Piatek mostra que uma boa sexta-feira não faz o fim-de-semana

Se o conceito de one hit wonder for aplicado ao futebol, então o avançado polaco encaixa bem. Nunca mais ninguém viu aquele Piatek de 2018.

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O polaco Krzysztof Piatek DR
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Em polaco, diz-se que “piatek” é a sexta-feira. Em português, podemos dizer que Piatek, com maiúscula, é um herói de sexta-feira – mas que não ficou para sábado e domingo. Krzysztof Piatek não soube prolongar o seu sucesso por muito tempo, como uma boa sexta-feira que não fica para o resto do fim-de-semana.

Se o conceito de one hit wonder for aplicado ao futebol, como é na música a quem só faz uma canção de sucesso, então Piatek é um bom candidato a one season wonder – ou, em rigor, half season wonder, que o sucesso não lhe durou muito mais do que alguns meses. Mas foram uns meses e tanto.

O jogador que neste domingo marcou os três golos do 3-2 do Basaksehir ao Konyaspor está, na Turquia, a tentar justificar o que parecia que ia ser, mas nunca foi até aos 28 anos.

Em 2017, jogava nas profundezas do futebol europeu, na modesta Liga polaca, quando o Génova decidiu pagar cerca de quatro milhões de euros para o ter.

Resultado: 19 golos em 21 jogos, de Agosto a Dezembro, e transferência para o AC Milan por 30 milhões. Depois, mais cinco golos nos cinco primeiros jogos. Piatek, já com o epíteto de “Il Pistolero” [o pistoleiro], justificava a alcunha com os golos e com o festejo à cowboy, que também ajudou a que se tornasse um jogador viral e bom para alimentar redes sociais.

E era, nessa fase, a mais brilhante descoberta dos primeiros meses de futebol, em 2018/19, mas esfriou a partir de Fevereiro. E manteve-se frio nos fevereiros seguintes.

Gattuso chegou a baptizar Piatek como “Robocop”, como elogio por ser alguém de poucas palavras e que era frio e forte a lidar com a pressão. E Piatek pareceu ser esse “Robocop”, mas por motivos piores. Como jogador de área sem especiais predicados além da finalização, tornava-se um empecilho quando não marcava.

O seu jogo de apoios frontais não era especialmente útil, a mobilidade não era muita e mesmo o trabalho sem bola não era elogiável. Em suma, era daqueles avançados que, não aparecendo a finalizar, poderia passar 90 minutos sem darmos por ele.

O Milan não demorou muito a desistir do polaco e, a avaliar pelo que veio a seguir, em boa hora o fez: no Hertha, na Fiorentina e na Salernitana Piatek foi pouco mais do que mediano – nunca passou dos sete golos numa temporada. Em rigor, o Milan possivelmente sabia o que estava a fazer quando, no topo da sua forma, Piatek pediu a camisola 9.

“Quando cheguei, pedi o n.º 9, mas o Gattuso e o clube disseram-me para ir para o 19 ou outro número. Não o 9, porque esse teria de o conquistar. Diziam que o 9 teria de ser uma recompensa para quem o merecesse e que eu teria de provar isso primeiro”, contou, à Sky.

Quando um jogador aparece como apareceu Piatek há perguntas que se fazem. “Será que vai manter este nível na Champions?”. “Será que está só numa boa fase?”. “Será que num sistema diferente se tornará inútil?”. “Será que vai ser bom quando as defesas se focarem mais em pará-lo?”. “Será que vai saber reagir a momentos de “seca” de golos?”. O Milan foi prudente, até porque Piatek acabou por responder às questões de forma clara: não, sim, sim, não, não – por esta ordem.

No Basaksehir, ao contrário do que aconteceu em Génova e Milão, Piatek começou mal, sem golos nos primeiros nove jogos, mas parece estar a encarrilar. Talvez volte a ser uma half season wonder, mas no caminho inverso, acabando-a bem.

Para já, são dez golos em 21 jogos e um ligeiro vislumbre do que parecia que ia ser há uns anos, mas nunca foi. Já é bom? Talvez sim. Mas contra Piatek estará o facto de jogar na mais frágil Liga turca e de só naquela meia época de 2018/19 ter sido realmente bom. Aos 28 anos ainda pode mudar isso ou limitar-se a confirmar que Piatek ou piatek é uma sexta-feira que não chegou a sábado. E muito menos a domingo.

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