Metade das grandes empresas diminui emissões das viagens de avião após covid-19

O estudo aponta com mau desempenho três empresas portuguesas: a Caixa Geral de Depósitos, o grupo Jerónimo Martins e a EDP. Das 217 empresas, 104 mantiveram emissões abaixo de 50% dos níveis de 2019.

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A aviação e os transportes são dos que mais contribuem com emissões de gases com efeito de estufa, que levam ao aquecimento do planeta daniel rocha

Quase metade das grandes empresas mundiais reduziu as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) nas viagens aéreas, depois da pandemia de covid-19, indica um estudo divulgado pela associação Zero, segundo o qual três empresas portuguesas aumentaram as emissões.

O estudo divulgado nesta quarta-feira pela associação, da campanha global "Viajar Responsavelmente", dirigida pela organização ambientalista internacional "Transportes e Ambiente" (T&E, na sigla original), aponta com mau desempenho três das sete empresas portuguesas abrangidas: a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o grupo Jerónimo Martins SGPS e a EDP.

As três empresas, segundo o documento, já ultrapassaram os níveis de emissões pré-covid-19. A CGD teve em 2022 emissões 55% acima desse nível, seguida pela Jerónimo Martins, 46%, e depois pela EDP, 22%.

"No grupo geral de todas as empresas analisadas, a CGD e a Jerónimo Martins estão mesmo nos piores lugares", diz a Zero, que considera "lamentável estas empresas não terem ainda incorporado nas suas políticas de viagem os ensinamentos do período covid e não tenham sido capazes de, até ao momento, acompanhar outras empresas globais que reduziram as suas emissões na ordem dos 80%".

De forma positiva, com emissões de viagens em trabalho abaixo de 50% dos níveis de 2019, a Zero exemplifica com o Banco Comercial Português (69% abaixo), a Redes Energéticas Nacionais (REN) (66% abaixo), e a GALP Energia (62% abaixo).

A campanha "Viajar Responsavelmente", sobre as emissões das viagens aéreas em trabalho das grandes multinacionais, da qual a associação ambientalista Zero faz parte, indica que as emissões em 2022 diminuíram 51% face a 2019 (pré-pandemia).

Das 217 empresas analisadas, 104 mantiveram as emissões de viagens aéreas abaixo de 50% dos níveis de 2019. A Zero destaca entre os que mais reduziram os voos a tecnológica SAP (menos 86%), a financeira Lloyds Banking Group (menos 80%) e a consultora PwC (menos76%).

As restantes 113 apresentam níveis de emissões de viagens superiores a 50% dos níveis de pré-covid. De entre as que não ultrapassaram esse valor estão a financeira JP Morgan Chase, que reduziu 13% em relação a 2019, a farmacêutica Merck, que reduziu 17%, e a Johnson & Johnson, que reduziu 28%.

Do total das 113, há 21 que já ultrapassaram os níveis de voos pré-2019. Nenhuma das 113 tem metas para reduzir as emissões de viagens em trabalho. As empresas portuguesas analisadas também não definiram metas de redução.

Segundo o estudo, se as 113 empresas tivessem reduzido para metade os níveis de voos em 2022 (relativamente a 2019) ter-se-ia evitado emissões de mais de 1,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera, o equivalente às emissões de cerca de um milhão de automóveis durante um ano.

A Zero considera positivo que muitas empresas não tenham voltado aos níveis de emissões de 2019, mas diz ser preocupante que outras estejam a regressar a níveis de 2019, "ou, no caso português, que inclusivamente já ultrapassaram em muito esses níveis".

No caso de Portugal a associação apela à responsabilidade climática por parte das empresas e ao Governo para legislar sobre o tema.

A análise, acrescentam, mostra que é possível as empresas fazerem uma transição para métodos de trabalho que implicam menos viagens aéreas, substituindo-as por viagens de comboio ou prescindindo mesmo de viajar, fazendo reuniões por meios digitais.

As outras, ao não o fazer, estão a contribuir para o aumento de GEE e a frustrarem expectativas de clientes e accionistas, "colocando a sua reputação em risco".

O estudo analisou os dados disponíveis sobre as emissões em 2019 e 2022 das 322 empresas.

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