“Protestos vão continuar”, prometem polícias. Manifestação junta milhares nas ruas do Porto

Uma semana depois de um dos maiores protestos de sempre das forças de segurança, em Lisboa, polícias e guardas voltaram a encher as ruas. Bispo do Porto foi dar apoios aos agentes.

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Depois das ruas de Lisboa, agentes e militares enchem a cidade do Porto em protesto por melhores condições de trabalho ADRIANO MIRANDA
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“Abandonados”: polícias e guardas trazem a palavra escrita nas T-shirts negras que vestem, traduzindo um sentimento comum entre elementos da PSP e da GNR. Dizem-se esquecidos pelo Governo e reivindicam igualdade de tratamento em relação aos colegas da Polícia Judiciária (PJ), assim como melhores condições laborais e salariais. Terão sido mais de 20 mil os polícias e militares da guarda que nesta quarta-feira marcharam pelas ruas do Porto, entre o Largo 1.º Dezembro (junto à Praça da Batalha) e a Avenida dos Aliados, de acordo com as estimativas da organização. Voltou a ser uma das maiores manifestações das forças de segurança de sempre, uma semana depois de o terem feito também em Lisboa.

Um agente da PSP presente nas ruas do Porto – que, como tem sido hábito nas últimas semanas, prefere o anonimato – é peremptório: “Com o que sei hoje, se estivesse agora a começar, escolhia outra coisa. Já não compensa.” Soma perto de 30 anos de carreira e, por isso, a questão salarial já não é algo que o aflija, diz. Mas realça o esquecimento a que a profissão foi votada. “As esquadras não têm condições. Se fossem fiscalizadas, eram encerradas. Não há saúde e higiene no trabalho. E os vencimentos já não são o que eram. Quando comecei, recebíamos o dobro do ordenado mínimo”, descreve o polícia.

E defende os mais novos, que agora começam. “Quem concorre fica deslocado, tem de ir, por exemplo, para Lisboa e as despesas são incomportáveis. As esquadras não têm camaratas e a solução é juntarem-se aos três e quatro colegas num apartamento para conseguirem pagar a renda”, diz.

O camarada que com ele percorre as ruas do Porto concorda, mas acredita que o objectivo deste protesto é outro. “Hoje, o que aqui estamos a fazer é a lutar pela igualdade. Tudo o resto não tem âmbito aqui.”​ A igualdade que pede tem que ver com a atribuição de um suplemento remuneratório de missão aos inspectores da PJ, aumentado para quase mil euros mensais no início deste ano e com retroactivos a Janeiro do ano passado.

Já na semana passada a plataforma composta por sete sindicatos da PSP e quatro associações da GNR que organizou o protesto desta quarta-feira juntou em Lisboa cerca de 15 mil pessoas numa manifestação. O porta-voz desta estrutura reivindicativa, Bruno Pereira, também presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia (SNOP), dizia à agência Lusa, ainda antes da manifestação, que os polícias não vão desmobilizar até terem “uma resposta consentânea com aquilo” que esperam. “Estamos cansados de ouvir promessas vãs”, disse, defendendo “uma responsabilidade clara e que não deixe qualquer dúvida ao que cada um dos possíveis chefes de governo queira fazer sobre esta matéria”.

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Do mesmo deu conta o presidente do Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol), Armando Ferreira, em declarações aos jornalistas no início do protesto desta quarta-feira. “Não há nada que impeça o Governo de resolver a situação. Um governo em gestão tem o dever de procurar soluções para problemas graves, mas está a ter um silêncio ensurdecedor”, observou. E deixou uma garantia: “Os protestos vão continuar até ao dia em que os polícias tiverem a sua situação resolvida.”

“Todos temos o dever de os apoiar”

Maria Manuela não é polícia nem guarda. Contudo, marcou presença na manifestação, “enquanto cidadã”, para mostrar apoio às forças de segurança. “A protecção é muito importante e todos temos o dever de os apoiar, eles merecem isso”, referiu a mulher de 65 anos.

Quem também se associou à luta dos polícias e guardas foi o bispo do Porto, D. Manuel Linda. Abraçou e cumprimentou alguns dos que se manifestavam e aos jornalistas sublinhou o apoio dado pelas polícias durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorreu em Agosto último em Portugal. “Estou solidário, porque os conheço. Já os conhecia antes da JMJ, porque fui bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança e sei muito bem o sofrimento, dificuldades e perigos que estas senhoras e homens correm no exercício da sua profissão”, justificou.

“De forma global, apoio a luta deles por uma valorização das suas carreiras, da sua profissão. O país seria um caos, se não tivesse forças de segurança e eles são os garantes no dia-a-dia da nossa segurança e da nossa liberdade”, frisou ainda o bispo do Porto.

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