Champion: a rivalidade fraterna dos campeões

Uma série musical passada no sul de Londres, esta criação da escritora Candice Carty-Williams retrata a querela entre uma irmã cantora e um irmão rapper.

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Ray BLK e Déja J Bowens em Champion DR
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Bosco Champion é um rapper do sul de Londres. Acabou de sair da prisão e está a comemorar os seus 25 anos numa festa no quintal da mãe. A celebração acaba com os vizinhos a queixarem-se do ruído e Bosco a voltar para trás das grades. Mas isto não é tudo o que lhe corre mal na vida. Bosco tem uma irmã mais nova, Vita. E é ela a autora da maioria das letras das suas músicas, facto que todos desconhecem (menos os próprios, claro). Acresce que Vita é também a sua assistente não-remunerada – na verdade, Vita ganha a vida a trabalhar no restaurante de comida caribenha da mãe. A Vita não cabem nem a visibilidade nem os cachets do irmão. Sendo que ela é, afinal, uma óptima cantora. E é por isso que a sua melhor amiga a leva a cantar uma canção com o grande rival do irmão, cujo agente é, por sua vez, o noivo da ex-namorada e mãe da filha de Bosco, que começa igualmente a trabalhar com Vita.

Enquanto um desce no meio da indústria musical –​ facto ao qual não é alheio o azar e as inúmeras polémicas encorajadas pelas redes sociais –, a outra ascende. Isto inicia uma rivalidade no meio dos Champion, uma família de origem jamaicana com vários segredos do passado por desvendar, com sonhos desfeitos e muitas tragédias. O azar é uma parte importante nesta história: quando um quer pedir desculpas, acontece algo que estraga tudo.

Esta é a premissa de Champion, série musical da BBC que se estreou em Inglaterra no Verão passado e chegou a Portugal no início do ano via Netflix. Mais discreta e modesta do que dramas musicais telenovelescos americanos como Empire ou Nashville, é uma criação da escritora Candice Carty-Williams, cujo Queenie ganhou o prémio de Livro do Ano nos British Book Awards de 2020, a primeira vez que tal honra coube uma autora negra. Ao longo de oito episódios, maioritariamente passados numa Londres cheia de charme, de especificidade e de vida, mas bem diferente da versão postal turístico que se conhece, exploram-se questões de família, raça, género, negócio, traição dentro e fora da indústria musical, traição que se estende mesmo às relações de amizade, ao amor e à família.

No papel de Vita, uma força da natureza, está a estreante Déja J Bowens, com Malcolm Kamulete, de Top Boy, como o seu irmão frágil e sensível. O elenco inclui ainda nomes como Nadine Marshall e Ray Fearon nos papéis de pais. O patriarca é DJ e tem a sua própria estação de rádio de música jamaicana – uma óptima desculpa para a série ter na banda sonora grandes clássicos de reggae e dub –, vivendo obcecado com honrar o apelido Champion e deixar esse legado aos filhos, tendo a ambição de criar uma editora a reboque da fama de Bosco.

A cantora e escritora de canções Ray BLK, que é produtora executiva, com o rapper de grime Ghetts, e autora de alguma da banda sonora da série – há canções novas em todos os episódios, temas que podiam ser, de facto, êxitos no mundo real –, faz da melhor amiga de Vita. Já a Kerim Hassan cabe o papel de melhor amigo de Bosco.

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