Marcelo não vê eleições em risco mas avisa PSP e GNR que é preciso não perder apoio

Presidente da República considera que não houve ameaça de boicote às eleições e aconselha plataformas de polícias a pressionarem Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro.

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Presidente da República visitou a exposição fotográfica Factum, de Eduardo Gageiro. LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO
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O Presidente da República acredita que ficou esclarecido que a PSP e a GNR não ameaçaram "pôr em causa" a realização das eleições legislativas, mas avisa para a importância de, a "cada passo" que as forças de segurança derem neste processo, o fazerem mantendo o "apoio" dos portugueses. E isso implica não violarem a confiança e segurança que a população sente nas polícias nem porem em risco questões base da democracia como é um acto eleitoral.

"Ao longo da nossa história democrática, houve processos reivindicativos que, do princípio ao fim, mantiveram o apoio dos portugueses. Mas outros começaram com apoio e depois, a partir de determinado momento, por razões muito variadas, que têm a ver com a forma de luta escolhida, o apoio perde-se por cansaço – as pessoas ficam cansadas – com as consequências e houve incompreensão", apontou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, no final de uma visita a uma exposição fotográfica de Eduardo Gageiro, em Lisboa.​

Vincando "ser muito importante" que daqui até às eleições as forças de segurança "continuem a ter o apoio dos portugueses na base da confiança e da segurança", defendeu que PSP e GNR têm que, na sua contestação, encontrar formas de não violarem esse "sentimento de segurança" da população.

"Por exemplo, falou-se, a certa altura, da ideia de que poderia estar em causa a realização de eleições, que poderia haver obstáculos que dificultassem essa realização. Imediatamente isso foi esclarecido. E tinha que ser esclarecido porque não era bom para a luta das forças de segurança dar uma sensação de insegurança [à população]", defendeu o chefe de Estado. Que deixou assim uma crítica implícita a formas de luta mais radicais das forças de segurança, depois de António Costa ter dado uma resposta mais ríspida à carta da plataforma de sindicatos, considerando que um boicote seria "um acto grave de traição à democracia".

"Não há maior insegurança do que dizer 'bem... pode não haver eleições'. Eleições são um fusível de segurança da democracia. É a mesma coisa que dizer 'nós não garantimos a segurança da democracia'", comparou o Presidente da República que insistiu que "foi esclarecido, e bem", numa referência às declarações de Armando Ferreira, presidente do Sinapol, que, no sábado à noite, na sequência dos problemas à volta do jogo de futebol entre Famalicão e Sporting, admitiu que os protestos possam levar a um boicote ao transporte das urnas e dos boletins de voto a 10 de Março.

Para Marcelo há um perigo de que os polícias percam a razão no protesto se houver problemas durante as eleições. Porém, insiste que não teve "dúvidas" de que alguém "poria em causa as eleições". "Umas eleições livres, democráticas, universais e igualitárias foram uma das grandes lutas (...) portanto, não pode haver nenhum processo reivindicativo, não pode haver nenhum problema, por muito justo que seja o protesto que possa levantar dúvidas sobre a realização de eleições", defendeu o chefe de Estado.

O Presidente da República procurou retirar a carga negativa dos protestos sobre o actual Governo, considerando que se tem falado muito sobre "o passado" e que se deve falar mais sobre o futuro. Ou seja, um recado para que a plataforma de sindicatos vire a bitola da pressão para os líderes dos partidos candidatos às eleições, porque quem poderá resolver o assunto não é quem está a dois meses de sair – isto é, este primeiro-ministro e este ministro da Administração Interna.

"O que interessa verdadeiramente é olhar para os protagonistas do futuro e já [se] sabe quais são. Eles debatem todos os dias na televisão", apontou, numa referência aos debates das legislativas. Até porque todos concordam que a situação destas forças de segurança tem que ser resolvida, salientou, comprometendo os futuros vencedores com uma solução. E actualmente está apenas a viver-se um "período transitório, com um governo de gestão que está a terminar a sua actuação".

Daí o seu incentivo para que os polícias actuem junto dos "que poderão ser primeiros-ministros e ministros no futuro, integrantes de soluções políticas governativas".

"Não tenho dúvidas de que, não digo daqui a um mês, mas daqui a dois, três, quatro meses, um governo que saia [destas eleições], uma das preocupações que tem como prioritária é corresponder àquilo que é uma legítima aspiração. [E faça] a correcção ou compensação de uma desigualdade", afirmou.

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