LGBT+

Ainda há sexo nos últimos cinemas porno de Atenas

O que acontece dentro dos últimos cinemas para adultos de Atenas? Helias Doulis fez o retrato (encenado) das salas e cabines, famosas pelos encontros entre homens gays.

©Helias Doulis
Fotogaleria
©Helias Doulis

No coração de Atenas, entre os monumentos da Antiguidade da cidade-berço da Democracia, o fotógrafo Helias Doulis encontrou um conjunto de “pérolas” esquecidas e praticamente extintas. As poucas cabines e cinemas que exibem filmes para adultos que resistem na capital grega servem de ponto de encontro a quem procura um local seguro e recatado onde expressar livremente a sua sexualidade.

“Foi no centro da cidade, nas zonas de Omonia e Metaxourgeio, que encontrei os lugares que figuram no projecto A Faggot’s Destiny”, conta ao P3, via e-mail, o fotógrafo, cineasta e escritor grego que produz, desde 2015, projectos fotográficos e fílmicos sobre as vivências e história da comunidade LGBTQI+.

Quem marca presença nestes cinemas são sobretudo homens de meia-idade e jovens rapazes gays que nutrem uma curiosidade específica por este tipo de lugares, associados a uma outra era. “Pode ser surpreendente para muitos que haja também, entre os frequentadores, mulheres ‘bem casadas’ e homens que são fãs de cruising. Aqueles que esperam, silenciosamente, em cantos escuros são os meus favoritos, uma vez que assumem uma postura voyeurística muito parecida com a minha.”

As imagens do projecto são encenadas. “Eu reuni vários indivíduos, com os mais variados perfis, que tivessem vontade de existir naqueles cinemas e cabines. Deixei-os expressar livremente a sua sexualidade até decidir premir o botão de disparo.” Embora Doulia considere importante manter a privacidade e o anonimato de quem frequenta os locais, descreve o seu trabalho como sendo de natureza conceptual. “Eu tento manter viva, na memória colectiva, a história destes lugares. Para mim, fotografar é mais do que captar o momento, é um ritual.”

A curiosidade acerca destes lugares despontou quando tinha 14 anos, recorda o grego, altura em que se apaixonou pelo cinema. “O meu avô costumava oferecer-nos filmes em DVD, daqueles que vinham com revistas e jornais, e a minha mãe guardava-os numa gaveta todos juntos.” Foi A Pianista, de Michael Haneke, que mais o marcou. “Esse filme mudou tudo para mim. Mudou a minha perspectiva em relação à arte e em relação ao sexo, em si. Fez-me querer ir a Paris, viver e respirar os cinemas para adultos de Pigalle – algo que fiz em 2018.”

Desde então, o artista procurou “romance” em Paris, Londres e, por fim, Atenas, a cidade onde nasceu e onde fez a primeira recolha fotográfica deste tipo de lugares. “Eu refiro-me veementemente a estes lugares como românticos porque o que mantém a comunidade LGBTQI+ unida é, e sempre foi, a necessidade de haver um lugar seguro onde ela possa existir – seja ele onde for, como for.”

E foi o sentido de unidade, de “estar junto”, que o levou a documentar os cinemas para adultos. “Historicamente, as pessoas pessoas usavam este tipo de lugares para apreciar a arte porno ou como uma desculpa para o amor, mas o mundo avança e esse avanço traz mudança.” Uma das mudanças talvez a que mais ameaça estes cinemas e cabines são as apps de encontros.

O título do projecto, A Faggot’s Destiny, que inclui um termo depreciativo utilizado, em inglês, para referir homens gay, foi pensado e repensado pelo autor, que desenvolve o projecto desde 2019. “Senti que deveria usá-lo porque alude aos anos de opressão sofrida pela comunidade LGBTQI+ no passado (e que se mantém no presente)”, justifica o fotógrafo que irá lançar, este ano, um filme sobre este tema. “Evitar os rótulos, por vezes, pode ser sintoma de relutância em enfrentar a nossa própria história — algo que não me disponho a fazer para agradar ninguém. Parte do destino, das vidas das pessoas da comunidade, aconteceu em matas, em cinemas, em casas-de-banho públicas — e agora nas aplicações de encontros. É preciso manter essa memória viva.”

Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis
Fotografia do projecto <i>A Faggot's Destiny</i>
Fotografia do projecto A Faggot's Destiny ©Helias Doulis