Sífilis e gonorreia: as doenças sexualmente transmissíveis estão a aumentar em Portugal

Sífilis e gonorreia estão a aumentar, enquanto as infecções pelo Vírus do Papiloma Humano diminuíram graças à vacinação. Liga Portuguesa Contra a Sida lança campanha para utilização de preservativo.

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Nos checkpoints do Grupo de Activistas em Tratamento há testes gratuitos contra o VIH, sífilis e hepatites Daniel Rocha (arquivo)
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Os casos de sífilis e gonorreia, doenças sexualmente transmissíveis, estão a aumentar em Portugal. Já as infecções pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV) registaram uma grande diminuição graças à vacinação, segundo adiantou a especialista Cândida Fernandes.

A médica responsável pela Consulta de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) no Hospital dos Capuchos, em Lisboa, que pertence à Unidade Local de Saúde (ULS) São José, adiantou à agência Lusa que se começou a assistir desde os anos 2000 a um aumento da sífilis, que se tem mantido, embora a um ritmo menor, e na última década o maior aumento tem sido de casos de gonorreia.

"São as duas infecções cujo aumento é mais marcado nesta fase", disse a dermatologista, que falava à agência Lusa a propósito do Dia Internacional do Preservativo, que se assinala no dia 13 de Fevereiro.

A clamídia também é uma infecção sexualmente transmissível "muito prevalente" em Portugal, mas o número de casos tem-se mantido estável, adiantou a especialista, ressalvando que o aumento das infecções sexualmente transmissíveis não acontece apenas em Portugal, mas também nos países europeus e ocidentais.

Por outro lado, a infecção pelo vírus do HPV, que há 20 anos era a causa mais frequente da consulta de DST, deixou praticamente de existir por causa da vacina que foi introduzida no plano nacional de vacinação em 2008. "Nas raparigas vacinadas deixámos praticamente de ter estas verrugas genitais [HPV] e também já se nota uma diminuição nos homens, portanto, isso é um dado muito positivo", disse a especialista, defendendo as vacinas como "medidas muito importantes na prevenção das infecções".

A consulta do Hospital de Santo António dos Capuchos funciona em regime de "porta aberta", acolhendo utentes de todo o país de forma gratuita, e a procura tem vindo a crescer de ano para ano: em 2021 foram realizadas 4411 consultas, número que subiu para 5157, em 2022, e para 5209 no ano passado.

"A nossa consulta é fundamentalmente de pessoas abaixo dos 40 anos, embora haja pessoas mais velhas", disse Cândida Fernandes, recordando que as medidas eficazes para prevenir estas doenças são o uso do preservativo e a vacinação contra as infecções para as quais existem vacinas, como o HPV e a Hepatite B, bem como fazer o rastreio.

Do ponto de vista epidemiológico, a especialista considera que "o controlo destas infecções tem sido sempre muito difícil" e que, ao longo dos anos, as medidas para as controlar "têm tido uma eficácia muito relativa". "No fundo, nunca houve uma medida de saúde que conseguisse mudar de forma consistente o comportamento das pessoas", lamentou a médica, que exerce há mais de 20 anos nesta consulta.

No caso do preservativo, Cândida Fernandes disse que houve sempre "uma reticência" relativamente ao seu uso: "O preservativo usado de forma consistente em todas as relações permite a diminuição marcada das infecções de transmissão sexual só que tem sido difícil que seja aceite a sua utilização".

Na altura em que a sida era uma doença mortal existia "um medo muito palpável" nas pessoas, que se protegiam mais, mas o tratamento eficaz da doença e o acesso à Profilaxia Pré-Exposição ao VIH (PrEP) "facilitaram a manutenção da transmissão das outras infecções que por causa disso têm aumentado".

Estes alertas coincidem com o lançamento da campanha "Abecedário do Namoro", promovida pela Liga Portuguesa Contra a Sida (LPCS) que pretende alertar para a importância do uso de preservativo para prevenir infecções sexualmente transmissíveis, que estão a aumentar em Portugal.

Preservativo, sempre

Na unidade móvel de rastreios da LPCS - que abrange os concelhos de Lisboa, Odivelas e Loures - há 89 utentes com VIH, 58 com hepatite B, 67 como hepatite C e 73 com sífilis, referiu a presidente da LPCS, Eugénia Saraiva.

"Estamos a falar apenas da unidade móvel, e não dos outros projectos, e destes últimos meses, o que poderá assustar qualquer pessoa que olhe e compreenda estes números, portanto a mensagem continua a ser a da prevenção", vincou aquela responsável, para quem, estes números, representam um aumento em relação aos outros anos, nomeadamente dos casos de sífilis.

"Não poderei dizer que é uma relação de causa-consequência, mas muitas das pessoas que são recomendadas para fazer a PREP [Profilaxia Pré-Exposição ao VIH] muitas vezes esquecem o uso do preservativo", admitiu.

Eugénia Saraiva realçou que este método de prevenção da infecção pelo VIH "é muito importante", e deve ser distribuído em maior número, principalmente junto dos casais sorodiscordantes (em que um dos parceiros é portador de VIH e o outro não), das populações mais vulneráveis, trabalhadores sexuais, utilizadores de droga, homens que têm sexo com homens, mas sempre associado ao uso do preservativo, porque não previne as outras infecções sexualmente transmissíveis (IST).

Alertou também para importância do rastreio das IST, sublinhando que o tratamento, além de melhorar a qualidade de vida da pessoa, interrompe a cadeia de transmissão destas infecções. "O que interessa é que as pessoas percebam que se não forem tratadas adequadamente podem provocar diversas complicações, ter maiores problemas com as co-infecções ou com as infecções que poderão vir a contrair", afirmou, salientando que o acompanhamento é gratuito no Serviço Nacional de Saúde.

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