria multirresistente hipervirulenta Klebsiella pneumoniae está a aumentar na Europa, alertou esta quarta-feira o Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC), afirmando que subiram de 12 para 143 os casos reportados desde 2021.

Outra preocupação, segundo o ECDC, é o aumento de quatro para dez do número de países com casos registados de infecção com Klebsiella pneumoniae do tipo 23, bactéria hipervirulenta que tem adquirido cada vez mais variedade de genes associados à resistência aos antibióticos de último recurso utilizados para o tratamento de infecções graves.

O aumento de casos de Klebsiella pneumoniae multirresistente hipervirulenta (hvKp) é “motivo de preocupação, devido à gravidade das infecções, combinada com a resistência aos antibióticos de última linha, o que torna as infecções difíceis de tratar”, afirmou Dominique Monnet, chefe da secção de Resistência Antimicrobiana e Infecções Relacionadas com os Cuidados de Saúde do ECDC, citada num comunicado do organismo europeu.

“Espera-se que a disseminação de hvKp multirresistente em ambientes de saúde resulte em aumento da mortalidade entre populações de pacientes vulneráveis nesses ambientes”, advertiu o organismo.

De acordo com o ECDC, a avaliação rápida de risco actualizada “fornece provas da propagação sustentada de uma linhagem específica de hvKp ST23 (linhagem K1) entre unidades de saúde num país da União Europeia”, a Irlanda, durante um período de cinco anos, “apesar dos esforços de controlo reforçados".

Casos de hvKp ST23-K1 com potencial transmissão dentro do país também foram detectados em outros três países da União Europeia/Espaço Económico Europeu (UE/EEE), designadamente França, Letónia e Lituânia, o que nestes casos não foi até agora confirmado com investigações epidemiológicas detalhadas.

“Até agora, não foram confirmados como sendo provavelmente devido à transmissão dentro do país com dados epidemiológicos. Uma propagação semelhante dentro e entre unidades de saúde pode já ocorrer noutros países da UE/EEE com vigilância menos estabelecida”, reportou o ECDC.

O surgimento de casos da bactéria hipervirulenta combinada com a resistência a antibióticos de última linha é “preocupante”, pois, “em contraste com as estirpes clássicas da bactéria Klebsiella pneumoniae, as estirpes hvKp podem causar infecções graves em indivíduos saudáveis, muitas vezes complicadas pela disseminação para vários locais do corpo”, segundo o ECDC.

Anteriormente, as estirpes hvKp eram encontradas principalmente na Ásia e sobretudo adquiridas na comunidade, sendo raramente resistentes a antibióticos, explicaram os peritos.

No entanto, relatórios recentes apontam para um aumento da distribuição geográfica, da associação a cuidados de saúde e da resistência a múltiplos medicamentos.

“Com a convergência da virulência e da resistência antimicrobiana nas estirpes hvKp, existe a possibilidade de infecções potencialmente intratáveis em adultos previamente saudáveis. É de esperar uma morbilidade e mortalidade ainda mais elevadas se as estirpes hvKp resistentes aos antibióticos de última linha do grupo dos carbapenemas, se espalharem em ambientes de saúde e afectarem uma população de pacientes vulneráveis”, referiu o organismo europeu de controlo de doenças.

E em Portugal?

O ECDC sublinha a importância da detecção precoce. “As opções de resposta incluem alertas para médicos e laboratórios de microbiologia clínica, o estabelecimento de capacidade laboratorial suficiente para detectar casos de hvKp, incluindo sequenciação do genoma completo, a submissão de todos os casos suspeitos de hvKp com ou sem resistência antimicrobiana adicional a laboratórios nacionais de referência, e uma melhor prevenção de infecções”, bem como medidas de controlo em unidades de saúde, preconizou ainda.

“A recolha prospectiva de dados sobre casos de hvKp, incluindo dados epidemiológicos e clínicos sobre a infecção, transporte e factores de risco associados, melhoraria a compreensão das rotas nacionais de propagação e transmissão e determinaria a necessidade de maior vigilância”, lê-se na informação divulgada esta quarta-feira.

O relatório não refere Portugal. A agência Lusa contactou a Direcção-Geral da Saúde (DGS) sobre e eventual detecção de algum caso no país desta estirpe multirresistente hipervirulenta, não tendo obtido resposta até ao momento.

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