Liz Cheney admite concorrer à Casa Branca, mas só se isso prejudicar Trump

Antiga congressista do Partido Republicano considera que as divisões no eleitorado e a rejeição de Trump por uma maioria dos eleitores abre portas a uma corrida fora dos dois grandes partidos.

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Cheney foi vice-presidente da comissão que investigou a invasão do Capitólio Reuters/JONATHAN ERNST
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A antiga congressista norte-americana Liz Cheney, uma das maiores críticas de Donald Trump no Partido Republicano, admite concorrer à eleição presidencial de 2024 como independente ou como candidata de um terceiro partido, se essa for a melhor opção para travar a reeleição do ex-Presidente dos Estados Unidos.

Em declarações ao Washington Post por ocasião do lançamento de um livro sobre a invasão do Capitólio, Cheney diz que até há poucos anos não se imaginaria a estudar a hipótese de uma candidatura fora do Partido Republicano — o partido onde o seu pai, Dick Cheney, assumiu um papel de grande influência na primeira década do século XXI como vice-presidente dos EUA, e onde ela própria chegou a prosperar politicamente até à eleição presidencial de 2020.

"Agora, estou convencida de que a democracia está em risco aqui nos EUA como resultado do controlo de Trump sobre o Partido Republicano, e também a nível internacional", afirma Cheney, que foi a vice-presidente — contra a vontade do Partido Republicano — da comissão da Câmara dos Representantes que investigou a invasão do Capitólio.

"Enfrentamos ameaças que podem pôr em causa a existência dos Estados Unidos e precisamos de um candidato que seja capaz de lidar com esse desafio", diz a antiga congressista republicana, que promete tomar uma decisão final sobre uma eventual candidatura à Casa Branca "nos primeiros meses de 2024".

Além dos dois grandes favoritos à nomeação pelos dois maiores partidos — o actual Presidente dos EUA, Joe Biden, e Trump —, estão na corrida três outros candidatos com alguma notoriedade junto do eleitorado dos EUA: Robert F. Kennedy Jr., um activista anti-vacinas que começou por concorrer no Partido Democrata e que é agora um candidato independente; Cornel West, um intelectual e activista político de esquerda, também independente; e Jill Stein, uma médica que concorre pela terceira vez à nomeação como candidata do Partido Verde.

A um ano da eleição presidencial, os comentadores políticos nos EUA dividem-se quanto às possíveis consequências das candidaturas de Kennedy, West e Stein para os resultados de Biden e de Trump, com alguns especialistas a defenderem que o actual Presidente será sempre o mais prejudicado pelo surgimento de várias candidaturas.

Segundo esta tese, Trump beneficia de uma base eleitoral sólida e suficientemente grande para se manter competitivo em qualquer cenário de divisão, o que limita o número de deserções dos seus apoiantes para outras candidaturas; pelo contrário, uma parte do eleitorado que se recusa a votar em Trump, mas que também não está satisfeita com o mandato de Biden até agora, poderá ser mais sensível a apoiar um terceiro candidato — e, com isso, a tirar votos a Biden numa mão cheia de estados que vão ser cruciais para o resultado final.

Ao Washington Post, Cheney diz que está ciente desse risco e admite pôr de lado a hipótese de uma candidatura à Casa Branca se tiver sinais de que isso irá beneficiar Trump.

"Isto é mais importante do que a política partidária", diz a antiga congressista republicana no seu novo livro, "Oath and Honor: A Memoir and a Warning" ("Juramento e Honra: uma memória e um aviso", numa tradução livre). "Cada um de nós — republicano, democrata, independente — tem de trabalhar e de votar para garantir que Donald Trump e todos os seus facilitadores sejam derrotados. Esta é a grande causa do nosso tempo."

Se Cheney decidir concorrer à Casa Branca numa fase posterior às eleições primárias (que vão decorrer, no Partido Democrata e no Partido Republicano, entre Janeiro e Junho de 2024), terá muitas dificuldades para ver o seu nome nos boletins de voto de todos os estados norte-americanos, como acontece com qualquer candidato independente; se concorrer em nome de uma formação política — como, por exemplo, o No Labels, que se apresenta como um movimento centrista e bipartidário —, poderá beneficiar de estruturas existentes em vários estados do país, mas terá sempre muitas dificuldades para disputar a vitória com os candidatos dos dois grandes partidos.

Ainda assim, Cheney acredita que a história de insucesso das candidaturas independentes pode ser diferente no ciclo eleitoral de 2024, devido à "ameaça única" representada pela hipótese da reeleição de Trump.

"A maioria dos eleitores neste país é demasiadamente responsável para confiar a autoridade da Casa Branca a Donald Trump", diz Cheney. "Uma das tarefas mais importantes da campanha de 2024 vai ser comunicar com essas pessoas e voltar a pôr todos os factos à frente delas."

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