"Quando era mais jovem, achava que a verdade acontecia na sala de tribunal, durante um julgamento. Mais tarde, percebi que é um lugar ficcional, onde há duas ficções, e a verdade encontra-se no meio delas. Aquele não é o lugar onde a verdade vem ao de cima. Temos de ser nós a decidir", disse Justine Triet no New York Film Festival.

Com esta frase, a realizadora de Anatomia de Uma Queda, filme-sensação, candidato a cinco Óscares e 11 Césares, agora nas salas portuguesas, explica porque é que o tribunal é um lugar de cinema.

Anatomia de Uma Queda não é caso único. Saint OmerO Julgamento e O Processo Goldman, todos recentes, desafiam a fórmula do cinema de tribunal, explica Susana Bessa.

No filme de Triet, o marido suicidou-se, foi vítima de um acidente ou foi empurrado da varanda? No mundo da realizadora francesa, que "é demasiado próximo do nosso caos, há uma crispação entre os sexos, o poder é para ser conquistado, as revoluções fazem rolar cabeças — ou quedas de varandas", escreve Vasco Câmara. "Os prémios e a Internet transformaram Anatomia de Uma Queda no filme que se vai ver disposto a gostar."

É "um clássico moderno", entusiasma-se Mário Lopes. É Three Bells, novo disco de Ty Segall onde andam às turras "sons límpidos e ruído abrasivo, o acústico e o eléctrico, garage, prog, folk, jazz cósmico, rock’n’roll".

Herói underground, Ty Segall partilhou com o Ípsilon uma boa teoria sobre o aparente ocaso (mainstream) do género: "(…) o rock’n’roll foi a música mais popular durante tempo demais. É bom que já não seja, de forma a que possa reconstruir-se e voltar a ser relevante, intenso e urgente".

A família de Vigdis Hjorth sentiu-se exposta em Herança, que se tornou um dos maiores fenómenos da actual literatura norueguesa. A escritora esteve recentemente em Portugal e conversou com Isabel Coutinho sobre livros e cismas familiares.

Escreve-se "wimmin" porque "women" termina com "men" e as Figs in Wigs, com humor, não gostam disso. No Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, sábado e domingo, Little Wimmin adapta o clássico de Louisa May Alcott Mulherzinhas sem um pingo de reverência – mas com uns quantos de margarita. "Uma desconcertante peça de teatro, dança, música e alterações climáticas metidas a martelo", elogia Gonçalo Frota.

Vai de Orgulhosamente Muitos… (1978), de José Dias, a denunciar as "maldades" feitas à iconografia de Salazar no pós-25 de Abril, a Grândola, de Gunten Karau e Jochen Moll, dois dos estrangeiros que vieram documentar a revolução e os dias seguintes. Vai da quase punk Auto-Photo Biografia (não autorizada) de Mário Viegas ao Livrinho Vermelho do Galo de Barcelos, "sátira visual, entre a escatologia e a anarquia". Após quatro anos de recolha e investigação, eis Livros de Fotografia em Portugal: Da Revolução ao Presente, um retrato da produção editorial com imagem impressa nos últimos 50 anos.

Também neste Ípsilon:

- A saga Millennium continua, com A Rapariga nas Garras da Águia, de Karin Smirnoff;

- Novos e óptimos discos: Montañera, ML Buch e Mary Halvorson;

- Recensões menos encomiásticas a Teoria das Nuvens, romance de Mário Cláudio, e aos filmes Encontro e O Falsificador;

Calma, Larry! chega à derradeira aventura? Responde Tracey Ullman – ou Irma Kostroski (só disponível, para já, na edição impressa)

- Na pintura de Teresa Murta, descansamos sem paz (só disponível, para já, na edição impressa);

Boas leituras!


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