Ninguém vos disse que a vida ia acabar assim

O fim do mundo é uma ideia tão agradável que não conseguimos parar de fazer filmes sobre o assunto. Como a nossa infra-estrutura legível de desejos, ansiedades e pavores continua a ser, em parte, formatada pelos media que consumimos, o ciclo vai-se auto-alimentando como uma máquina de movimento perpétuo: quantos mais fins do mundo vemos, mais fins do mundo temos vontade de ver, e menos fins de mundo eles parecem. Cada apocalipse audiovisual, por mais distópico que queira ser, é agora tão fofinho como os “desastres aconchegantes” baptizados por Brian Aldiss: com protagonistas passivos e “normais”, não heróis a salvar a galáxia, mas pessoas que só querem paz e sossego numa nova paisagem apelativamente sublotada. As personagens destas histórias são cada vez menos portefólios de aptidões para o caos — engenheiros mecânicos, filósofos políticos, violadores, vítimas etc. — e mais formas de olhar. As características dessas formas de olhar – distantes, passivas, melancólicas – fornecem a todas as histórias a mesma aura de retrospecção tranquila, por mais cidades espatifadas que o realizador insista em mostrar.

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