Com o Governo dividido, Netanyahu mostra cautela sobre acordo para libertar reféns

Primeiro-ministro diz que Israel não quer um acordo “a qualquer preço”. Ministro da Segurança Nacional critica Joe Biden e apoia Donald Trump.

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Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel EPA/ABIR SULTAN / POOL
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O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou este domingo que Israel não está disposto a aceitar um acordo a qualquer preço para libertar os reféns detidos pelo Hamas, numa altura em que aumentam de tom as divergências na sua coligação quanto à pressão dos Estados Unidos para aumentar a ajuda humanitária em Gaza.

Os comentários de Netanyahu foram feitos após o mais recente episódio de uma disputa de coligação entre partidos nacionalistas religiosos que se opõem a quaisquer concessões aos palestinianos e um grupo centrista que inclui antigos generais do exército.

“Os esforços para libertar os reféns continuam a todo o momento”, disse Netanyahu antes de uma reunião do Conselho de Ministros. “Como também enfatizei no Gabinete de Segurança, não vamos concordar com todos os acordos, e não a qualquer preço".

O primeiro-ministro pareceu também repreender o seu ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, de extrema-direita, que pretende que os colonos judeus regressem a Gaza e que criticou o Presidente dos EUA, Joe Biden, o mais firme aliado de Israel, por ter insistido na entrega de ajuda humanitária ao enclave.

“Em vez de nos dar todo o seu apoio, Biden está ocupado a dar ajuda humanitária e combustível [a Gaza], que vai para o Hamas”, disse Ben-Gvir numa entrevista ao Wall Street Journal, na qual apoiou abertamente Donald Trump, o provável rival de Biden nas eleições presidenciais americanas de Novembro.

“Se Trump estivesse no poder, a conduta dos EUA seria completamente diferente”, afirmou o ministro.

Sem nomear Ben-Gvir diretamente, Netanyahu, que tem tido uma relação por vezes tensa com Biden, rejeitou o comentário, que surgiu no momento em que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, preparava mais uma visita à região.

“Não preciso de qualquer ajuda para navegar nas nossas relações com os EUA e a comunidade internacional, ao mesmo tempo que mantenho firmemente os nossos interesses nacionais”, disse Netanyahu.

Em resposta à entrevista de Ben-Gvir, o antigo político da oposição Benny Gantz, que se juntou ao governo de emergência no ano passado, publicou uma mensagem de agradecimento a Biden, dizendo: “O povo de Israel recordará para sempre a forma como defendeu os direitos de Israel numa das nossas horas mais difíceis”.

O confronto pôs em evidência o clima político tenso que se vive em Israel quatro meses após o ataque devastador perpetrado por homens armados do Hamas em Outubro, que causou a morte de cerca de 1200 pessoas, segundo os dados israelitas, e levou cerca de 240 pessoas para Gaza como reféns.

Em resposta, Israel arrasou vastas áreas de Gaza numa campanha implacável que matou mais de 27.000 pessoas, segundo as autoridades sanitárias palestinianas, e obrigou a maioria dos 2,3 milhões de habitantes a fugir das suas casas.

O conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou que os Estados Unidos continuarão a tentar obter mais ajuda para Gaza, que enfrenta uma grave crise humanitária.

“E isso significa pressionar Israel sobre questões relacionadas com a assistência humanitária que temos ajudado a desbloquear e a fazer chegar à Faixa de Gaza, e que precisa de ser muito mais”, disse ao programa Face the Nation, na CBS.

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