Crise no mercado imobiliário ou falta de coragem política?

Até 2008/2009 construía-se quase 200.000 casas novas por ano em Portugal; daí para a frente construiu-se 15.000 a 20.000, ou seja, menos de 10%.

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Começa um novo ano e tudo continua igual no mercado imobiliário. Tanto se falou no Programa “Mais Habitação” e os resultados práticos foram poucos ou nenhuns.

Porquê? Porque isto não se resolve de um dia para o outro, despejando milhões de euros em cima do problema. O que nenhum político deste país tem coragem de dizer é que são necessários sete ou oito anos para resolver isto!

Se, por um lado, temos um problema generalizado de baixos salários, obrigados a competir, na compra de casa, com rendimentos muito mais elevados auferidos por cidadãos noutros países, por outro lado, temos um problema estrutural de mais pessoas a querer comprar casa do que casas disponíveis. Disto resulta que os preços, além de não baixarem, continuam a subir.

Muito se tem falado sobre o assunto, mas vamos lá colocar isto em números, usando os disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística. Até 2008/2009 construía-se quase 200.000 casas novas por ano em Portugal; daí para a frente construiu-se 15.000 a 20.000, ou seja, menos de 10%. Tendo em conta que a população residente tem vindo a aumentar e o número de pessoas por agregado familiar a diminuir, precisamos de mais casas e a realidade é que construímos menos. Pelas minhas contas, deveríamos ter mais ou menos 100.000 casas novas por ano, para estabilizar o mercado.

Como é obvio, quem governou Portugal nos últimos 15 anos sabe disto, mas, como em quase todas as áreas, as medidas que se tomam são quase todas reativas, e não proativas, portanto não se faz o que é necessário.

Devemos olhar para a realidade sem romantismos e fazer o que é preciso. Se não existe mão de obra na construção, há que formar trabalhadores em escolas profissionais. Se a construção está cara, vamos aplicar e industrializar soluções tecnológicas que permitam baixar o custo à construção (por exemplo, algumas técnicas de construção modular). Vamos incentivar a criação de empresas de construção para aumentar a concorrência entre elas, vamos rever a carga fiscal na construção, vamos rever os solos onde se pode construir, vamos agilizar os licenciamentos, entre outras medidas, vamos fazer o que é preciso!

Ao incentivarmos a construção de todas as casas que são necessárias, estamos a criar emprego, a criar riqueza e a desenvolver o país. Todos crescemos. Vamos transformar este problema numa oportunidade!

Espero que o Governo que vier a ser eleito tenha a coragem política para fazer o que é preciso. Não é a torrar o dinheiro dos contribuintes que isto se resolve, é a tomar medidas inteligentes e audazes, dizendo a verdade e o tempo que vai demorar a estabilizar o mercado. O principal erro cometido em todos estes anos foi a inação política, não tomar as medidas preventivas que eram necessárias.

É imprescindível construir mais e que as pessoas tenham salários mais altos.

Vamos todos focarmo-nos mais nas soluções e não nos problemas.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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