“A carteira ou a vida!”, exclama-se no mercado de transferências

Taremi e Rafa são casos urgentes, mas os clubes portugueses estão protegidos para os próximos meses, quando começarem os verdadeiros “saldos” por Kimmich, De Bruyne, Salah, Son ou Dybala.

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Rafa, jogador do Benfica LUSA/MÁRIO CRUZ
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Estamos em Janeiro, o que significa que começa agora mais um período de escolha entre “a carteira ou a vida”, como num qualquer assalto em Hollywood. Desde 1 de Janeiro, com “patrocínio” já antigo de Jean-Marc Bosman, que os clubes têm de decidir se vendem os jogadores que estão em final de contrato, aproveitando a última oportunidade para fazerem dinheiro – escolhendo a carteira – ou se mantêm os atletas até Junho, trocando os euros pelo rendimento desportivo – escolhendo a vida.

E a decisão nem sempre é evidente. A forma de ainda fazerem dinheiro nesta fase é negociarem com clubes que tenham pressa em ter os atletas já no mercado de Inverno, mas mesmo essa pressa dificilmente justificará maquias avultadas – nenhum clube, mesmo que sedento de talento no imediato, vai pagar muito dinheiro por um jogador que pode ter “de borla” no Verão.

É aí que entra o universo das perdas a “custo zero”. O FC Porto já é experiente nesse pelouro, com perdas de craques praticamente ano sim, ano sim – de Brahimi a Herrera, passando por Uribe, Marega, Mbemba ou Marcano. Em 2024 não será diferente.

Ou alguém paga qualquer coisa – e será sempre pouca coisa, como com Jesús Corona – por Taremi ou o iraniano irá embora no Verão. Vale a pena mantê-lo? Em tese, sim – porque os euros de uma transferência imediata dificilmente compensam a perda desportiva.

Na prática, é discutível, na medida em que o jogador tem estado abaixo do seu rendimento habitual e, para adensar o problema, poderá estar um mês longe do Dragão, em caso de sucesso do Irão na Taça da Ásia, entre Janeiro e Fevereiro.

O FC Porto tem ainda os casos de Pepe e Cláudio Ramos – o primeiro deverá renovar, o segundo será um atleta dispensável, até pelo baixo valor de mercado.

Sporting tranquilo

Menos exposto a estas perdas tem estado o Benfica, mas não é imune. Rafa, em final de contrato, decidiu que queria anunciar – sem o fazer de forma clara – a saída do clube em Junho. Parece evidente que o português quer sair, mas também já ficou claro que o Benfica não fará questão de negociar já o jogador, preferindo “espremer-lhe” o rendimento desportivo até ao último dia do contrato.

Na Luz, há ainda os casos de Chiquinho e Di María – o primeiro será “descartável”, agora ou em Junho, enquanto o segundo será sempre para manter até ao Verão.

Já o Sporting não tem, em teoria, especiais preocupações. As renovações de Adán e Coates estão, em tese, nas mãos do clube, assim queira mantê-los. Cenário semelhante será o de Neto, menos relevante no plantel, mas importante no balneário.

Lá fora, as negociações estão abertas para jogadores como Mbappé, Varane, Modric, Kroos, Rabiot, Zielinski, Koke, Martial ou Azpilicueta.

Mais interessantes no plano nacional poderão ser os casos de Dier, Lindelof, André Gomes, Tiago Djaló, Witsel, Hermoso ou Kamada. Entre portugueses, ex-jogadores da Liga portuguesa ou já negociados com clubes portugueses, todos poderão estar na esfera da I Liga.

Um ano pacífico

A chegada a Janeiro estipula também que há jogadores que entram no último ano em que ainda podem render dinheiro.

Na prática, isto quer dizer que os clubes entram na fase em que têm de escolher, primeiro, entre irem mais longe no que oferecem para renovação de vínculos ou aceitarem a fatalidade de perderem os jogadores. Se forem pela segunda, enfrentam uma nova opção dupla: vender mais barato agora ou “espremerem” o jogador até ao último dia – ou seja, Junho de 2025.

Para os clubes portugueses, o ano não vai ser tão duro em negociações apressadas de contratos ou sequer de “ultimatos”. Há jogadores com vínculos a terminarem no Verão de 2025, como Matheus Reis, Namaso, Wendell, Abel Ruiz, Eduardo Quaresma, Essugo ou Rodrigo Ribeiro, mas poucos seriam perdas financeiras ou desportivas fulcrais.

Nos clubes de menor expressão, a urgência de vender agora ou no Verão poderá reduzir o valor de jogadores como Leonardo Lelo, Pedro Malheiro ou Guga.

Lá fora, o cenário é mais divertido. Jogadores como Alphonso Davies, Sané e Kimmich vão animar os próximos meses na Baviera, enquanto nomes como De Bruyne, Salah, Militão, Zaire-Emery, Son, Van Dijk, Chiesa, Alexander-Arnold ou Dybala vão pedir boas maquias um pouco por toda a Europa. Se os clubes recusarem dar-lhes isso, começará a “caça aos saldos”.

Como curiosidade, olhar para 2026 é, para os mais previdentes, antecipar problemas em 2025, quando os jogadores estiverem a poucos meses de terem o “passe na mão”. Nessa medida, o FC Porto, com Fábio Cardoso e Grujic, e o Benfica, com João Mário, ainda podem pensar na vida com tranquilidade.

Já o Sporting, mesmo sem grande urgência, tem contratos para começar a repensar com mais atenção com Edwards, Morita, Paulinho, Trincão e St. Juste, bem como o Sp. Braga com Al Musrati.

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