Subsecretário da Cultura acusado de furtar pintura demite-se do Governo italiano

Vittorio Sgrabi, também investigado por cobrar dinheiro para aparecer em eventos culturais, anunciou a sua decisão esta sexta-feira em Milão.

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A Captura de São Pedro, que Vittorio Sgarbi diz pertencer-lhe dr
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Vittorio Sgrabi Bruno Cordioli/wikicommons images
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Um dos subsecretários de Estado do Ministério da Cultura italiano, Vittorio Sgarbi, acusado de receber dinheiro pela sua participação em eventos culturais e suspeito de ter conspirado para furtar e adulterar uma pintura do século XVII, anunciou esta sexta-feira a sua demissão em Milão, onde participava numa conferência.

“Demito-me com efeitos imediatos e comunicá-lo-ei, nas próximas horas, à primeira-ministra Giorgia Meloni”, afirmou Sgarbi, um dos três subsecretários do ministro da Cultura, Gennaro Sangiuliano.

Crítico, historiador e coleccionador de arte, e também um conhecido apresentador de programas televisivos, Sgarbi não mencionou a mais recente acusação de que foi alvo — estar na posse de uma pintura furtada em 2013 de um castelo no Piemonte, que teria mandado adulterar para a tornar menos reconhecível —, e preferiu centrar-se na investigação desencadeada já em Outubro pela Autoridade da Concorrência, que o acusou de cobrar ilegalmente honorários por serviços de consultoria e pela sua presença em conferências e outros acontecimentos culturais.

Segundo o jornal Il Fatto Quotidiano, em menos de um ano, Vittorio Sgarbi que é também o fundador e líder do partido Renascimento, que integra a coligação de direita liderada por Giorgia Meloni, dos Irmãos de Itália , terá embolsado cerca de 300 mil euros com estas actividades paralelas.

“Dei ocasionalmente, e as ocasiões também podem ser diárias, conferências como esta", disse Sgarbi, aludindo ao evento em que participava em Milão, promovido pelo jornalista Nicola Porro. “Segundo a Autoridade da Concorrência, esta conferência seria incompatível, ilícita, fora-da-lei, de modo que, para evitar que sejam todos cúmplices de um crime, a partir deste momento sou apenas Sgarbi, já não sou subsecretário”, explicou ao público que o ouvia.

Novo escândalo

Atacou ainda o ministro da Cultura, que responsabiliza por ter dado seguimento a duas cartas anónimas que o denunciavam. “Quem aceita cartas anónimas não tem dignidade; não falo com Sangiuliano desde 23 de Outubro, quando me encarregou de tratar da Garisenda”, uma torre medieval em Bolonha que se está a inclinar tanto como a de Pisa e que ameaça ruir.

Envolvido em diversas controvérsias em 2012 foi afastado pela ministra do Interior da presidência da Câmara de Salemi, por alegadamente ter propiciado a entrada da máfia nos negócios municipais , Sgarbi envolveu-se há poucos dias num novo escândalo quando foi filmado a insultar um jornalista e a berrar-lhe que ficaria contente se o repórter morresse num acidente de viação.

O jornalista estava justamente a investigar o alegado furto do quadro, que o agora ex-governante continua a negar. O caso remonta a 2013, quando A Captura de S. Pedro, do pintor maneirista Rutilio di Lorenzo Manetti, foi furtada do castelo de Margherita Buzio. Segundo uma reportagem televisiva da RAI, o castelo fora visitado pouco antes por uma pessoa das relações de Sgarbi, que teria feito perguntas sobre aquela pintura.

A obra reapareceu em 2021 numa exposição em Lucca, já como sendo propriedade de Sgarbi, e mostrando agora uma vela no canto superior esquerdo, que este teria mandado acrescentar para iludir que se tratava da obra roubada a Margherita Buzio. Esta é a tese da acusação. Vittorio Sgarbi insiste que a sua pintura é a original e que a que foi furtada do castelo era uma falsificação medíocre realizada no século XIX.

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