Projecções “optimistas” condicionaram escolha do aeroporto, acusa ANA

A ANA considera que as projecções para o tráfego aéreo feitas pela Comissão Técnica Independente são “marcadamente optimistas” e contribuíram para excluir o Montijo como solução para o novo aeroporto.

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Thierry Ligonnière, presidente executivo da ANA - Aeroportos de Portugal Henrique Casinhas
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As projecções para o crescimento de tráfego aéreo durante os próximos anos que foram feitas pela Comissão Técnica Independente (CTI) são "marcadamente optimistas" e, por isso, condicionaram a escolha da melhor alternativa para substituir o Aeroporto Humberto Delgado, levando à exclusão de opções que, com projecções mais realistas, deveriam ser tidas em conta. Este é o entendimento da ANA – Aeroportos de Portugal, que defende o Montijo (opção excluída pela CTI) como solução para complementar a capacidade aeroportuária da Portela.

A posição da ANA, avançada pelo Jornal de Negócios nesta segunda-feira, consta da resposta da concessionária dos aeroportos nacionais ao relatório preliminar com as propostas para a localização do novo aeroporto de Lisboa, no âmbito da consulta pública a que esse relatório foi submetido e cujo prazo terminou na passada sexta-feira. No documento, a ANA diz ver "com muita preocupação os pressupostos assumidos pela CTI no que diz respeito às projecções de tráfego no médio e longo prazo, aos prazos de construção das opções estratégicas e à metodologia utilizada para a avaliação económica" de cada solução.

Em causa, desde logo, estão os números apresentados pela entidade que foi criada para estudar o aumento da capacidade aeroportuária na região de Lisboa. Em 2022, lembra a CTI no relatório preliminar, o aeroporto de Lisboa movimentou mais de 28 milhões de passageiros. Para os próximos anos, não são esperadas taxas de crescimento como aquelas que se verificaram no passado recente, mas todas as estimativas apontam para um "crescimento sustentado". Assim, a CTI estima que, em 2050, a procura para o aeroporto de Lisboa deverá ser 2,1 a 3,5 vezes superior à que se verifica actualmente. Embora ressalvando a "dificuldade de prever as preferências sociais num horizonte de 60 anos", a comissão projecta, ainda, que a procura corresponda a 3,6 vezes a 4,6 vezes mais do que aquela que se regista hoje.

Já no entendimento da ANA, "existe um risco significativo de as projecções de tráfego da CTI não se materializarem, dada a sua natureza marcadamente optimista", de acordo com a resposta ao relatório preliminar citada pelo Jornal de Negócios. Isto, porque "a CTI não teve devidamente em conta um conjunto de limitações e macrotendências fundamentais à procura aeroportuária, tais como a potencial saturação da capacidade turística de Lisboa, a concorrência de outros hubs europeus e a evolução expectável da demografia na Europa e em Portugal", argumenta a ANA.

Assim, a concessionária considera que as projecções da CTI levaram à "exclusão das opções estratégicas que apresentam limitações de capacidade, inferidas erradamente". Uma das razões para a exclusão do Montijo como opção viável foi o facto de a CTI considerar que a capacidade deste aeroporto ficaria esgotada em 2038, tendo em conta o crescimento da procura projectado.

Importa lembrar que a ANA tem defendido a opção do Montijo como a melhor solução de curto prazo para reforçar a capacidade aeroportuária da região de Lisboa, rejeitando as soluções propostas pela CTI. No relatório preliminar apresentado em Dezembro, recorde-se, a CTI concluiu que a solução Portela + Alcochete é a que traz "mais vantagem" para o país, embora não seja a única possível.

Qualquer que seja a opção escolhida, antecipou ainda a comissão no relatório preliminar, o novo aeroporto terá um custo mínimo de cerca de oito mil milhões de euros e não ficará pronto antes de 2031 – dois aspectos também contestados pela ANA, que considera que uma solução no Montijo seria mais rápida e mais barata. Aliás, a concessionária dos aeroportos considera mesmo que os prazos de construção de um novo aeroporto estimados pela CTI "aparentam ser substancialmente optimistas, com prazos inferiores às melhores referências internacionais e com um risco material de atrasos, como evidenciado em vários aeroportos recentes na Europa".

Já se se considerasse a solução Portela + Montijo, argumenta ainda a ANA, o facto de já existir um acordo com um consórcio de empresas de construção, bem como uma Declaração de Impacto Ambiental (DIA), aceleraria o processo.

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