Empresa obtém aprovação para vender “bifes de laboratório” em Israel

A Aleph Farms recolhe amostras de células de um animal vivo e depois cultiva-as num processo que imita as condições do corpo de uma vaca. Bifes de laboratório serão vendidos a restaurantes em breve.

Foto
Os bifes de carne de vaca de corte fino cultivados pela Aleph Farms numa imagem de promoção de Novembro de 2022 Reuters/ALEPH FARMS
Ouça este artigo
00:00
02:56

A Aleph Farms, uma empresa israelita de tecnologia alimentar, anunciou esta quarta-feira que recebeu a aprovação regulamentar em Israel para vender bifes cultivados a partir de células de vaca, num processo que efectivamente retira o próprio animal da equação. Será um marco regulamentar inédito mundial.

A carne cultivada, produzida a partir de células animais num laboratório ou numa fábrica, tem vindo a suscitar interesse mundial como forma de contornar o impacto ambiental da indústria da carne e de responder às preocupações com o bem-estar dos animais. A luz verde do Ministério da Saúde é um desenvolvimento fundamental no longo caminho para colocar os “bifes de laboratório” no mercado.

“Este marco regulamentar, o primeiro deste tipo a nível mundial, reflecte uma avaliação exaustiva de factores cruciais, desde a toxicologia e alergénios à composição nutricional, segurança microbiológica e segurança química ao longo de todo o processo de produção”, afirmou Ziva Hamama, directora do Departamento de Gestão do Risco Alimentar do Ministério da Saúde, que acrescentou que estão a decorrer conversações com outras empresas para colocar mais produtos no mercado.

Israel é um líder mundial no sector, com grupos também pioneiros em alternativas aos produtos tradicionais de peixe e frango. A Aleph Farms angariou cerca de 140 milhões de dólares desde a sua fundação em 2017 e tem o actor Leonardo DiCaprio como membro do conselho consultivo.

Em breve, um produto nos mercados em todo o mundo

Há um ano, o rabinato-chefe de Israel deu a sua aprovação à empresa, tendo determinado que os bifes cultivados são de facto kosher, ou seja, que obedecem aos requisitos da lei judaica.

A empresa afirmou que está a seguir as instruções finais do Ministério da Saúde para a rotulagem do produto para o consumidor e está a obter uma inspecção final da sua unidade-piloto de produção no centro de Israel. Dentro de alguns meses, espera começar a vender a restaurantes e, a seu tempo, a serviços alimentares e a retalho.

“A equipa de regulamentação da Aleph está a trabalhar de forma semelhante com as autoridades de vários mercados em todo o mundo, a fim de garantir o cumprimento dos respectivos requisitos de segurança”, disse Yifat Gavriel, chefe de assuntos regulamentares, garantia de qualidade e segurança do produto da empresa.

A Aleph Farms afirma que recolhe amostras de células de um animal vivo e depois cultiva-as num processo que imita as condições do corpo do animal. As células são misturadas com proteínas vegetais de soja e trigo, mas o produto é diferente das alternativas populares à base de plantas que não têm origem animal.

Em 2020, a Agência Alimentar da Singapura aprovou para venda carne de frango cultivada em laboratório. Desenvolvida pela empresa norte-americana Eat Just, previa-se que o produto fosse usado em nuggets de frango. Foi a primeira vez que carne cultivada em laboratório teve a aprovação de uma agência que regula questões de segurança alimentar e a empresa espera que esta seja “uma catapulta” para a aprovação noutros países. Neste caso, o projecto contou com o contributo de um português: Vítor Espírito Santo, que é director do Departamento de Agricultura Celular da Eat Just.

Sugerir correcção
Comentar