Cinco dicas para incluir crianças com deficiência nas festas de fim de ano

O que podemos fazer para tornar estas celebrações mais inclusivas? Cuidadores de crianças ou jovens com deficiência expressam cinco desejos que, se realizados, podem tornar as festas mais acolhedoras.

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Da música alta ao familiar que faz comentários desnecessários, são várias as barreiras que os cuidadores de crianças com deficiência sentem nas festas Cottonbro/Pexels

As festas de fim de ano são momentos familiares que nem sempre são inclusivos. Da música alta ao familiar que faz comentários desnecessários, são várias as barreiras que os cuidadores de crianças com deficiência sentem neste tipo de celebração. Muitas vezes as dificuldades resultam do desconhecimento, e não do preconceito e da discriminação.

Como acredito que “o melhor caminho para a inclusão é a informação” – a frase foi-me dita pela Tânia Vargas, criadora de um grupo para famílias atípicas no Facebook , coloquei a seguinte pergunta aos membros dessa comunidade: o que podemos fazer para tornar estas celebrações mais inclusivas? Compilei as respostas recebidas, todas elas devidamente anonimizadas, e sintetizei as mensagens-chave abaixo. Ao todo, são cinco desejos, muitas deles simples de satisfazer, para tornar as festas familiares mais acolhedoras.

Não comparar crianças

Todas as crianças possuem características diferentes. Aquelas que não têm um desenvolvimento típico poderão ter diferenças mais visíveis. “Seja num jantar, seja em qualquer outro [evento], as comparações entre crianças irritam”, desabafa uma mãe.

Reduzir estímulos sensoriais

Controlar o nível de poluição sonora ou visual numa festa pode constituir um desafio. Mas há estímulos sensoriais que podemos controlar — é o caso do volume dos aparelhos de música ou televisão, por exemplo, ou mesmo o excesso das luzes e da decoração. O mesmo vale para as solicitações sociais: não forçar interacções, beijos ou abraços.

Não sendo possível, uma mãe atípica (que é, ela mesma, autista) deixa este pedido: “Não se chateiem se eu me sentir sobrecarregada e desaparecer, por artes mágicas, porque fui para o quarto.”

Outra mãe acrescenta: “Não fiquem ofendidos porque ficámos pouco tempo.” Demasiados estímulos e solicitações sociais podem desorganizar a criança e provocar crises — e, por isso, ninguém melhor que os cuidadores para decidirem, sem pressões, qual é a hora certa de ir para casa.

Cada um come o que quer (ou pode)

Diferentes cuidadores mencionaram a importância de as crianças não serem obrigadas a ficar sentadas à mesa ou a comerem apenas para satisfazer a expectativa alheia. Muitas crianças com deficiência apresentam selectividade alimentar — não é “frescura”, é mesmo uma dificuldade sensorial que leva a rejeitar alimentos com determinadas texturas, cores ou cheiros.

Não encorajar doces e respeitar as orientações dos cuidadores também são boas práticas. “Deixamos nestas alturas comer doces porque estamos na casa de outros, e não queremos ficar mal, mas depois há sempre algum tipo de situação que descamba, e há olhares, reprimendas e temos que vir embora mais cedo. Esta tem sido a barreira”, conta uma encarregada de educação.

Não esquecer também que muitas crianças apresentam alergias e intolerâncias alimentares. A Sílvia Marques, autora da página O Alergias, aproveitou a ocasião para partilhar os conselhos para receber crianças com alergia: está tudo explicado aqui. Foi elaborado a pensar no Natal, mas muitas dicas valem para o Ano Novo.

Não ter medo da diferença

Um pai desejou que os familiares “não tivessem medo de se juntar, que não fugissem ou dessem desculpas”. E desabafa: “Uma criança com necessidades específicas requer paciência, carinho, respeito e amor. Hoje, quando se fala em inclusão, vem logo à mente a mobilidade reduzida – mas, no entanto, há milhares de deficiências, e a palavra deficiência é o rastilho que faz com que muitos nos virem costas.”

Uma outra mãe, com uma filha que tem uma doença rara, progressiva e sem cura, partilhou um relato que me deixou com um nó na garganta. “Por vezes não somos nós que não queremos ir, são mesmo as pessoas que não nos convidam. E não me refiro só às crianças, também há jovens adultos com necessidades diferentes e, por vezes, é a própria família que os afastam”, escreveu a encarregada de educação. Por isso, vale sempre a pena convidar, mesmo presumindo que o convite vai ser declinado.

Aceitar comportamentos atípicos

Crianças com deficiências podem produzir movimentos involuntários ou ter comportamentos que as ajudam a se sentirem bem ou reguladas. É o caso do abanar das mãos ou de vocalizações repetitivas. São expressões físicas que devem ser encaradas com naturalidade.

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