A Costa do Marfim não desiste da sua CAN: “Morremos, mas ressuscitámos”

Depois de despedir o treinador sem saber se passavam da fase de grupos, os “Elefantes” disputam nesta quarta-feira o acesso à final com a República Democrática do Congo.

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Seiko Fofana celebra o apuramento da Costa do MArfim para as meias-finais da CAN Reuters/LUC GNAGO
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A Taça das Nações Africanas (CAN) 2024 ainda não acabou, mas já teve um treinador internado de urgência (Aliou Cissé, Senegal), outro suspenso por oito jogos (Adel Amrouche, Tanzânia) e seis que foram despedidos. A última “vítima” foi Rui Vitória, cujo contrato com o Egipto foi rasgado depois de uma CAN em que foi eliminado nos oitavos-de-final sem ter vencido um único jogo (nem na fase de grupos). Um dos primeiros a cair foi Jean-Louis Gasset, treinador francês da Costa do Marfim, despedido logo após o último jogo da fase de grupos, uma derrota por 4-0 com a Guiné Equatorial. Só que a equipa do país organizador da CAN ainda não estava eliminada. E, duas semanas depois, continua em prova.

Os “elefantes” vão, nesta quarta-feira, disputar com a República Democrática do Congo o acesso à final da CAN (20h, SPTV2), depois de quase três semanas em que foram várias vezes dados como mortos, até pela maior “estrela” de sempre do futebol marfinense. Depois da goleada sofrida com a Guiné, Didier Drogba quase que deu a selecção do seu país como eliminada. “Temos de voltar ao trabalho, fazer as perguntas certas e tomar as decisões certas. Um país como a Costa do Marfim não pode organizar uma competição como esta e ser eliminado tão cedo”, dizia o antigo avançado do Marselha e do Chelsea.

Nem a própria federação foi muito meiga quando mandou embora o treinador francês, mesmo sem saber o destino da equipa na competição. No comunicado, não houve aqueles agradecimentos de circunstância e desejos de felicidades para o futuro. Antes, um despedimento por “resultados insuficientes contrários aos objectivos definidos” e um “lamento pelo percurso na fase de grupos”, anunciando de imediato o processo de recrutamento para um treinador novo e entregando a equipa a um técnico interino.

Só que a Costa do Marfim continua. “Morremos, mas ressuscitámos”, disse há poucos dias Emerse Faé, o interino que ficou a tomar conta da equipa após o despedimento de Gasset e do seu adjunto. É uma frase feliz porque se aplica a vários momentos da carreira dos “Elefantes” durante a CAN.

Primeiro, a forma como se qualificou na fase de grupos, a depender de terceiros. A Costa do Marfim tinha vencido o primeiro jogo (2-0 à Guiné-Bissau) e perdido os dois seguintes (1-0 com a Nigéria, de José Peseiro, e 4-0 com a Guiné Equatorial). Os três pontos só chegaram para o terceiro lugar no Grupo A, mas os “elefantes” ainda podiam ser repescados como um dos quatro melhores terceiros entre os seis grupos. Só no último dia da fase de grupos, com o triunfo de Marrocos sobre a Zâmbia (1-0), é que a equipa da casa festejou.

Afinal, Emerse Faé ainda tinha trabalho para fazer. Antigo médio nascido em França e internacional pelas selecções jovens dos “bleus”, Faé passou quase toda a carreira na Ligue 1 (Nice e Nantes) e foi internacional pela Costa do Marfim (participou em três edições da CAN e num Mundial), antes de se retirar e fazer a aprendizagem como treinador na formação do Nice. Depois, passou a adjunto na selecção e o jogo dos oitavos-de-final, contra o Senegal, iria ser o seu primeiro como treinador principal de uma equipa sénior.

Mais uma vez, a Costa do Marfim parecia morta e enterrada frente aos detentores do título, depois de estar a perder desde os 4’. Mas um penálti convertido aos 86’, por Kessié, levou o jogo para prolongamento, onde o empate não se desfez. E foi o mesmo Kessié a marcar o penálti final que valeu o apuramento. “Depois do que aconteceu, não tínhamos nada a perder. Como se costuma dizer, os fantasmas não podem ter medo”, disse o herói Kessié, após o jogo.

Milagre seguinte, o jogo dos quartos-de-final contra o Mali. A perder por 1-0 e a jogar com menos um, a Costa do Marfim empatou com um golo de Adringa, aos 90’, e houve mais meia-hora de jogo, mas não foram precisos penáltis, graças ao calcanhar de Oumar Diakité, aos 120’. E fez tudo sem Ousmane Diomande, o jovem central do Sporting que era tido como uma das “estrelas” em ascensão dos “elefantes” – depois do penálti que cometeu frente à Nigéria, desapareceu da equipa e nem para o banco tem ido.

Agora, a Costa do Marfim já tem algo a perder, a possibilidade de ir à final da CAN pela quinta vez e a perspectiva de um terceiro título de campeão africano – que teria um especial sabor por ser em casa. Já não são fantasmas, como dizia Kessié. “Seria uma mentira dizer agora que não temos nada a perder”, reforçava o seleccionador interino na antecipação do jogo com o Congo. “Esforçámo-nos tanto para voltar a colocar a cabeça fora de água que não vamos desistir só porque sentimos a pressão de chegar a uma final.”

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