Morte de mãe e filho em Coimbra: envenenamento é cenário plausível

Embora todas as hipóteses se mantenham em aberto, patologia cardíaca que motivou morte parece afastar intoxicação alimentar. Material biológico remetido para análise num laboratório estrangeiro.

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Família foi toda internada nos Hospitais Universitários de Coimbra Matilde Fieschi
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As autoridades policiais e sanitárias estão à procura de perceber qual a substância química que pode ter estado na origem da morte de uma mãe e do seu filho, de Coimbra, na sequência de um jantar familiar, que ocorreu no início deste mês. A criança morreu há duas semanas e a mulher, de 48 anos, esta segunda-feira, dia de Natal. Embora todas as hipóteses continuem em aberto, a possibilidade de ambos terem sucumbido a uma intoxicação alimentar acidental, como se pensou inicialmente que tivesse sucedido, não é neste momento a que surge como mais plausível.

Amostras de material biológico dos doentes – além das duas vítimas mortais, também o pai e outro filho chegaram a ser internados no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra – foram remetidas para análise num laboratório estrangeiro. A confirmar-se que foi uma substância química a provocar os dois óbitos, isto é, que se tratou de um envenenamento, será preciso apurar se, de facto, esta substância foi ingerida durante o jantar da família ou noutras circunstâncias. Também será necessário esclarecer se esta foi administrada propositadamente por alguém ou se aconteceu por engano.

A Polícia Judiciária, que foi encarregada pelo Ministério Público de investigar o caso, nunca conseguiu interrogar a mãe, uma engenheira química, uma vez que quando esta entrou no hospital de Coimbra já se encontrava num estado de saúde que não permitia fazê-lo. A mulher acabou por falecer na passada segunda-feira. Estava internada, sempre com prognóstico clínico muito reservado”, segundo as autoridades de saúde, desde o início do mês. O filho mais novo, de 7 anos, morreu logo a 11 de Dezembro, 48 horas após a refeição que se suspeita ter sido fatídica.

O facto de as duas mortes terem sido provocadas por complicações cardíacas – uma infecção chamada “miocardite” – é um dos motivos pelos quais o cenário de intoxicação alimentar se mostra pouco adequado para explicar o sucedido. Trata-se de uma patologia provocada por toxinas e medicamentos que afectam o coração.

A mulher estava à espera de um transplante de coração quando sucumbiu, não tendo chegado a estar internada no serviço de gastroenterologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, como costuma suceder nos casos de intoxicação alimentar.

As intoxicações alimentares são bastante comuns entre os problemas de saúde associados à comida. Apesar de poder ter contornos graves, podendo até pôr a vida em risco, as pessoas com intoxicações acabam por ser, na maioria dos casos, assintomáticas ou ter queixas mais leves, como desconforto intestinal, diarreias ou desidratação – sintomas que melhoram geralmente após uma semana.

Almôndegas suspeitas

A engenheira química, o marido e os dois filhos foram todos hospitalizados a 9 de Dezembro, tendo o pai, de 44 anos, e uma das crianças, de 12 anos, recebido alta hospitalar entretanto. O avô dos menores contou que a família se sentiu mal depois de ingerir carne adquirida num talho local. “A minha nora comprou a carne no supermercado e picaram a carne lá. Depois, ela cozinhou e fez as almôndegas em casa”, referiu, na altura, à CNN. “Os médicos dizem que é um bicho que ataca o coração.” A refeição terá incluído sopa.

Na noite em que os quatro elementos da família comeram as almôndegas, um colega da criança de sete anos foi dormir em casa deles. No entanto, não sofreu qualquer problema de saúde. O menor tinha jantado antes.

Um comunicado da Administração Regional de Saúde do Centro explicou que foram feitas visitas ao domicílio em questão pela Unidade de Saúde Pública, com recolha de amostras alimentares (refeição suspeita e outros produtos consumidos em contexto familiar) e biológicas”, que foram encaminhadas para os laboratórios de referência para pesquisa de agentes químicos e biológicos. Além disso, foram colhidas amostras biológicas dos doentes em ambiente hospitalar”.

A investigação encontra-se em segredo de justiça, aguardando-se ainda os resultados da autópsia da engenheira química. A criança de 7 anos já foi autopsiada, mas, de acordo com o Correio da Manhã, o exame foi inconclusivo quanto às causas da morte, confirmando apenas a miocardite que levou à sua morte.

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