Portugal exportou quase 26 toneladas de cannabis desde 2019

Infarmed diz estar a avaliar três pedidos de autorização para colocação no mercado de três substâncias e 12 preparações à base da planta de cannabis.

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Actualmente, existem em Portugal 21 empresas com licença para cultivo da cannabis para fins medicinais Sergio Azenha (arquivo)
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Perto de 26 toneladas de cannabis cultivadas e produzidas em Portugal foram exportadas desde 2019, ano em que foi legalizado o uso desta planta para fins medicinais. É um aumento superior a 1200%, revelam dados do Infarmed.

Só em 2022, último ano com dados completos, foram exportadas 9,2 toneladas, um aumento de 1207% em relação aos 709 quilos exportados em 2019, após a entrada em vigor da lei em 1 de Fevereiro desse ano.

Nos primeiros seis meses de 2023, foram exportadas 5,4 toneladas, representando 58,6% do total exportado em todo o ano de 2022.

A Alemanha, Polónia, Austrália, Espanha e Malta foram os principais destinos da cannabis exportada por Portugal no primeiro semestre do ano, adianta a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) num balanço feito à agência Lusa a propósito dos cinco anos da entrada em vigor da lei.

Actualmente, existem em Portugal 21 empresas com licença para cultivo da cannabis para fins medicinais, 13 para fabrico, 27 com licenças para importação e exportação e 15 para comercialização.

O Infarmed adiantou que está a avaliar três pedidos de autorização para colocação no mercado de três substâncias e 12 preparações à base da planta de cannabis.

Desde que foi aprovada em 2021 a comercialização da primeira, e até agora única, preparação à base cannabis em Portugal, foram vendidas 1913 embalagens do produto, que consiste em flores secas da planta cannabis sativa, contendo 18% de tetrahidrocanabinol (THC) e menos de 1% de cannabidiol (CBD).

Em Portugal, está também autorizada e venda dos medicamentos Sativex (para o tratamento de doentes adultos com espasticidade moderada a grave devida a esclerose múltipla) e Epidiolex, para epilepsia grave em crianças.

Dados do Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR) da Associação Nacional de Farmácias avançados à agência Lusa indicam que, no total, já foram vendidas 3321 embalagens dos dois medicamentos.

Fazendo um balanço dos cinco anos da lei, a presidente da direcção do Observatório Português de Canábis (OPC), Carla Dias, afirmou que "alguma coisa mudou, mas está muito longe de ser suficiente para os doentes".

"Em 2021 tivemos a primeira preparação à base da planta cannabis medicinal de uma das empresas licenciada, o que é óptimo, mas é uma solução que não é viável para todos os doentes, porque é uma preparação ou uma substância que é uma flor, só tem THC, e a via de administração para os doentes que poderiam usufruir não é a mais viável", argumentou.

Carla Dias adiantou que o OPC tem estado "em permanente contacto" com o Infarmed para tentar perceber porque não há mais preparações ou substâncias das empresas que se vão licenciando e que já ultrapassam as 20 em Portugal. O observatório conseguiu perceber que "há algumas que não estão minimamente interessadas nos doentes portugueses", exportando tudo o que produzem de cultivo.

"Há, no entanto, algumas empresas que se têm preocupado com os nossos doentes e que vão submetendo os dossiês ao Infarmed", que exige determinados critérios que conferem ao doente qualidade e segurança, disse Carla Dias.

A utilização destes produtos depende da avaliação médica e a sua dispensa apenas pode ser realizada na farmácia com receita médica.

Entre as indicações para a utilização destes produtos estão a dor crónica associada a doenças oncológicas, epilepsia e tratamento de transtornos convulsivos graves na infância, esclerose múltipla, náuseas e vómitos causados por quimioterapia, estimulação do apetite nos cuidados paliativos de doentes em tratamento oncológico ou com sida.

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