Raven foi chamada ao gabinete do director da escola para um ralhete. E acabou a ser adoptada

O director de uma escola secundária do Kentucky, nos Estados Unidos, ficou impressionado com uma aluna que tinha recebido uma suspensão. Agora, legalmente, são pai e filha.

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Jason, Raven e Marybeth Smith DR/Foto de família
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Raven tinha 11 anos quando foi suspensa por ter atirado um iogurte durante o almoço na cantina da escola. Não era o primeiro comportamento inapropriado. Aliás, a jovem tinha um longo historial de comportamentos desadequados. Nesse dia, recebeu uma nota de suspensão e foi enviada ao gabinete do director da escola, onde esperava ouvir um ralhete. Mas a sua atitude desarmou o professor que percebeu que a resposta necessária não era qualquer discurso.

Jason Smith saiu do seu gabinete e viu a rapariga do 6.º ano. A primeira impressão, confessa hoje, era de estar diante de uma criança “inocente. Ainda assim, perguntou-lhe: “O que aconteceu?”. E a jovem explicou que “tinha atirado uma taça de iogurte ao almoço e que tinha sido suspensa”. Desafiou-a, então, a imaginar se faria tal coisa num restaurante, E Raven, que tem agora 20 anos, respondeu, de forma sincera: não fazia ideia; nunca tinha ido a nenhum restaurante.

Smith não estava à espera daquela resposta e achou que podia tentar saber mais sobre a aluna. Desde muito cedo que a vida de Raven era de lar de acolhimento em lar de acolhimento, e desconhecia o que era ter alguém a importar-se com ela. “Naquela altura, senti que ela só precisava de uma mão, precisava de ajuda”, disse Smith ao Good Morning America. “Reconheci que ela precisava de algo [que corresse] a seu favor, talvez por uma vez, que não tivesse sido a seu favor no passado, mas ela só precisava de alguém para a ajudar.”

Não tardou para que a ideia de ser esse alguém começasse a germinar. Nesse dia, quando chegou a casa, conversou com a mulher, Marybeth, sobre a aluna. Afinal, o casal, que não tem filhos biológicos por causa de um quadro de infertilidade, já tinha sido família de acolhimento de algumas crianças. Ainda que, até então, não tivessem conseguido adoptar nenhuma delas. Mas Marybeth acreditou que havia algo de especial em Raven.

Jason e Marybeth decidiram, então, avançar. Em 2015, quando conversaram com a assistente social de Raven, perceberam que a adopção era possível. E a adolescente decidiu ver para crer, ainda que não tenha facilitado a vida ao casal. “Eu dei-lhes uma série de problemas para ver o que aconteceria, eu de certa forma testei se aquilo era real ou não; para ver se eles ficavam comigo, independentemente do que acontecesse. Porque eles disseram-me isso, mas eu já tinha ouvido o mesmo muitas vezes antes.”

O início foi o mais difícil para Raven que via Jason Smith como “o mau da fita”. Afinal, na escola passava o tempo a meter-se em sarilhos e era ele que a castigava. Mas admite que foi muito bem recebida; melhor do que em qualquer outra casa por onde passou. E o tempo tratou de fazer com que acreditasse que eles estavam mesmo decididos a formar uma família com ela. Em Outubro de 2017, Jason e Marybeth adoptaram Raven.

Entretanto, a vida da jovem mudou bastante: passou de estar entre os piores alunos para se aplicar na escola, estando actualmente na Universidade de Kentucky a estudar para ser assistente social, na expectativa de poder a vir a ajudar crianças e jovens que entram no sistema, como foi o seu caso. “Ela superou muitos dos desafios”, sublinhou Jason Smith, citado pela CNN: “Estamos muito orgulhosos dela.”

E, volvidos seis anos da adopção, Marybeth não tem dúvidas de que foi a escolha certa, incentivando outros a seguirem o seu exemplo: “Se estão por aí e estão a pensar em acolher uma criança, não tenham medo de acolher um adolescente. Eu não poderia amá-la mais se a tivesse dado à luz.”

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