SNS recuperou capacidade de resposta cirúrgica ao cancro depois da pandemia

Estudo da DGS analisa tempo médio de espera entre 2019 e 2021. Nesse período, passou de 38 para 35 dias. Cobertura de rastreios melhorou, mas ainda está aquém do desejado.

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DGS analisou resposta do SNS aos casos de cancro entre 2019 e 2020 Rui Gaudêncio
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O Serviço Nacional de Saúde (SNS) recuperou a capacidade de resposta nas cirurgias a doentes com cancro, depois da diminuição verificada por força da pandemia de covid-19. De acordo com dados da equipa do programa nacional para as doenças oncológicas apresentados nesta sexta-feira, o número de dias de espera por uma cirurgia oncológica baixou em 2021 e foi, aliás, menor face ao período pré-pandémico. Contas feitas: em 2021, o tempo médio de espera fixou-se nos 35 dias (em 2019 eram 38).

“Ao longo deste triénio [2019 a 2021], o tempo de espera foi diminuindo, aumentando em 2020 pela covid-19. Mas, apesar do aumento de actividade cirúrgica, o tempo de espera diminuiu em 2021. Conseguimos ter elasticidade para recuperar e operar estes doentes”, disse Donzília Brito, do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da Direcção-Geral de Saúde (DGS), durante a sessão comemorativa do Dia Mundial de Luta Contra o Cancro, que se assinala no domingo, promovida pela autoridade nacional de saúde, em Lisboa. A melhoria do desempenhou ocorreu em simultâneo com aumento do número de doentes operados”, realçou ainda.

Focando os recursos limitados, tanto humanos como tecnológicos, a responsável deu conta de que, durante o triénio, houve 260.685 saídas da lista de inscritos para cirurgia. Um universo que se traduziu em cerca de 136 mil procedimentos. Desses, 63% do total foram identificadas como cirurgias oncológicas, 34% como não oncológicas e não existia informação em relação a 3%.

Em termos globais, o volume de cirurgias oncológicas aumentou, sendo que 73% dos procedimentos aconteceu em unidades hospitalares com alto volume de cirurgias (mais de 1000 por ano). Não é por isso de estranhar que tenham sido os Institutos Portugueses de Oncologia (IPO) do Porto e de Lisboa os que registaram maior volume operatório. Por patologia, a maior fatia de operações realizou-se aos cancros da pele (não melanoma), mama, bexiga, cólon e recto, estômago e próstata.

Recorde-se que, de acordo com uma análise da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) sobre os tempos de espera no SNS, no primeiro semestre de 2023, na área de oncologia foram realizadas 30.697 cirurgias programadas nos hospitais públicos, o que equivale a menos 1% face a igual período de 2022. Cerca de 19% dos doentes com cancro operados em hospitais públicos nesses primeiros seis meses do ano foram atendidos com tempos de espera superiores ao estabelecido na legislação, uma percentagem que aumenta para 32% nas cirurgias cardíacas.​

Durante a apresentação desta sexta-feira, Donzília Brita sublinhou que todas as instituições diminuíram os seus tempos máximos de resposta garantidos (TMRG), à excepção dos IPO. Quando comparamos o não cumprimento dos TMRG com o volume cirúrgico global verificamos que todos aumentaram o volume cirúrgico em 2021, alguns significativamente”, justificou. E não deixou de criticar a métrica utilizada nestes cálculos, considerando-a desadequada ao contexto oncológico porque as definições entre tempos de espera e TMRG são um bocadinho diferentes”. Portanto, é difícil de avaliar e de auditar se os tempos de contagem são diferentes e, nesse contexto, todos sabemos que em oncologia a decisão do tratamento acontece em sede de grupo multidisciplinar”, completou a responsável.

Cobertura de rastreios ainda aquém

Quanto aos rastreios oncológicos, de acordo com os dados preliminares relativos a 2023 também apresentados durante a sessão por Cristina Portugal, do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da DGS, parecem estar também ultrapassados os constrangimentos criados pela pandemia, à semelhança do que já acontecia no ano anterior, conforme noticiou o PÚBLICO nesta sexta-feira.

No tocante ao rastreio ao cancro da mama, desde 2021 que a taxa de cobertura populacional é superior a 90%, tendo-se fixado nos 98% em 2023. É uma das metas que está prevista para 2025, mas que nós já conseguimos atingir”, disse a responsável. A adesão (ou seja, o número de mulheres que, efectivamente, fez a mamografia) cresceu de 51%, em 2022, para 55% no ano seguinte. São números que se traduzem num universo de 419.010 mulheres rastreadas.

Mas ainda há um longo caminho a fazer no caso dos cancros do colo do útero e do cólon e recto para se atingirem as metas europeias. Nestes dois casos, foram cobertos 60% e 34%, respectivamente, da população elegível, bem abaixo do objectivo de 90%.​

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