Falsos Lentos: o podcast sobre futebol em que o desporto-rei é acessório

Humoristas Diogo Batáguas, Carlos Coutinho Vilhena e Manuel Cardoso formam o painel do podcast. No Falsos Lentos fala-se de tudo um pouco, algo que atrai fãs do Desporto e não só.

NFS Nuno Ferreira Santos - 15 Janeiro 2024  - gravacao do podcast Falsos Lentos com Diogo Bataguas , Carlos Coutinho Vilhena e Manuel Cardoso
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Diogo Batáguas, Carlos Coutinho Vilhena e Manuel Cardoso no podcast Falsos Lentos NFS Nuno Ferreira Santos?
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Manuel Cardoso é o representante do Benfica NFS Nuno Ferreira Santos?
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Diogo Batáguas é o adepto portista NFS Nuno Ferreira Santos?
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Carlos Coutinho Vilhena representa o Sporting NFS Nuno Ferreira Santos?
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Falta pouco mais de uma hora para o arranque do podcast Falsos Lentos e os três protagonistas esperaram pela hora de jantar para começar a preparar o alinhamento. Entre entradas e imperiais, discutem-se os acontecimentos futebolísticos da semana dignos de nota. A preparação mínima ou ausência de guião é um dos ingredientes que "abre o apetite” aos ouvintes: uma goleada pode não ter grande destaque – ou até mesmo ser ignorada –, enquanto uma trivialidade inesperada pode ocupar grande parte do tempo do episódio.

Diogo Batáguas (FC Porto), Carlos Coutinho Vilhena (Sporting) e Manuel Cardoso (Benfica), três humoristas com grande relevo no panorama nacional, formam o painel do programa. O primeiro episódio foi para o ar em Fevereiro de 2021, poucos meses após SIC e TVI renunciarem à “toxicidade” dos programas de comentário semanal com representantes dos “três grandes”. Apesar de o podcast ter surgido como resposta à paragem de espectáculos ditada pela pandemia e o timing ser mera coincidência, os humoristas reconhecem a inspiração nas zaragatas e picardias entre comentadores características desses formatos.

“Chegámos à conclusão de que devíamos mimetizar aqueles programas meio ‘javardos’ de bola, mas sem a componente tóxica”, começa por dizer Diogo Batáguas. Durante os 90 minutos de jogo, a rivalidade e as provocações fazem parte do futebol, disso não haja dúvida. A transposição destes sentimentos de raiva para a vida quotidiana é, porém, uma perda de tempo, algo que esta hiperbolização emotiva encenada ajuda a demonstrar. “Quando estou prestes a andar à porrada [por causa do futebol] – e as pessoas que participavam nesses programas tinham uma vida pública muito séria – torna-se engraçado e ridículo”, sentencia Manuel Cardoso.

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Humoristas ultimam preparativos para o episódio Nuno Ferreira Santos

A produtora Kilt é a responsável pelo podcast, patrocinado por uma casa de apostas. Na prática, Falsos Lentos replica a conversa de milhares de amigos espalhados pelo país em inúmeros cafés. Às segundas-feiras, os humoristas aproveitam para colocar a conversa em dia e falar dos jogos do fim-de-semana que findou. Quem não vence tenta levar a conversa por outros caminhos que não o do desporto-rei. Os restantes não deixam cair o desaire em esquecimento. Tudo num registo leve e de acesso fácil aos que nem ligam tanto assim a futebol.

“O que safa isto é a nossa prioridade em sermos humoristas e não adeptos que acham que percebem de futebol. Se fôssemos para aí, o conteúdo não seria interessante. O único ângulo que podemos dar é uma visão com graça da coisa. Até acho que já houve algumas experiências de pessoas que não são do futebol a falar dele e passavam sempre para o lado emotivo e irracional”, analisa Carlos Coutinho Vilhena.

Um dos objectivos assumidos é “sabotar a formalidade” com que se fala de futebol na comunicação social. Conversas sobre tácticas, exploração de espaços interiores e outro léxico mais especializado fica à porta.

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Adereços são guardados nos estúdios da produtora Kilt Nuno Ferreira Santos

O regresso ao futebol

Com rubricas de sucesso no Youtube e espectáculos a solo que esgotam salas por todo o país, os três humoristas conseguiram trazer muitos dos fãs para o podcast, mesmo os que não eram espectadores de futebol. A atenção a este público, que sintoniza o Falsos Lentos não tanto pelo conteúdo mas sim pelos intervenientes, é outra das receitas para o sucesso do podcast, actualmente transmitido em directo e acessível nas plataformas de streaming.

“Já recebi mensagens de pessoas que reacenderam a chama pelo futebol porque começaram a ver isto como um grupo de amigos. Quando há uma semana em que não se passa nada, já tivemos episódios em que não se falava nada de desporto. Somos capazes de ter muito público que não está a par da actualidade do futebol, mas ouve na mesma por esta conversa de amigos”, adianta Coutinho Vilhena. O importante, acrescenta Diogo Batáguas, é “não fechar as portas da conversa para o mundo extra-futebol”, de histórias giras, a comida, ou qualquer outra coisa que surja no momento.

O painel divide-se pelos “três grandes”. De todos os humoristas, Carlos Coutinho Vilhena é o que acompanha a equipa com maior distanciamento. Apesar das centenas de quilómetros que o separam do Porto, Batáguas assume-se como portista ferrenho e vê as partidas na televisão sempre que possível. Já Manuel Cardoso tenta ser presença assídua no Estádio da Luz. Mesmo participando num podcast sobre futebol, assistir aos jogos não é necessariamente uma obrigatoriedade.

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Produtores destacam boa-disposição da equipa que faz Falsos Lentos Nuno Ferreira Santos

“Acho que não ajuda assim tanto ver muito futebol tendo em conta o que o podcast se tornou. Gosto muito de ver Premier League, mas acho que dissemos três vezes a palavra ‘Guardiola’, falamos pouco do Haaland. No fundo, a estratégia é estar com o olho mais apurado para ver as coisas mais ridículas do futebol. Vamos compilando e enviando uns aos outros”, detalha Manuel Cardoso.

"A velha" de 22 anos

Outro das particularidades que ajudam Falsos Lentos a tornar-se um programa de culto passa pela criação de personagens periféricas. A voz aguda e suave valeu a alcunha de "velha" a João Batista, jovem de 22 anos que trabalha para a Kilt. O cognome não lhe agrada muito ao início, mas já o vê como uma forma de carinho.

"É um trabalho de sonho estar com esta gente. São pessoas porreiras, além do humor", adianta. Raro é o episódio em que "a velha" não apareça, geralmente acossado após errar na pesquisa pedida pelos humoristas.

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Podcast não se limita a discutir futebol (bem pelo contrário) Nuno Ferreira Santos

No caso mais recente, colocou por lapso a música The Best, da autoria de Tina Turner, após serem pedidos vídeos da gala The Best da FIFA. O erro aconteceu poucos minutos antes do início do episódio e foi mencionado no programa, catapultando João Batista para a ribalta uma vez mais. "Vou aos espectáculos e reconhecem-me, pedem para tirar fotos comigo. É giro", admite, com um sorriso nos lábios.

Todas as segundas-feiras, os humoristas têm encontro marcado para mais um episódio. A partir das 21h30, ligam-se as câmaras e tem início mais um Falsos Lentos.

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