Reinvenção constante: o que podemos esperar para o mercado do livro em 2024

O negócio do livro hoje é, sobretudo, um empreendimento tecnológico. Da escrita à publicação, da distribuição à conversão multiformato, toda a cadeia depende de uma sofisticação técnica singular.

O livro é a base de qualquer sociedade. Ao compactar histórias da maneira mais portátil, partilhável e simples possível, garantimos uma velocidade de transmissão de conhecimento sem precedentes na história humana.

Tal continua ser verdade nos nossos tempos, caracterizados por informações rápidas vestidas de entretenimento e transmitidas em pílulas de conteúdo nas redes sociais. Na verdade, à medida que as sociedades se conectaram mais via Internet, a procura pelo livro e pelas histórias que ele carrega cresceu ainda mais.

O mercado editorial português, por exemplo, cresceu 9,4% em 2022 em relação a 2021. No Brasil, o primeiro trimestre de 2023, registou um crescimento de 4,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. Estes números otimistas refletem uma tendência global.

No entanto, isso não significa que a cadeia editorial permaneça estática. Uma parte significativa desse crescimento deve-se à evolução notável do processo de mercadologização do livro – um processo que, em 2024, deverá gerar verdadeiras revoluções em pelo menos três frentes:

Democratização absoluta da publicação. A autopublicação não é exatamente uma novidade, mas tornou-se, recentemente, dominante no cenário editorial. Isso deve-se ao aparecimento de plataformas de autopublicação gratuitas para os autores, que trabalham tanto com livros impressos (utilizando tecnologia de impressão de acordo com a procura, livro a livro, a custos e prazos competitivos) como com livros em formato digital. Além disso, as redes de distribuição por livrarias e marketplaces são tão amplas que um autor independente consegue atingir leitores em praticamente qualquer canto do mundo, com um alcance maior do que o de qualquer editora tradicional.

O livro como tecnologia. A Inteligência Artificial já é utilizada, de forma mais restrita, há anos. No entanto, a partir do ChatGPT, uma grande quantidade de experiências têm sido realizadas no mundo do livro – muitas das quais devem transformar toda a cadeia a partir de 2024. Já existem sistemas que auxiliam o processo de tradução de maneira tão singular que obras que levariam meses para serem traduzidas para outro idioma agora são feitas em dias. Isso significa um alcance mais global para autores e histórias mais plurais para leitores fluentes em praticamente qualquer idioma. Mas a tradução é apenas um dos benefícios. Há muitos outros, desde a narração automatizada de histórias – ampliando decisivamente o acervo de audiolivros disponíveis ao público – até um novo formato, o ChatBook, que, ao unir o ChatGPT ao livro, permite que os leitores interajam e conversem, em tempo real, com cada personagem.

Audiolivros como formato do momento. Em 2022, o mercado de audiolivros atingiu 4,9 milhões de euros, um número impressionante por si só, que se torna ainda mais notável com a previsão quase inacreditável de crescimento de 26% ao ano, de 2023 até 2028. Isso faz sentido, pois é um formato que permite o consumo de histórias em momentos diferentes dos considerados ideais para a leitura, como durante o trânsito ou a prática desportiva. Os audiolivros tinham, até recentemente, um grande problema: um catálogo relativamente pequeno, uma vez que a narração de cada livro costumava ser cara e demorada. No entanto, isso começou a mudar com a tecnologia de narração automatizada, que inundou o mercado de títulos e alterou as perspectivas. Somando isso à chegada mais agressiva do Spotify e teremos um 2024 com muito mais livros a serem ouvidos do que se imaginava até há pouco tempo.

Isto indica que o livro continua a ser o formato base da história, a pedra fundamental da nossa sociedade e cultura. No entanto, isso não significa que, apesar de ser antigo, as suas características e as do seu mercado permaneçam congeladas no tempo. O negócio do livro hoje é, sobretudo, um empreendimento tecnológico. Da escrita à publicação, da distribuição à conversão multiformato, toda a sua cadeia carrega e depende de uma sofisticação técnica singular.

Para escritores, leitores e todos os agentes da cadeia editorial que têm abraçado as novas possibilidades, 2024 pode ser o ano mais marcante das suas vidas.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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