Vaticano: bênção a casais homossexuais não significa “absolvição”

Duas semanas depois de se pronunciar sobre a bênção de casais homossexuais, o Vaticano apresentou esclarecimentos: “Obviamente, não é um matrimónio.”

Foto
Papa Francisco autorizou bênção a casais homossexuais em Dezembro Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
Ouça este artigo
00:00
02:30

Num comunicado divulgado esta quinta-feira, o Vaticano reafirmou a validade da declaração "Fiducia supplicans" e deu resposta às tomadas de posição de algumas conferências episcopais, que receberam com desagrado o documento que autoriza a bênção de casais homossexuais por parte da Igreja.

No documento emitido pelo gabinete doutrinário do Vaticano em Dezembro é referido que tais bênçãos serão um sinal de que "Deus a todos acolhe", e não uma forma de "legitimar situações irregulares" — como casais em segunda união ou casais homossexuais. Apesar de considerar o texto "claro a respeito do matrimónio e da sexualidade", a Santa Sé apresentou esta quinta-feira alguns esclarecimentos.

Uma das condições impostas para que a bênção possa ser dada é que não se assemelhe a um "rito litúrgico". Ao mesmo tempo, nenhuma conferência episcopal poderá impedir um sacerdote de dar a sua bênção a "casais em situação irregular".

"Podemos ajudar o Povo de Deus a descobrir que este tipo de bênção é um simples canal pastoral que ajuda as pessoas a manifestar a própria fé, ainda que sejam grandes pecadores", lê-se na declaração divulgada a 4 de Janeiro. "Ao dar esta bênção a duas pessoas, que juntas se aproximam para implorá-la espontaneamente, não as estamos a consagrar, não nos estamos a congratular com elas, nem estamos a aprovar o seu modo de união."

Como considera o Dicastério para a Doutrina da Fé, as tomadas de posição de algumas conferências episcopais — entre elas as de Moçambique e Angola e São Tomé — são "compreensíveis" e "evidenciam a necessidade de um período mais longo de reflexão".

O Vaticano admite também que, em alguns lugares onde é mais complicada a aplicação da proposta do Papa Francisco, por questões culturais ou legais, "há a necessidade de não inovar nada enquanto se toma todo o tempo necessário para a leitura e a interpretação".

"A verdadeira novidade desta declaração", argumenta, "é o convite a distinguir duas formas diferentes de bênção: 'litúrgicas ou ritualizadas' e 'espontâneas ou pastorais'". Estas últimas deverão ser "muito breves", "de dez ou quinze segundos", "simples". Nunca com "as roupas, gestos ou palavras próprios de um matrimónio", nunca "diante do altar".

"Obviamente, não é um matrimónio", insistem os autores do texto, o cardeal Víctor Manuel Fernández e o monsenhor Armando Matteo. "Este tipo de bênção não é uma ratificação das vidas que levam aqueles que a imploram. Muito menos uma absolvição."

Os responsáveis do Dicastério para a Doutrina da Fé terminam com um conselho. "Teremos de habituar-nos, todos, a aceitar que, se um sacerdote dá este tipo de bênçãos simples, não é um herético, não ratifica nada, não está a negar a doutrina católica."

Sugerir correcção
Ler 19 comentários