Rage Against the Machine separam-se novamente

Digressão do influente e aclamado grupo de rap metal estava a ser marcada por turbulência. Fim foi confirmado pelo baterista.

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O guitarrista Tom Morello (à direita) foi o único membro da banda presente na cerimónia do Rock and Roll Hall of Fame em Novembro de 2023 Kevin Mazur/Getty Images
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A banda norte-americana Rage Against the Machine, que nos anos 1990 fundiu com inspiração os universos do hip-hop e do metal, criando música combativa e altamente politizada (com uma forte inclinação à esquerda), não vai voltar a subir aos palcos. A notícia foi dada nas redes sociais pelo baterista Brad Wilk, confirmando que a Public Service Announcement Tour, digressão que estava a ser marcada por turbulência — o rapper Zack de la Rocha contraiu uma lesão na perna no início do segundo concerto, obrigando o músico a actuar sentado durante um mês e a banda a cancelar as datas que tinha agendadas depois desse período —, fica-se por aqui.

O grupo que inclui ainda o guitarrista Tom Morello e o baixista Tim Commerford teve o seu período de principal actividade entre 1991 e 2000, tendo editado quatro discos: o particularmente reverenciado álbum homónimo (1992), o mais cru e tão ou talvez até mais fundamental Evil Empire (1996), The Battle of Los Angeles (1999) e Renegades (2000), álbum de covers de nomes que vão dos Cypress Hill ou de Eric B. & Rakim, importantíssima dupla de hip-hop do final dos anos 1980, a clássicos de um universo mais rock/punk/folk/etc. como Dylan, Springsteen, Stooges, MC5 ou Minor Threat.

Tensões internas ditaram, na viragem do milénio, a separação da banda que se ressentiu de ter servido de inspiração para bandas mal-amadas como os Limp Bizkit, um dos grupos mais populares de nu metal — som que dominou o panorama rock entre o final dos anos 1990 e a primeira metade da década seguinte.

Morello, Commerford e Wilk não esperaram muito tempo para formar o supergrupo Audioslave com o vocalista Chris Cornell, dos Soundgarden, emblemática formação do chamado grunge de Seattle que anos antes, em 1997, também havia anunciado a sua dissolução. Enquanto esta nova banda fazia sucesso dividindo-se entre um hard rock musculado e uma sonoridade mais macia, Zack de la Rocha trabalhava num álbum a solo que nunca veria a luz do dia e colaborava com Trent Reznor, dos Nine Inch Nails — similarmente, pouco se ouviu dessa parceria. Foi preciso esperar até 2008 para o rapper voltar às edições: fê-lo com o único EP do projecto One Day as a Lion, com o baterista Jon Theodore.

Um ano antes, os Audioslave acabaram e os Rage Against the Machine subiram ao palco principal do festival Coachella, na Califórnia, reunindo-se pela primeira vez. A banda foi calendarizando digressões internacionais e actuando até 2011, ano em que deu um só concerto — aquele que protagonizou no seu próprio festival, o denominado L.A. Rising — e, depois disso, entrou em novo período de dormência.

Em 2019, após o fim dos mornos Prophets of Rage — novo supergrupo de Morello, Commerford e Wilk, desta feita com membros dos Public Enemy (DJ Lord e Chuck D) e também dos Cypress Hill (B-Real) —, os Rage anunciaram uma segunda reunião. Mas a Public Service Announcement Tour, que originalmente deveria ter começado em Março de 2020, foi adiada devido à pandemia. Só arrancou a 9 de Julho de 2022, no estado americano do Wisconsin. Dois dias depois, no United Center, em Chicago, Zack de la Rocha lesionava-se na perna, comprometendo o futuro da tour.

A 11 de Agosto de 2022, a banda cancelou a sua digressão europeia — que teria incluído passagens por Málaga e Madrid. Três dias depois, os Rage deram o seu último concerto, no Madison Square Garden, em Nova Iorque. Passados dois meses, de la Rocha anunciou que a severidade da sua lesão obrigava o grupo a cancelar os seus concertos nos Estados Unidos entre Fevereiro e Abril deste ano.​

Nas redes sociais, Brad Wilk afastou a possibilidade de a banda anunciar novas datas depois dos espectáculos cancelados. O baterista pediu desculpas a “todos os que estavam à espera” que isso pudesse acontecer.

Em Novembro passado, os Rage Against the Machine foram incluídos no Rock and Roll Hall of Fame. Tom Morello foi, dos quatro membros, o único que marcou presença na cerimónia. O grupo tem “opiniões divergentes em muitas matérias, incluindo a de entrar” para o Passeio da Fama, disse o músico, conhecido pela variedade de sons inusitados que gosta de extrair da sua guitarra — naquele que será talvez o seu solo mais icónico (o da faixa Bulls on parade), toca o instrumento como um DJ a realizar uma operação de scratching, mexendo com um vinil em rotação num gira-discos.

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