O ónus da ingovernabilidade nos Açores

Na realidade, neste momento da vida política do país, nem mesmo uma maioria absoluta é garantia de estabilidade. A lista de razões que podem levar à queda de um executivo é longa.

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Os resultados das eleições nos Açores são demasiado complexos para se esperar uma solução rápida de Governo e, eventualmente, duradoura.

A coligação PSD-CDS-PPM obteve uma vitória clara, legítima e digna, consolidada pelo crescimento da ala direita na região — que tem agora 32 deputados —, mas esse resultado pode não ser suficiente para que o futuro governo regional tenha uma vida longa e estável. Na realidade, neste momento da vida política do país, a lista de razões que podem levar à queda de um executivo é longa e vai muito além da falta de apoio parlamentar e nem mesmo uma maioria absoluta é garantia de estabilidade.

Independentemente de quaisquer imprevistos, os resultados dos Açores são importantes porque podem ser a antecâmara das legislativas de Março.

A sondagem mais recente do Cesop para o PÚBLICO, a RTP e a Antena 1, divulgada nesta segunda-feira, aponta um caminho idêntico: o da estabilização da diferença entre a AD e o PS, com a primeira a distanciar-se pela positiva e a direita a crescer além dos 50% (com uma grande ajuda de André Ventura). Quanto a um eventual governo, nada indica que venha a existir uma maioria absoluta, tal como nada o indicava em 2022 — e veio a acontecer, é preciso dizê-lo.

Tendo em conta esse cenário, a clarificação feita por José Manuel Bolieiro quando disse que está preparado governar em minoria (com 26 dos 57 deputados) permitiu a Luís Montenegro respirar de alívio a nível nacional. Ao dispensar o apoio de outros partidos, optando por fazer pontes para uns e para outros, o líder da "AD açoriana" contribuiu para a ideia de que a Aliança Democrática não terá dois pesos e duas medidas. Nos Açores e no continente, só há uma mensagem: “Não é não.” Mesmo que isso signifique um longo caminho até à formação do governo.

E esse é um ponto relevante: ao rejeitar "negócios" com os que o deixaram pendurado no passado recente, Bolieiro mostrou coragem, mas arrisca-se a ter um caminho penoso pela frente. É que o PS de Pedro Nuno Santos já respondeu ao desafio e fez saber que defende o chumbo do programa do governo. A opção não é consensual entre os socialistas e a decisão final ficará nas mãos do PS-Açores, mas o líder nacional preferia que o executivo não fosse viabilizado pelos socialistas. Numa estratégia puramente política, Bolieiro tentou passar o ónus da ingovernabilidade para o PS e, se o PS acabar a votar ao lado do Chega nos Açores, isso significa que conseguiu.

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