Chega demarca-se de agressão a jornalista em evento com Ventura. Católica e sindicato condenam

Na terça-feira, um jornalista do Expresso foi “removido” à força de um evento com André Ventura na Universidade Católica. O Chega diz que “o controlo do evento ficou nas mãos dos anfitriões”.

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André Ventura recebido pelos alunos da Universidade Católica, que organizaram o evento LUSA/ANTÓNIO COTRIM
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O Chega nega "qualquer responsabilidade" na expulsão à força de um jornalista do Expresso da sala da Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa, onde decorria, ao fim da tarde de terça-feira, um evento com o líder do partido, André Ventura. Já a UCP condenou a "manipulação deliberada das normas de acesso ao evento pelo partido convidado [Chega]" e o Sindicato dos Jornalistas (SJ) condenou a agressão, lembrando tratar-se de um crime público, "que tem de ser investigado e punido exemplarmente".

Na terça-feira, um jornalista do semanário Expresso afirmou ter sido agredido num evento com o líder do Chega na Universidade Católica, em Lisboa, mas a organização negou, admitindo apenas que o profissional "foi removido" da sala.

Num comunicado enviado às redacções, o partido liderado por Ventura negou “qualquer responsabilidade quer na entrada do jornalista no evento quer na sua expulsão”, já que, estando presente na Universidade Católica “como convidado, não é da sua competência definir quem pode estar ou não presente”.

Segundo o Chega, “foi comunicado aos jornalistas (…) que o presidente do partido falaria à comunicação social no início do evento”, o que se verificou. No entanto, o mail enviado às redacções dizia também: "Não são permitidas câmaras dentro do auditório." Nada dizendo sobre a presença de jornalistas.

Para o partido, porém, a partir do momento em que Ventura e “toda a sua comitiva entraram no anfiteatro (…), o controlo do evento ficou completamente nas mãos dos anfitriões, sendo os mesmos responsáveis pela acreditação dos presentes e pela definição das regras de quem podia e não podia.

O Chega diz ainda lamentar “a situação criada” e repudiar “qualquer tentativa de condicionamento ou limitação do direito à informação e intimidação de jornalistas”. E termina o comunicado saudando “eventos deste tipo, pelo pluralismo e importância para o debate livre de ideias e para a democracia”.

Universidade e sindicato condenam

Por seu lado, tanto a Universidade Católica, onde se realizou o evento, como o Sindicato de Jornalistas repudiaram a violência sobre o jornalista e o condicionamento do direito à informação.

Em comunicado divulgado na terça-feira à noite, a Universidade Católica Portuguesa (UCP) repudia qualquer tentativa de limitação do direito à informação e intimidação de jornalistas. Rejeita igualmente a "manipulação deliberada das normas de acesso ao evento pelo partido convidado [Chega]", explicando que o evento é organizado por estudantes com o objectivo de esclarecer as propostas para o país sob a forma de um debate livre e não uma organização dos partidos.

Numa nota emitida na mesma noite, o Sindicato dos Jornalistas (SJ) condenou a agressão, afirmando tratar-se de um crime público, "cometido à vista de muita gente, que tem de ser investigado e punido exemplarmente".

O SJ repudiou o "atentado contra a liberdade de imprensa e contra a integridade física" de um jornalista em funções, lembrando que a agressão a estes profissionais é crime público desde 2018.

No comunicado, o SJ exorta ainda as autoridades a agirem "com a celeridade que um atentado destes exige", pede uma punição exemplar para os agressores, acrescentando que vai questionar a UCP sobre as medidas que tomou para evitar este tipo de comportamento dentro das suas instalações.

O sindicato diz igualmente que vai perguntar a André Ventura se o partido que lidera se revê nestas atitudes e nas "insinuações intimidatórias do segurança do partido".

A agressão terá ocorrido num evento organizado pela Associação Académica do Instituto de Estudos Políticos e pela Associação Académica de Direito, da UCP, intitulado "Conversas Parlamentares", no qual participou o presidente do Chega, André Ventura, no âmbito de um ciclo de palestras para o qual foram convidados vários líderes partidários.

Na nota divulgada, a UCP reafirma a importância do debate esclarecido para o reforço da democracia, "da qual faz parte intrínseca a defesa de uma imprensa livre, independente e bem formada".

Manietado de pés e mãos

Segundo notícia divulgada pelo Expresso, o jornalista que afirma ter sido agredido alega que a sua entrada na sala onde estava André Ventura "foi autorizada por duas jovens junto à porta principal do auditório e era do conhecimento prévio da assessoria de imprensa do Chega".

O jornalista conta que conseguiu presenciar os primeiros dez minutos da intervenção de André Ventura, até ter sido abordado várias vezes por jovens dizendo-lhe que não podia estar no auditório.

De acordo com o relato publicado pelo Expresso, "dois dos jovens prenderam os seus movimentos, agarrando-o pelos pés e pelos braços, forçando a sua saída do evento — deixando todo o equipamento de trabalho na sala, incluindo o computador profissional", que foi devolvido "após intervenção de um dos assessores de André Ventura".

De acordo com o semanário, o jornalista diz ainda ter sido abordado "de forma agressiva" pelo segurança pessoal de André Ventura.

À Lusa, o director do Expresso, João Vieira Pereira, adiantou que o jornal está a ponderar apresentar queixas à PSP e à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).

Notícia actualizada às 12h48 com o comunicado do Chega

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