Para que serve uma campanha eleitoral?

Os portugueses mais esclarecidos e que pagam os seus impostos para sustentar o atual estado do país não querem este tipo de política.

Agora que terminaram as festividades natalícias e entramos em 2024, vai começar a verdadeira campanha eleitoral para as eleições legislativas de março e, por consequência (espera-se), para um governo estável e duradouro, os partidos deveriam começar a abordar os verdadeiros problemas do país. Uma campanha eleitoral deveria ser para isso mesmo. Cada partido deveria apresentar e discutir as suas propostas de uma forma clara e transparente, já que nenhum eleitor tem a mínima paciência para ler os supostos programas de governo. Os partidos sabem disso e já não se empenham em fazer programas credíveis e explícitos.

É importante sabermos o que cada partido propõe para Portugal. Como será resolvida a gritante falta de professores, como colmatar as graves lacunas e problemas do SNS, como resolver a ineficiência e morosidade da justiça (e muitas vezes a falta dela), como atacar o problema da habitação, como travar a saída de jovens talentosos para o estrangeiro depois de o país gastar rios de dinheiro na sua formação, ou até como acabar com o desígnio que se verifica na degradação dos serviços públicos.

Queremos apenas pagar dívida pública e continuar a abandonar o investimento público, ou consegue-se um compromisso entre ambos? Como financiar a despesa que querem aumentar? Explicações tão simples e ao mesmo tempo tão distantes dos debates e das propostas.

Deveria ser explicado aos portugueses que, existindo atualmente mais 90.000 funcionários públicos do que no fim da troika, todos os serviços se queixam da falta de funcionários. É uma clara degradação dos serviços públicos em todos os domínios, mas agora com mais de 745.000 funcionários. Nunca Portugal teve tantos funcionários públicos como atualmente e nunca os cidadãos se queixaram tanto como agora.

Em vez de existir um claro debate sobre o estado do país e cada partido apresentar as suas propostas e soluções, vamos assistir a mais vagas e imprecisas promessas, sem estarem alicerçadas em nada. Vamos ser invadidos com frases e slogans que apenas se destinam a ficar na mente e a causar impacto, em vez de se falar do que é realmente importante.

Vai-se discutir quem fez o quê ou quem nada fez, ou até quem fez triste figura e agora diz que aprendeu com a figura que fez. Vão aparecer acusações para procurar descredibilizar os opositores e quem quer virar a página do passado como se tivessem nascido hoje. Vão aparecer discursos radicais e populistas para se aproveitarem do descontentamento generalizado, mas que nada propõem em concreto. Vai aparecer de tudo. Haja paciência.

Os portugueses mais esclarecidos e que pagam os seus impostos para sustentar o atual estado do país não querem este tipo de política. Será que cada país tem os políticos que merece? Portugal e os portugueses não merecem mais e melhor? Queremos saber as propostas concretas de cada partido para o nosso país, como e quando as implementar e como as financiar. Não queremos mais estes chorrilhos de asneiras e de impropérios, que parece que já se estão a verificar. Merecemos mais, ou não? Afinal para que serve uma campanha eleitoral?

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Ler 1 comentários