Marcelo destaca papel “essencial” de Delors para a UE de hoje e para Portugal

O antigo presidente da Comissão Europeia “foi essencial para fazer a Europa que temos. Ele fez o alargamento, nós devemos a entrada de Portugal [na UE] a Delors”, disse o chefe de Estado.

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França quis homenagear um "arquitecto da Europa unida" numa cerimónia presidida por Macron EPA/STEPHANIE LECOCQ / POOL

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o ex-presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, marcaram esta sexta-feira presença na homenagem ao antigo presidente da Comissão Europeia Jacques Delors, em França. Marcelo considera que Delors "foi essencial" para a União Europeia (UE) que actualmente existe e para a adesão de Portugal e Durão Barroso descreve o francês como um "homem excepcional" e um "grande europeu".

"Delors foi essencial para fazer a Europa que temos. Ele fez o alargamento, nós devemos a entrada de Portugal [na UE] a Delors porque deu a volta a vários países que estavam contra, fez o aprofundamento, a União Europeia, o euro. E nós, portugueses, nunca esqueceremos que esteve sempre ao nosso lado, quando outros não estavam", disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Falando aos jornalistas portugueses que acompanham em Paris a homenagem de França a Jacques Delors, que morreu a 27 de Dezembro, aos 98 anos, o chefe de Estado português acrescentou: "Foi sempre um homem do social, dos direitos sociais, das pessoas, e não da Europa dos negócios, das economias e finanças apenas".

"Falta continuar os alargamentos, aprofundar a parte social, olhar por exemplo para a saúde após a lição da pandemia [...], mas uma Europa muito mais próxima dos direitos das pessoas. Será a única maneira de combater os populismos", adiantou o Presidente da República em declarações prestadas no edifício do Hôtel des Invalides, local escolhido para a cerimónia.

Marcelo Rebelo de Sousa está ainda acompanhado pelo antecessor, Aníbal Cavaco Silva, que também "foi primeiro-ministro durante todo o período dos mandatos" de Delors, e por José Manuel Durão Barroso.

Durão Barroso: Delors era "um grande europeu"

O ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso, também presente na homenagem em França, disse que "a Europa e Portugal devem muito" ao antigo líder do executivo comunitário Jacques Delors e pediu uma União Europeia (UE) "mais forte" ao nível geopolítico.

"Acho que a Europa lhe deve muito e acho que Portugal lhe deve muito também", declarou José Manuel Durão Barroso, falando aos jornalistas portugueses. Nas declarações prestadas também no edifício do Hôtel des Invalides, o antigo presidente português da Comissão Europeia recordou as suas "memórias muito fortes" com Jacques Delors.

"Trabalhei com ele, na altura, como ministro dos Negócios Estrangeiros e depois, quando era presidente da Comissão Europeia, tive várias vezes ocasião de me encontrar também com o presidente Delors. Era um homem excepcional, um grande europeu, alguém que combinava uma grande ambição e sonho para a Europa, ao mesmo tempo com um método muito prático e pragmático, muito realista", elencou.

De acordo com Durão Barroso, Delors "era visionário, mas era pragmático e conseguia combinar a visão e o sonho europeu com passos concretos e realistas". "Por exemplo, fez muito no mercado interno, mas não avançou na altura (porque também não podia) na questão da defesa europeia ou da política externa europeia. Eu acho que é exactamente isso que falta hoje", acrescentou. E defendeu: "O que falta hoje na Europa é uma projecção geopolítica mais forte".

Durão Barroso adiantou que a UE está a "deixar a adolescência geopolítica" uma vez que, "por causa da situação externa cada vez mais difícil, os europeus estão a acordar para a necessidade de se defenderem, de afirmarem sem complexos os seus interesses". "Mas a verdade é que há um longo caminho a percorrer", concluiu.

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Marcelo Rebelo de Sousa acompanhado por Ursula von der Leyen, Emmanuel Macron, Charles Michel e Frank-Walter Steinmeie

Além de Durão Barroso e do Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, participam esta sexta-feira na homenagem francesa ao político e antigo presidente da Comissão Europeia várias personalidades políticas. A cerimónia é presidida pelo chefe de Estado do país, Emmanuel Macron. O Estado francês pretende homenagear um "arquitecto da Europa unida" sem o qual a França seria "menos dona do seu destino", segundo a Presidência francesa.

França convidou todos os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE), bem como os presidentes das instituições comunitárias, actuais ou em exercício enquanto o social-democrata Jacques Delors esteve em Bruxelas de 1985 a 1995. Entre os dirigentes que confirmaram a presença estão também o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, e os primeiros-ministros da Bélgica e da Hungria, Alexander De Croo e Viktor Orbán, respectivamente.

Figura da construção do projecto europeu e considerado o "pai do euro", Jacques Delors foi presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995 (durante três mandatos). No seio da UE, ficou conhecido por ter aprovado o Acto Único Europeu, em 1986, que levou à criação do Mercado Único, o primeiro do género ao nível mundial, em 1993.

Foi protagonista na transformação da Comunidade Europeia em União Europeia, o que permitiu uma transição para a moeda única (o euro) e para uma maior cooperação ao nível da defesa. Nome incontornável da esquerda francesa, foi ainda ministro francês das Finanças e eurodeputado. Jacques Delors frustrou as esperanças desta ala partidária ao recusar apresentar-se às eleições presidenciais de 1995 em França. Na altura, era favorito nas sondagens.

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