Namoras com alguém que não fala a mesma língua? Aprender vai ser bom para a relação

Aprender a língua nativa do parceiro pode melhorar relações interculturais. Eis algumas dicas para melhorar estas relações.

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Aprender a língua nativa do parceiro pode melhorar relações interculturais. Unsplash
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Estás numa relação com alguém que cresceu com uma língua materna diferente da tua? Talvez estejas a iniciar a relação e a reflectir sobre o futuro a longo prazo. Estás longe de estar sozinha. Estes relacionamentos unem, por norma, pessoas de vários backgrounds linguísticos e culturais, oferecendo, por um lado, algum enriquecimento, mas, por outro lado, alguns desafios.

Uma comunicação eficaz é a pedra angular do sucesso em relações interculturais e ajuda a evitar eventuais armadilhas. A linguagem é o nosso principal meio de comunicação e, quando os parceiros não partiram a mesma língua, podem surgir mal entendidos, frustrações e conflitos.

As relações entre pessoas que falam línguas diferentes são o tema do meu mais recente livro. Aqui estão algumas ideias que podem ajudar-te a construir uma base sólida para a tua relação.

Aprender a língua materna do outro

É provável que tu e o teu parceiro tenham escolhido uma língua para comunicarem. Mas isso é só o início. A linguagem é dinâmica e evolui ao longo do tempo, tal como a relação em si. À medida que a vossa relação se aprofunda e ganha maturidade, as tuas capacidades de comunicação também devem ter progressos semelhantes. Durante as entrevistas que fiz a casais interculturais para a minha investigação, percebi que a falta de investimento de um parceiro em aprender a língua nativa do outro pode ser uma fonte de tensão ou decepção nos dois lados.

O filósofo Ludwig Wittgenstein disse: “Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”. A linguagem emocional está, muitas vezes, intimamente ligada à língua nativa, tornando-a intrinsecamente intraduzível.

Esta consciência é importante para os casais interculturais, que podem não ter o vocabulário necessário para expressar tudo o que sentem numa segunda língua.

Reconhece que nunca vais parar de aprender coisas novas

Aprendizagem e crescimento contínuo acerca da língua e da cultura um do outro são essenciais para a vitalidade de um relacionamento intercultural. Negligenciar a adopção e a apreciação de outras línguas dentro de uma relação pode dar origem a uma série de desafios. Falhas de comunicação, mal entendidos e frustração podem fazer desaparecer a conexão entre os parceiros.

Além disso, o fardo da comunicação cai desproporcionalmente no parceiro que é menos profícuo na língua comum escolhida — isso pode resultar em sentimentos de isolamento.

Uma abordagem de mente aberta à aprendizagem de uma nova língua pode ajudar a nutrir uma ligação mais profunda e ajuda a evitar potenciais problemas. Esta abordagem engloba não só a aprendizagem da língua mas também os costumes, tradições e perspectivas do mundo associadas à cultura do teu parceiro.

Por exemplo, quando ouves activamente as suas experiências sobre como cresceu, isso permite-te conectar de uma forma mais profunda, ganhando um olhar sobre os momentos-chave que moldaram a sua vida.

Cozinhar em conjunto com ingredientes e receitas da cultura do teu parceiro pode ser uma forma deliciosa de reforçar os laços à medida que exploras a riqueza dos sabores e as histórias por trás de cada prato. Ir a eventos culturais e a festivais juntos faz-te mergulhar no seu mundo, criando memórias conjuntas e uma sensação de pertença mais profunda.

Viajar para o país do teu parceiro oferece uma experiência cultural na primeira pessoa onde a linguagem serve como ponte para conhecer os locais e as suas formas de viver. Ver filmes e dramas que reflictam a cultura do teu parceiro também serve como janela para a história e as emoções associadas à herança cultural, despoletado conversas com significado e interesses comuns.

Esta compreensão mais profunda pode fomentar a empatia e o respeito, construindo uma base sólida para uma relação próspera.

Uma relação vai além do casal

Uma relação intercultural vai além do casal. Engloba um círculo social, que inclui família, amigos e potencialmente crianças. A integração de diversos elementos linguísticos e culturais pode ter um efeito positivo naqueles que estão à tua volta.

Imagine-se um casal que acolhe activamente a cultura e a língua dos outros. Não só comunicam efectivamente uns com os outros, como também estendem essa abertura aos sogros, familiares e amigos próximos. Como resultado, a sua relação com estas pessoas acaba por ser mais rica e dinâmica.

De facto, quando acolhem convívios, podem incorporar elementos de vários backgrounds tal como pratos tradicionais, música ou costumes. Isto não só cria uma atmosfera brilhante e vibrante como encoraja outros hóspedes a aprender mais e a apreciar outras culturas e a sentir-se em casa.

Esta abertura também tem um impacto positivo nas crianças. Ao crescer num ambiente onde múltiplas culturas e línguas são celebradas, as crianças desenvolvem uma forte sensibilidade a outras culturas, adaptabilidade e empatia. Tornam-se mais disponíveis a abraçar a diversidade nas suas próprias vivências e interacções.

Por outro lado, questões não resolvidas decorrentes de diferenças linguísticas e culturais podem gerar tensões e mal-entendidos entre familiares e amigos, adicionando uma pressão desnecessária aos relacionamentos.

As relações interculturais são um testemunho da beleza da diversidade e do potencial para conexões profundas através de fronteiras linguísticas e culturais. Embora as diferenças de linguagem possam apresentar desafios únicos, também oferecem uma oportunidade para o crescimento pessoal e uma conexão mais rica e profunda com o parceiro.


Exclusivo P3/The Conversation
Jieun Kiaer é professora de Linguística Coreana na Universidade de Oxford

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