Berlim, a alforreca sedutora saída da La Casa de Papel

A Netflix termina o ano regressando a um fenómeno seguro: um spin off da série dos assaltantes mais conhecidos de Espanha, centrada no passado da sua cáustica e perigosa personagem Berlim.

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Pedro Alonso em Berlim TAMARA ARRANZ/NETFLIX
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Por vezes a palavra “fenómeno” é usada de forma indiscriminada na cultura popular. Mas La Casa de Papel foi um fenómeno desde a sua estreia, no Natal de 2017, e até hoje três das suas cinco temporadas permanecem entre as dez séries em língua não inglesa mais vistas da Netflix. Era por isso inevitável que originasse um spin off neste momento de transição do modelo de negócio do streaming em que arriscar não é tão fácil quanto apostar num nome conhecido. E seria Berlim, a cáustica e perigosa personagem que morre logo no início da série dos assaltantes de macacão vermelho, o candidato óbvio a continuar a furar o subsolo desta mina de ouro da ficção espanhola? “Ele é do pior”, diz o actor Pedro Alonso.

É assim que descreve ao PÚBLICO a sua entrada no plateau da nova série: “Parecia a NASA”, esbugalha-se. “Entrei em modo ‘Ai mãezinha’.” Há actores que encerram em si o segredo do sucesso das suas personagens. Pedro Alonso só podia ser Berlim, ou será ao contrário? Galego, a sua voz grave e a secura do corpo emprestam-se ao criminoso que os espectadores adoraram temer nas primeiras levas de La Casa de Papel. Naquele momento em que a política de austeridade europeia ainda fazia sentir que era a roubar a Casa da Moeda espanhola que o espectador estava bem, Berlim apresentava-se como um "perigo", como “alguém que diz e faz barbaridades, uma figura muito ambígua”, vai explicando Alonso aos jornalistas numa videochamada. “Mas ao mesmo tempo tem uma sensibilidade muito intensa.”

É pouco, talvez, para explicar o fascínio por este ladrão que nem sequer é um Robin dos Bosques, mas Berlim dá-lhe uma nova camada de humanidade. “Não tenho qualquer interesse em redimir a personagem. Depois de o personagem ter morrido [na série original], e quando estávamos prestes a rodar cenas do seu passado [na terceira temporada], falei com [o autor de La Casa de Papel] Álex Pina sobre o risco de o tornarmos mais sentimental”, prossegue o actor, sempre de sorriso no rosto. “Ele é uma máquina de fazer sentir, de viajar por zonas que não nos são permitidas na vida normal. E tem um sentido de humor muito particular. É um terrorista emocional, uma máquina manipuladora”, esmiúça, tornando ainda mais inesperado o caminho que a nova série com o seu nome seguiu.

Berlim, que se estreia esta sexta-feira na Netflix, é à mesma a história de um assalto, mas também é uma comédia romântica, e uma comédia por si só. A produtora Vancouver e a empresa que passa os cheques, a Netflix, orgulham-se de enumerar que para rodar estes oito episódios passados entre Paris e várias localidades espanholas mobilizaram 146 locais de filmagem, 287 cenários, 65 actores e actrizes e mais de 1400 figurantes. O processo levou nove meses.

Tal como Alonso, mais duas actrizes de La Casa de Papel, Itziar Ituño e Najwa Nimri, estão de regresso. Alonso discutiu com Álex Pina que caminho seguiriam com este spin off, mas quando chegou ao plateau, diz ao PÚBLICO, toda a gente estava “muito intensa a falar da fórmula como se fosse a pedra filosofal”, o que o deixou preocupado. Temia que se não houvesse “flow”, assim mesmo em inglês, se perdesse o sentido cómico, “a magia”. Tentou então baixar expectativas e introduzir um elemento de tentativa-e-erro.

“Álex é de tentar a quente. No primeiro mês e meio senti o vento na cara”, diz sobre a velocidade a que tudo acontecia naquela NASA audiovisual espanhola. “Íamos para um lugar novo mas não sabíamos bem para onde. Mas tinha muita confiança e experimentei de tudo. Cheguei a fazer sequências a dançar. A dançar”, enfatiza. Acredita que a série “tem uma configuração própria”, apesar de “a força magnética de La Casa de Papel ser muito grande”. É uma prequela, que remonta a um tempo desta saga em que o nome de código Berlim ainda nem existe: ele é Andrés de Fonollosa, o famoso ladrão de centenas de diamantes em Paris. Foi como criar um “personagem novo”, explica o actor.

Nas notas de produção, Álex Pina, que criou a série com Esther Martinez Lobato, também membro da equipa de La Casa de Papel, descreve a versão inicial deste spin off como… uma alforreca. Matéria informe, escorregadia, o que condiz com a ideia de que foi preciso testar vários tons, entre a acção e a comédia, até encontrar a nova candidata a série mais vista da semana, do mês, quem sabe da lista global da Netflix. Pedro Alonso, esse, continua feliz da vida, a viver a personagem que lhe deu reconhecimento planetário. Ri-se em particular com um dos elementos de Berlim. “Não sei o que pensará a comédia romântica do que fizemos com ela, mas divertimo-nos muito a comer croissants e a fazer amor em Paris.”

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